A vida de Betina e Bruno não
tem sossego. Após os últimos acontecimentos na Colômbia, que quase mataram o
casal (pela enésima vez), eles só querem descansar um pouco e sair dos
holofotes.
A moça ainda está assimilando o fato de ter sido salva por João, o
qual fez as vezes de “príncipe encantado em seu cavalo branco” para salvá-la do
cativeiro.
No entanto, mesmo sendo
eternamente grata por isso, o fato é guardado a sete chaves, ainda mais agora
que Betina se acertou com o marido.
De mudança para Londres, a vida deles
promete ser de muita paz e tranquilidade, cada vez mais longe da mídia.
Por outro lado, João está se
entendendo com a esposa aqui no Brasil. Ambos estão seguindo com suas vidas,
longe de Betina, considerada quase um “fantasma do passado” que não merece ser
mencionado.
No entanto, a paz que tanto
almejavam tem data marcada para acabar. Isso porque uma matéria especial de
“aniversário” do resgate da moça vem à tona, revelando os segredos mais
obscuros sobre o evento.
Segredos esses que botam em cheque a credibilidade da
delegada Mari e do próprio João, além da estabilidade emocional que buscavam reconstruir
em seus respectivos relacionamentos.
Agora, eles precisam ser fortes, não
apenas para lidar com as consequências entre si, mas também perante a mídia,
que não perdoa e faz tudo parecer um episódio de ‘Casos de Família’.
Além disso, Bruno está
passando por problemas sérios de saúde, em decorrência do ataque que sofreu na
‘Fazenda Ponte da Boa Esperança’, em Alagoas.
No entanto, quando ele entra na
fila e aguarda um transplante de fígado, Betina começa a perceber coisas
estranhas em relação à forma como o órgão teria sido doado.
A moça, que havia prometido a
si mesma não entrar mais em jornalismo investigativo, não consegue resistir ao
faro de detetive e começa a desvendar os mistérios por trás de tudo isso.
Entretanto,
o que parecia ser apenas um caso isolado pode revelar um lado podre da
sociedade e muito perigoso, o qual pode estar mais perto do que possamos
imaginar.
“[...] seu desinteresse por
resolver de uma vez por todas a situação apenas postergava um momento que, mais
cedo ou mais tarde, teria de enfrentar.”
E lá vamos nós ao desfecho da
saga de dona Betina Zetser. A mocinha mal saiu de uma enrascada e já se meteu
em outra ainda pior.
Depois do trauma de ter sido sequestrada e quase morta por
Hermano na Colômbia, ela estava louca pelo seu “final feliz” com Bruno.
O casal 20 rumou para
Londres, a fim de viver uma rotina mais tranquila e longe do perigo. No
entanto, as férias dos sonhos têm seu fim pouco tempo depois, porque um
repórter inexperiente, porém querendo fama, resolve mexer nesse passado,
exatamente para descobrir o motivo deles terem saído do radar.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
E o que parecia ser uma
espécie de homenagem à heroína do jornalismo investigativo vira “Casos de
Família”, quando o rapaz revela que João a salvou do cativeiro no lugar de
Mari.
O fato bota em cheque a credibilidade da delegada, a qual está furiosa
com o ocorrido, além de questionar o que tanto João foi fazer na Colômbia, se é
médico atuante no Brasil e não tinha nada para fazer no país vizinho.
O motivo é um tanto óbvio,
especialmente para Bruno (marido de Betina) e Fátima (esposa de João). Assim,
não apenas a ética profissional, mas também o clima de paz dos respectivos
casais é abalado, algo que pode ser complicado de restaurar.
Tentando apagar vários
incêndios de uma única vez, Betina acaba cercada de problemas que parecem sem
solução. Para minha surpresa, achei a forma como ela lidou com o assunto mais
madura do que esperava.
Percebi o quanto a
protagonista cresceu e apareceu neste terceiro volume. Bruno está visivelmente
abalado pela forma como descobriu o segredo guardado a sete chaves da esposa.
No entanto, embora entenda seus motivos para confrontar a mulher, a forma como
faz isso é um tanto incômoda e até imatura.
