Jess, Owen e Alec são amigos de infância. Cresceram juntos e passaram
por diversos momentos felizes e marcantes, mas ninguém estava preparado para as
curvas que a vida pode dar. A moça se alistou para trabalhar como médica do
exército americano no Afeganistão e ficar longe de tudo que ama. Para o susto
de todos, é aprovada e não está disposta a mudar de ideia.
Dois anos depois, ela está de volta em casa. No entanto, descobre da
pior forma que a vida não é como um filme, que você pausa quando quer e retorna
de onde parou. Todas as nossas escolhas têm consequências e 24 meses é tempo
suficiente para muitas mudanças. A grande questão é se estamos dispostos a
aceitá-las.
“Sim, é isso o que eu faço, mas agora talvez fosse eu que precisasse de
alguns remendos.”
Conheci esse livro muito por acaso, durante a última edição da Bienal do
Livro do Rio de Janeiro (2021). Tinha ido ao estande da The Gift Box, a fim de encontrar a Raffa Fustagno
(coincidentemente, é a autora da minha leitura atual) e pegar seu mais novo
lançamento autografado.
Ao passear pelo estande, no entanto, me deparei com
diversos outros romances da editora, entre os quais ‘Quando O Inverno Acabar’
me chamou atenção.
Lembro que gostei da capa e a sinopse poética me encantou. A curiosidade
aumentou ao ouvir a vendedora falando dele de modo fervoroso e me convenceu. Porém,
o livro ficou encalhado na estante; toda vez que pegava nele, tinha a sensação
de que não iria gostar da leitura e devolvia para a prateleira. E, mesmo
enfrentando o desafio e cumprindo a TBR de final de ano, apenas confirmei que
não foi uma experiência positiva.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Com a narrativa em primeira pessoa, vemos os fatos pelo ângulo de Jess,
Owen e Alec. Embora o elenco seja pequeno, deu espaço para ler uma verdadeira
novela mexicana. Os três se conhecem desde pequenos, então é até bonito ver o
laço de amizade que os une.
Quando a moça resolve embarcar para uma guerra no outro lado do mundo, é
nítida também a tensão que se estabelece entre eles. São maiores de idade e não
podem impedir as escolhas uns dos outros. Ao mesmo tempo, se preocupam como se
pudessem se guardar em um potinho para proteger de todos os males.
“[...] Não percam isso. Quando esse tipo de olhar muda de direção, não
costuma voltar.”
Não apenas isso, a relação entre Jess e sua família é muito linda e dá
um quentinho no coração a cada página. Ler a relação entre a moça e sua mãe
viúva me representou. Eu também sou órfã de pai e sei a dor do vazio que é não
ter uma figura paterna, a qual ocupou um espaço significativo em sua vida por
tantos anos.
Quando ela parte em missão, é como se todos os corações que a cercam
tivessem um pedaço arrancado. No entanto, a forma como cada um reage a esse
sentimento é muito peculiar e pode levar a diversos caminhos, como a própria
protagonista irá perceber.
Dois anos depois, Jess está de volta às suas raízes e pronta para
recomeçar de onde parou. Contudo, vai perceber o quanto as pessoas estão
diferentes.
Além disso, precisa lidar com esses sentimentos de uma maneira que
jamais imaginou, crescendo com as cicatrizes que lhe causaram tanta dor enquanto
estava no meio das bombas. Vai precisar superar muitas feridas abertas, além
das novas que a vida lhe reserva.
Temos um romance com um pé no drama e um toque
de contos de fadas moderno, para fazer seu coração ficar quentinho no final do
ano. Tive muitos sentimentos durante a leitura. Chorei, sorri e me senti
solidária com as dores de todos os personagens, em especial por poder ler o
ponto de vista de cada um e até compreender suas atitudes.
Mas exatamente por saber o que se passava na cabeça de cada
protagonista, os sentimentos que imperaram foram a indignação e a raiva. Me
incomodei bastante com diversas cenas muito close
errado que li. Ainda fiquei abismada ao me deparar com tantas resenhas
positivas, dizendo que esse é um romance leve e gostoso de ler.
Eu até concordaria com o senso comum se fosse um livro escrito para lá
dos anos 2000. Mas para uma obra publicada em 2020, me admira terem deixado
tantos detalhes desconfortáveis passarem.
