Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de ‘Veludo’, um romance
histórico escrito por Fátima Sousa, que me marcou tanto e do qual talvez eu
nunca me recupere.
OBS.1:
Livro Lido em parceria com a autora (Publicidade)
OBS.2:
Disponível no catálogo Kindle Unlimited
(até a data de publicação desta resenha)
ALERTA:
Pode conter gatilhos de violência sexual, assassinatos e violência extrema
32/60
Livro: Veludo
Autora: Fátima Sousa
Editora: Independente/Amazon
Ano: 2023
Páginas: 494
Um romance dramático que acontece durante a primeira metade do séc. XX, na Alemanha e apresenta Peter Berger, um médico capaz de tudo para atingir o estatuto com que sempre sonhou, cria uma família perfeita, uma posição de admiração e torna-se amigo pessoal do Chanceler Adolf Hitler, mas o seu trajeto fará com que se apaixone pela primeira vez e por uma judia, aproveitará Peter esta oportunidade de se redimir? Ou a sua história trará ainda mais reviravoltas que o fará repensar na sua existência?
Os anos de 1940 foram marcados por acontecimentos que mudaram a vida do
mundo inteiro. O mesmo se aplica à família Berger, a qual vivia na Alemanha e
presenciou o início e queda do regime nazista de formas inimagináveis.
Além disso, mesmo em momentos de sofrimento e dor é possível aprender
algumas lições. Mas até que ponto Peter Berger será capaz de aguentar tantas
reviravoltas em sua vida?
Uau! Acho que essa seria minha resposta, caso me pedissem para resumir
‘Veludo’ em apenas uma palavra. Eu não conhecia essa história, muito menos os
trabalhos da autora, até ser contatada pela agência literária Álbum de Memórias.
Lendo a sinopse, eu já imaginava que seria uma leitura intensa e
profundamente marcante, por ser ambientada na Alemanha nazista. No entanto, ao
contrário de outras obras que retratam o lado das vítimas, essa foi a primeira
vez que li algo pelo ponto de vista dos apoiadores do movimento. O que muito me
surpreendeu e assustou, confesso.
A narrativa é em terceira pessoa e vemos os acontecimentos pelo ângulo
de Peter Berger. Sua história começa já no momento em que veio ao mundo até a
vida adulta. O que achei interessante, pois assim temos uma visão (e opinião
também) mais completa e concreta do personagem.
O rapaz é filho de Hans e Isabelle Berger, um alemão e uma italiana que
o criaram num lar de muito amor e carinho. Parte desse aconchego veio também de
Anne, uma babá que acabou sendo a segunda mãe de Peter. O garotinho sempre foi
cercado de familiares, amigos e coleguinhas da escola, que os tratavam com
respeito e companheirismo.
No entanto, a Fátima pegou em um ponto bem sensível e que muitas pessoas
se esquecem: o de que, independente de onde a pessoa nasce e é criada, sua
índole já vem “de fábrica” e não vai mudar. Peter é a personificação dessa
máxima e se mostra sem medo para o leitor. Ele é ruim por natureza, não tem
problema algum em afirmar isso.
Conforme cresce e tem mais conhecimento do mundo que o cerca, o rapaz se
aproveita de todas as maneiras de provar o gosto de trazer sofrimento e dor para
qualquer pessoa que passe à sua frente. Constatar isso é assustador e a cada
página eu ficava mais horrorizada com a naturalidade com a qual ele lidava com
seus desejos e prazer em espalhar maldade.
Ainda, sua vida está prestes a dar uma virada de 360° quando os rumores
de uma política “revolucionária” começam a tomar forma em seu país. Hitler está
chegando aos poucos, espalhando seus ideais nada ortodoxos de uma vida pura e
plena para que a Alemanha saia do buraco em que se encontra.
Tais ideias se disseminam cada vez mais rápido e divide opiniões em
todos os lares. Peter começa a se identificar com diversas frases do político,
que em casa seu pai condena de todas as formas.
“Aquele domingo que deveria ser um dia de alegria na vida de uma criança acabou com declarações de guerra.”
Como um grande matemático, Hans tem certeza de que Adolf seria a
ascensão meteórica e a queda ainda mais desastrosa do país que tanto amavam.
Assim, o melhor seria impedir que tantas atrocidades acontecessem o mais rápido
possível.
Porém, na cabeça do filho, nada daquilo fazia sentido. Ainda mais quando
o político “tão gentil e solícito” (sqn) se tornou seu novo melhor amigo, que
lhe ajudou a se manter na faculdade de medicina, além de dar um ótimo emprego
como diretor do hospital. Para Peter, Hitler seria o grande herói da Europa e logo entrou no partido com honras e pompas.
Assim, não apenas sua carreira decola, como também seus ideais de
maldade e psicopatia ganham força, disfarçados de pesquisas e progressos
fundamentais para a medicina. Na frente de todos, o rapaz é gentil, passando a
ser conhecido como Dr. Veludo, pela forma delicada que fala com seus pacientes. Por conta disso, está sempre cercado de pessoas que o amam, respeitam e nem
imaginam como ele faz para se manter “ligado nos avanços médicos” da época
quando ninguém está olhando.
Os capítulos são longos e bem detalhados. Então, não foi nada fácil ler
as atrocidades que se passavam na cabeça do protagonista, ainda mais após a
lavagem cerebral que recebia a cada vez que visitava a sede do partido.
Se a
ideia da autora era que o leitor tivesse sentimentos ruins em relação ao
personagem, certamente conseguiu. Não tinha uma vez que eu fechava o livro sem
respirar fundo e contar até 10, 20, 100, para tentar esquecer todo o ranço, ódio
e medo que eu senti por Peter ao longo de sua trajetória.
