Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a
resenha de ‘Sal e Açúcar’, um romance YA nacional escrito por
Rebecca Carvalho.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
37/60
Livro: Sal e Açúcar
Autora: Rebecca Carvalho
Tradução: Fernanda Castro
Editora: Record
Ano: 2023
Páginas: 368
Os netos de duas padarias brasileiras rivais se apaixonam, apesar da rivalidade de suas famílias nesta deliciosa comédia romântica de estreia perfeita para os fãs de Nicola Yoon e Gloria Chao.
As ladeiras Olinda abrigam mais do que
casas coloridas. É também local de muitos estabelecimentos
comerciais, incluindo padarias que passaram de geração em geração.
Porém, duas delas estão em guerra desde o início: a ‘Sal’ –
dirigida pela família Ramires – e a ‘Açúcar’ – comandada
pelos Molina –.
Os
anos passaram e a rixa parece nunca ter fim. Mas será que é apenas
uma disputa de concorrência ou tem algo mais por trás disso tudo?
Além disso, certas coisas começam a acontecer e ambas as padarias
precisam lutar para se manterem de pé. Será que a briga vai se
manter por mais tempo? Só lendo para saber.
Essa
foi uma leitura coletiva, mediada pelo Clubinho da PequenaJornalista. Uma das coisas que
mais gosto no grupo é que sempre lemos romances leves, do estilo
“água com açúcar”, o que é uma ótima saída para alternar
com os livros mais pesados que costumo escolher na TBR mensal.
Para
minha surpresa, ‘Sal e Açúcar’ se passa em território nacional
e é escrito por uma autora brasileira, mas que mora fora há muitos
anos. Por conta disso, a obra tem edição em Português, contudo foi
lançada lá fora antes. Pode parecer um detalhe bobo, no entanto fez
uma enorme diferença para mim, dado que afetou consideravelmente a
minha experiência de leitura.
A
narrativa é em primeira pessoa e vemos os fatos pelo ângulo de
Larissa Ramires. A jovem está no último ano do ensino médio e está
às voltas do encerramento do ano letivo, junto com as emoções e
pressão que o vestibular traz. Porém, sua vida dá um giro de 360°
quando D. Julieta, sua avó, parte de modo repentino.
A
senhorinha deixa um imenso buraco, não apenas para a família, mas
também para os clientes da Sal que já consideravam quase uma marca
registrada da cidade. Porém,
tudo se torna ainda mais difícil para a mocinha ao ver que os Molina
faziam de tudo para manter a concorrência, sem dó.
E
é nesse cenário que conhecemos a família rival, onde vive Pedro. O
rapaz estuda na mesma classe que Larissa e não perde a oportunidade
de levar a rixa a ferro e fogo, seja dentro ou fora das padarias.
Ambos
são super inteligentes e competem em tudo, desde notas nas provas
até para ver quem é o mais popular. No entanto, a distância
entre eles está para ficar mais curta depois que a professora de
matemática coloca os dois no
mesmo clube de culinária.
Não
seria algo ruim, já que ambos são filhos de padeiros e seria
esperado que mandassem muito bem na cozinha. Mas até que ponto é
seguro deixar uma Ramires e um Molina sozinhos debaixo do mesmo teto,
sem supervisão?
“É estranho pensar que nosso futuro está nas mãos de uma receita de bolo. Mas não é esse o destino de todos os Ramires e Molina?”
Aos
poucos, somos apresentados a uma parte do Nordeste brasileiro que dá
água na boca, de modo especial quando se trata das guloseimas
preparadas nas padarias. Confesso que lia e ficava com a barriga
roncando, doida para passar na primeira padaria que via e comprar um
sonho, ou um pão doce. Fora que a autora caprichou tanto nas
descrições dessas cenas, que podia salivar imaginando o sabor e o
cheiro deles saindo do forno.
Além
disso, a escrita da Rebecca é fluida e me manteve imersa o tempo
todo na leitura. O que ajudou bastante com uma trama leve e carregada
de cenas cômicas, as quais foram um alívio na minha cabeça.
Algo
que também gostei bastante foi de ver os laços de família e
amizades sendo formados. O elenco é relativamente grande, mas todos
foram bem desenvolvidos e a autora soube manter os plots
bem guardados para serem revelados na hora certa. O que rendeu pontos
positivos para a obra e me fizeram querer guardar todos num potinho.
Me
diverti bastante com o núcleo do clube de culinária. Os alunos eram
bastante unidos e se mostraram aliados valiosos quando Larissa e
Pedro mais precisavam. Ainda, tenho que destacar a presença de Seu
Romário (avô de Pedro) e Amandinha (a garotinha da ONG Vozes).
Cada
um ao seu modo ensinaram grandes lições aos protagonistas, que até
serviram para mim. Me vi refletindo sobre alguns momentos de
sabedoria, vindos de onde menos se espera, o que muito me
surpreendeu.
A
menininha é uma graça e me lembrou umas crianças que fazem parte
do meu círculo social. Ela é um grande exemplo de que a humanidade
ainda tem esperança, se as gerações mais novas forem direcionadas
da forma correta.