O livro inteiro é um clichê já esperado. Entretanto, a forma como ele
foi trabalhado é que me espantou, pois teriam resolvido muita coisa com uma boa
dose de terapia em grupo. Jess é uma mulher forte e que já passou por muitas
dores neste mundo, ainda mais pelo tempo que passou no meio do nada e correndo
risco a cada dia.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Até gostei do modo maduro como a protagonista lidou com os
acontecimentos em sua vida, tanto durante a guerra quanto de volta em casa.
Confesso que me identifiquei com a moça tentando se adaptar ao lar novamente. A
coitada não sabia como se encaixar em rotinas que parecem já preenchidas por
substitutos dos buracos que ela deixou há tanto tempo.
Entretanto, fiquei incomodada com a síndrome de “Mulher Maravilha” que
ela desenvolveu e ninguém pareceu notar. Pelo contrário, apenas alimenta,
deixando Jess cada vez mais debilitada emocionalmente e sem saber lidar com
tantas novidades. Além disso, a forma como Owen nota que a moça carece de ajuda
e tenta resolver é tão prática, que mais parecia lidar com uma boneca que só
precisa de uma pilha nova.
O próprio rapaz está perdido em sentimentos confusos e não o julgo por
isso. Nunca passei por uma situação como a que ele viveu, mas a casca que criou
para parecer forte diante de seus superiores parece estar servindo até mesmo
para ele.
Assim, é o clichê do CEO bombadão e que todas as mulheres ficam
ensandecidas quando passam por ele. Porém, sua beleza acabou para mim quando vi
diversas atitudes babacas e até machistas em relação à Jess. Respeito a forma
como lidaram com diversas coisas juntos e mantiveram uma relação madura após
certos acontecimentos. Contudo, teria respeitado ainda mais se ele não fosse um
idiota crescido.
Por sua vez, Alec é o clichê do rapaz bonzinho que fica sempre na friendzone e se conforma com isso. Sua
relação com Jess vai além da amizade e isso está bem na cara de todo mundo (até
para o gato do rapaz, rsrs), menos na da mais interessada. Para uma mulher tão
esperta e que diz saber lidar com os homens, me pareceu bem bobinha nesse
sentido.
Além disso, Alec tem atitudes que me deram medo e me admira que Jess
tenha aceitado numa boa, em nome de um “felizes para sempre”. No lugar dela, eu
teria dado um tapa na cara desses dois babacas e virado a página.
Fora que os rapazes são sócios na mesma empresa. Mas enquanto Owen só
vive pelo trabalho e mal para em casa, Alec é o completo oposto. Quando está na
empresa é um verdadeiro desocupado. Talvez se tivessem dividido mais as
obrigações, boa parte do estresse que passam teria sido evitado.
O desfecho é bem cara de filme de comédia romântica clichê. Em
comparação com o que vinha sendo apresentado, é condizente com a trama. As
pontas são amarradas, porém eu já estava tão incomodada com as atitudes desse
trio (especialmente de Owen e Alec em relação aos sentimentos da Jess), que não
me encantou como eu esperava.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Em relação ao livro em si, tem uma diagramação muito bonita e a capa
combina com o tema. As páginas são mais grossinhas e amareladas, o que gosto
bastante. Melhorou ainda mais com a fonte legível e uma revisão bem feita.
Resumindo, é um romance “ok”, mas que não me deu um quentinho no coração como
eu imaginei. Não leria novamente. Porém, ainda assim deixo aqui a recomendação
para que tire suas próprias conclusões.
E aí, já tinham lido essa ou alguma outra obra da autora? Gostam de romances mais clichês? Me contem aí!
Oi Hanna! Eu já vinha vendo suas reações no insta sobre a leitura e admito que não é um livro que me deu vontade de ler. Romance que não aquece o coração do leitor parece que faltou algo. Pena não ter sido uma grande leitura. Bjos!! Cida
ResponderExcluirMoonlight Books
Super te entendo, Cida. Confesso que me senti enganada com esse livro. E olha que a premissa era tão convidativa, viu? =s
ExcluirOlá, também fico incomodada com aspectos que poderiam ser resolvidos hoje em dia com o conhecimento ja discutido, enquanto o livro é atual. Esse é um livro que conheço a pouco tempo, mas não é uma leitura que me chamou tanta atenção.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Pois é, infelizmente isso não aconteceu com o livro e me senti meio frustrada.
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