A forma como ele tratava as pessoas era falsa, calculada e planejada. O
que me dava a ideia de que ele vivia sempre um teatro da própria vida e o único
amigo que o compreendia era logo a pior pessoa para se aproximar.
Isso só me
lembrou o quanto a sociedade é doente há bastante tempo e só não percebia
(talvez até hoje não perceba). O que me deixou triste e sem esperança depois de
tantos socos no estômago que tomei ao longo da leitura.
“Todos estavam mortos mesmo em vida e mesmo aqueles que por algum milagre conseguissem sobreviver àquele lugar, uma parte de si continuaria morta.”
Mas uma coisa que devo salientar em ‘Veludo’ é a relação que os pais tinham
com o rapaz. Era incrível o amor que os dois e a babá sentiam por ele e se
mantiveram assim por todo tempo, mesmo quando os ideais políticos se tornaram
mais latentes. Achei uma relação até bem respeitosa por conta do pai de Peter,
que claramente era contra o partido e não aprovava as escolhas do filho.
Porém, nem por isso deixou de amar e desejar o melhor para sua cria,
muito menos deixou de conviver com ele quando o rapaz também se tornou pai.
Isso me chamou bastante atenção, especialmente porque passamos por momentos
políticos semelhantes aqui no Brasil até o ano passado e me doía o coração ver
famílias inteiras separadas por conta de opinião política, quando o laço maior
(o amor) era corrompido com ideais de um mundo utópico que jamais seria
alcançado.
Voltando ao livro, no entanto, nem por isso deixei de ficar triste e me
sentir solidária aos pais do protagonista. Eles viram seu filho entrar de
cabeça e alimentar uma personalidade tão ruim e cruel, que custa a acreditar
que Peter fosse mesmo filho deles. Também senti pena da pobre Marie, com quem o
rapaz se casou e iludiu da pior forma possível para manter uma família de
aparências.
“Não sabia porque a vida estava sendo tão generosa com ele, mas naquele momento não ia preocupar-se com questões sobre as quais não tinha qualquer resposta.”
O mesmo senti quando o médico, agora chamado Capitão Veludo, se torna
mais poderoso e cruel do que jamais foi. Capaz de qualquer coisa que se
pensasse, não seria o tipo de pessoa com a qual você iria querer cruzar na rua
em uma madrugada qualquer.
Além disso, em conversa com a autora, descobri que o
personagem realmente existiu e só me deixou com mais medo ainda. Principalmente
quando ele passa a ter autorização e demonstra os limites (ou a falta deles) de
toda a sua crueldade em nome do futuro da Humanidade.
Citando um trecho de ‘Fortaleza
Digital’ (Dan Brown), “nada é mais criativo ou mais destrutivo do que uma
mente brilhante com um propósito”. O que se aplica perfeitamente ao Peter.
É um
homem muito inteligente, dedicado ao trabalho e disposto a aprender muitas
coisas novas. Mas com o objetivo que tinha e foi alimentado de uma forma nada
boa, tive em minha frente um homem ruim por natureza que não media esforços
para se esconder.
Além disso, por mais que a escrita da autora seja fluida, é impossível
ler esse livro rápido, com tantos requintes e detalhes que as cenas foram
construídas. Levei quase um mês para finalizar o livro e, sinceramente, ainda
não sei dizer o que ele significou para mim.
De modo especial quando chegamos ao desfecho. Tudo que começa com muita
intensidade, se encerra do mesmo jeito.
Dessa forma, foi profundo, lento e
detalhado, como toda a história. O que se mostrou crível e digno. Não fui a
fundo para saber o que acontecia com o Capitão Veludo da vida real. Mas achei
interessante a proposta da autora, que deixa a opinião do leitor dividida e se
questionando se ele realmente mereceu o destino que lhe foi concedido.
Sendo bem sincera, diante de tantas coisas que o personagem fez, ainda
não sei se seria capaz de conceder o meu perdão, mesmo que ele me pedisse de
joelhos. Isso porque eu não sei nem da metade que o povo judeu sofreu nas mãos
dos nazistas na época. Imagina para os demais integrantes do elenco que
conviveram com Peter e acompanharam sua trajetória mais de perto?
“Eu sou o vilão de todas as histórias de terror, todas as noites sem exceção, eu durmo ao som de gritos, choros, súplicas, aqueles rostos não desaparecem, estão gravados na minha cabeça...”
Essa é uma leitura que me marcou de diversas maneiras e, por mais que eu
tente, jamais seria capaz de dizer tudo o que senti enquanto leitora e pessoa,
diante desse pedaço macabro de nossa História. ‘Veludo’ não é um livro bonito, muito
menos leve. Pelo contrário, ele escancara o quanto o ser humano pode ser ruim e se
tornar pior a cada dia. É uma obra que te dá diversos socos no estômago, sem
dó, nem piedade. Mas nem por isso deixa de ser necessária e recomendada.
As pessoas precisam saber dos erros do passado e tentar não repetir no
futuro. Então sim, foi uma experiência fora da caixinha para mim, além de uma
das melhores leituras que fiz esse ano e fiquei pensando nela por dias depois.
Talvez nunca supere essa obra, assim como muitas outras que até hoje me deixam
com medo e reflexiva.
Falando sobre o livro em si, li em versão digital. Então, posso dizer
que a revisão está bem feita, assim como a diagramação. A capa é simples e fiel
ao que iremos encontrar ao longo das páginas.
Em resumo, ‘Veludo’ é um livro que recomendo, mas leia com a consciência
de que não sairá do mesmo jeito que começou a leitura e ele alugará um tríplex
na sua cabeça.
Já leram esse livro ou algum outro da autora? Me contem nos comentários.
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
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