Enquanto isso no Brasil, João
enfrenta uma esposa furiosa, além de encarar a revolta de Mari, que está
passando por investigação em relação à sua integridade profissional, por ter
permitido que um civil entrasse em sua operação policial e “salvasse o dia”.
“Seu corpo era quente e
acolhedor e, naquele momento, ela só queria que os ponteiros do relógio
parassem de girar, para que pudesse curtir mais tempo aquele abraço.”
Além dos fatos circulando na
mídia, que já causam problemas por si só, todos os envolvidos precisam lidar
com as questões emocionais que levaram às suas atitudes no passado.
Essa foi
uma parte bastante dolorosa de se ler e minha vontade era dar um abraço em cada
um até se acalmarem.
Betina acaba voltando ao
Brasil para tentar apagar os incêndios na fonte e, quem sabe, trazer o clima de
paz para todos novamente.
Aqui, a moça acaba voltando ao seu antigo emprego e
faz seu nome como jornalista esportiva, o que a faz rodar o mundo novamente.
Voltar às suas raízes acaba
ajudando a fazer as pazes com Bruno, que se muda para o Brasil, a fim de
restaurar seu casamento, mesmo com a presença mais visível de João.
Apesar de
os três estarem mais velhos e mais maduros, certos hábitos nunca mudam e o
famigerado triângulo amoroso permanece em boa parte do livro.
Ainda não gosto desse clichê,
mas felizmente a forma como resolveram os espinhos do passado me surpreendeu
positivamente.
Isso mostra que não apenas Betina, mas Bruno e João também foram
capazes de crescer e lidar com seus problemas de uma forma mais adulta.
O que é de grande importância
nesse momento, pois o coitado do Bruno mal se entende com a esposa e fica muito
doente.
Logo descobrem que seus sintomas são consequências do ataque que sofreu
de Hermano, ainda em Alagoas.
A ferida cicatrizou, porém, as sequelas foram tão
devastadoras, que o jornalista só pode tratar através de um transplante de
fígado.
Apesar de entrar na fila, sua
espera não é longa, visto que o rapaz dá sorte e logo aparece um doador compatível.
Após a cirurgia bem sucedida, ele agora se recupera ao lado da esposa e está
cheio de esperanças de um futuro melhor.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Betina, por sua vez, é convidada pela
viúva do doador, a fim de manter contato, afinal, seus maridos eram velhos
conhecidos e foi uma grande coincidência estarem ligados dessa forma.
No entanto, ao conversar com
a senhora, a jornalista percebe que não foi um ato do destino que os uniu.
Com
seu faro investigativo em alerta, a moça passa a desconfiar da causa da morte
do doador, o que não vai sair de sua cabeça até que comece a pesquisar mais a
fundo.
“Nos
tempos de redes sociais, encontrar alguém é só questão de vontade.”
Para isso, acaba contando com
a ajuda de Rubens, o jornalista inexperiente e responsável por toda a sua confusão
anos atrás na mídia.
Porém, o rapaz se mostrou disposto a aprender com seus
erros e agora são amigos. Betina vê nele um grande potencial de parceria na
investigação, enquanto ela cuida de Bruno no hospital.
O que poderia ser apenas
coisa da cabeça da moça se mostra algo real e assustador, envolvendo não apenas
o órgão que Bruno recebeu, mas também um grande esquema assustador no país
todo.
Seu dilema entre manter a promessa de não trabalhar mais como repórter e
levar a verdade para o povo é gritante.
Some-se a isso o dilema de
Bruno, que não para de pensar nas circunstâncias em que seu fígado novo chegou ao
hospital.
Contudo, se não fosse por ele, o rapaz não estaria vivo para pensar
nisso. Apesar do clima triste, eu gostei que a autora soube lidar muito bem com
essas questões, deixando os personagens mais humanos.
Dessa forma, pude me
solidarizar com as questões que enfrentavam e, ainda assim, ler a trama bem
rápido.
Além disso, percebi que o clima de suspense, que já brilhava mais em ‘Vestígios’, se manteve aqui. Porém ele ficou bem mais equilibrado com as
questões dos personagens principais. Portanto, temos o mistério central, além
do romance e outros dramas familiares, muitos dos quais envolvem assuntos
pesados, inclusive.
Esse equilíbrio, junto com a
escrita fluida da autora, mantiveram a leitura prazerosa. Me senti dentro do
livro, investigando junto com Betina e Rubens cada detalhe.
Além disso, devo
dizer que o rapaz foi um grande acerto da autora. A relação dessa dupla pode
ter começado com o pé esquerdo, mas se mostrou bastante promissora ao longo da
trama.
Rubens é um jovem negro e
pobre, que sabe muito bem o que é ter que lutar todos os dias para se mostrar
digno para estar nos lugares.
Seu trabalho junto com Betina é uma grande
oportunidade e ele aproveita da melhor forma possível. No entanto, não deixa de
ser humano, nem amigo da moça, o que lhe conferiu alguns pontinhos.
Já Mari, que estava um tanto
apagada no volume anterior, aqui mal entra em cena. Em parte, por conta das
consequências da famigerada reportagem, o que a desacreditou junto aos seus
superiores.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Entretanto, se ela queria tanto mostrar o seu valor, acho que poderia
ter brilhado um pouco mais, em vez de ter sido mera coadjuvante, que por muito
pouco, não ficou naquela de “entrou muda e saiu calada”.
O desfecho traz pontas que
estavam soltas do volume anterior, além de amarrar as novas que foram criadas
ao longo do terceiro.
Com muitas cenas de “tiro, porrada e bomba”, a Luciana
soube fechar o arco de acontecimentos com maestria, mas não sem antes me deixar
agoniada e até com medo do escuro.
Porém, foi crível até a
página dois. Não gostei do desfecho de alguns personagens, os quais pareceram
sair de cena de forma muito conveniente para resolverem as certas coisas. Ainda,
o destino de Betina fica em aberto, o que dá margem para o leitor criar suas
teorias.
Apesar de não me abalar muito
com finais desse tipo, aqui eu gostaria de ter mais uma decisão da moça, em vez
de eu ter que pensar por ela. No entanto, não atrapalhou a experiência de
leitura como um todo, que foi muito boa, por sinal.
Falando sobre o livro em si,
li a obra em versão digital. Então, posso falar que a diagramação está muito
bem feita, assim como a revisão.
Além disso, a narrativa é totalmente em
terceira pessoa, o que foi melhor para estar a par dos acontecimentos de um
ângulo mais amplo.
Só não gostei muito da capa.
Para falar a verdade, achei que não tinha muito a ver com o tema que o livro
traz.
Olhando a versão anterior, que acredito ainda estar à venda, era mais
condizente com a trama e era até mais bonita que a atual.
Em resumo, a Saga de Betina
Zetser foi uma experiência muito boa e teve um desfecho digno, especialmente se
tratando de uma obra nacional.
Nunca tinha lido livros nacionais nesse gênero e
posso dizer que, apesar das ressalvas, a Luciana ganhou uma fã.
Não conhecia. É muito bom descobrir autores novos, principalmente nacionais!
ResponderExcluirSim, é sempre bom conhecer novos nomes da literatura nacional mesmo, =). Que bom que gostou!
ExcluirOi, Hanna. Como vai? Nunca li nenhum livro da autora, mas tenho enorme curiosidade de conhecer sua escrita. Que bom que gostou, apesar das ressalvas. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Ah, super indico então, Luciano. Acho que vai gostar bastante das obras dela, =).
ExcluirOlá, Hanna.
ResponderExcluirEsse povo já sabe que segredos nunca ficam escondidos e mesmo assim não contam a verdade hehe. Acho que não leria ele por conta desse triângulo, mas fiquei curiosa com o caso desse livro em especifico da coisa dos órgãos. Acho que livros nacionais do gênero só lembro de ter lido os da Claudia Lemes.
Prefácio
Não é, Sil? hahahah. Olha, os livros da Luciana sempre tem essa pegada mais específica, que gosto bastante. E cada livro tem uma situação distinta, o que faz os livros dela ter um mega diferencial. Esses da Claudia Lemes eu não conheço. Vou procurar depois também.
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