Já
o avô de Pedro é o completo oposto: um velho turrão e que não
aceita que as regras sejam quebradas, não importa o século que
estamos vivendo. Isso gera muitos momentos de farpas e tensão. Contudo, o senhorzinho tem muitos motivos para ser assim e, quando eu
descobri, foi impossível não querer abraçar ele e falar que nunca
é tarde para mudar certos hábitos e pensamentos, basta estar
disposto para tal.
É
muito interessante ver como a trama se desenvolve também do lado dos
Ramires. Após a partida de D. Julieta, só ficaram Larissa e sua
mãe. Apesar de unidas, a mais velha parece estar bem perdida em
relação às responsabilidades que caíram sobre suas costas.
As
coisas ficam mais pesadas conforme a inscrição para o vestibular se
aproxima. Isso porque o destino da jovem meio que já foi traçado,
sem que lhe perguntassem se esse era realmente seu desejo. Dessa
forma, temos momentos bastante tensos entre as paredes da Sal, que me
lembraram um pouco minha época de provas, pois passei por algo
semelhante.
Felizmente,
aqui em casa as coisas se
resolveram de modo positivo. Porém,
sei que nem sempre essa é a
realidade de famílias onde temos gerações de profissionais, que
muitas vezes só seguem o que seus progenitores determinaram, sem ao
menos questionar um caminho alternativo.
O que leva a vários
profissionais que só trabalham pelo valor financeiro, mas não fazem
questão alguma de esconder a frustração. Ver um caminho desse
entre os Ramires me deixou bem agoniada e triste ao mesmo tempo,
vendo que não poderia fazer nada para ajudar a mocinha.
“Mas como um sonho pode sobreviver diante de tantos obstáculos?”
Contudo,
por ser uma leitura mais levinha e até previsível, era de se
esperar que tudo se resolvesse em algum momento, de forma positiva. O
que de fato aconteceu e fiquei satisfeita... até a página 2. Pois
é, apesar de ter muitos pontos favoráveis, nem tudo são flores e
preciso desabafar sobre o que me incomodou, a começar pelos
protagonistas.
Larissa
é uma jovem adorável, inteligente e determinada, mesmo que o mundo
lhe diga o contrário. Gostei bastante de ver a relação dela com a
mãe, a avó (ainda que em lembranças) e quando faz as novas
amizades.
Entretanto,
a autora quis usar uma veia cômica no elenco e escolheu o clichê da
mocinha atrapalhada. O que deu muito certo em filmes e livros de anos
atrás, porém hoje não é mais tão engraçado, mesmo se tratando
de uma adolescente.
O
jeito como ela é retratada na trama pareceu mais uma comédia
pastelão, de tão caricata. O que me convenceu nas primeiras
páginas, mas depois perdeu a graça e eu já revirava os olhos.
Especialmente
quando aconteciam coisas tão bestas, que solução era óbvia e não
precisava
de tanto alvoroço (mesmo que
você não saiba nem fritar um ovo). Me dava a sensação de que a
autora queira forçar uma situação cômica e perdia a noção do
limite entre o engraçado e o ridículo, me incomodando um bocado.
Além
disso, a autora fala que escreveu o livro se baseando em suas
lembranças de quando morava no Nordeste. Mas acho que teria sido
válido reavaliar tais memórias, fazendo uma nova visita à sua
terra natal, ou mesmo uma pesquisa mais apurada.
Isso
porque é anunciado que tem um foco grande em tradições de
Pernambuco, as quais não são levadas em consideração, nem mesmo
no segundo plano. Foram ignoradas as festas mais importantes, assim
como o carnaval e suas danças mais características, gírias e
regionalismos, consideradas praticamente inexistentes – em especial
pela parte de Larissa.
Ela
alterna bastante entre ser uma típica nordestina e uma visão
americanizada do Brasil. Algo que teria sido relevado se fosse uma
autora estrangeira. Mas vindo de uma brasileira, ainda mais
pernambucana, decepcionou bastante.
Pedro
Molina, por sua vez, é o menino rebelde. Embora seja algo típico do
clichê adolescente (a mocinha que se apaixona pelo bad
boy), considerei algumas de suas
atitudes quando o conheci um pouco mais a fundo.
O
rapaz tem muitas angústias e medos, como qualquer adolescente, mas
também sabe ser um líder e bom amigo quando necessário. Ver a
relação dele com Larissa foi a melhor parte (que teria sido melhor
aproveitada se a mocinha não fosse tão caricata). A química entre
os dois é crível e surpreendentemente bem desenvolvida, sem ser
apressado, ou mesmo morno.
Além
disso, ele tem uma mão
muito boa na cozinha, o que me deixou com uma fome desgraçada a cada
vez que chegava no clube
(rsrsrs). Queria muito
entrar no livro só para
provar os quitutes que o rapaz fazia com maestria. O que poderia ser
bem divertido com toda a equipe reunida, cozinhando ao som de forró
e falando palavras que há muito tempo eu não ouvia (tenho uma veia
nordestina também, então deu uma boa nostalgia).
No
entanto, confesso que nunca vi uma escola com clubes como esse no
Brasil. Pode ser ignorância minha e algumas instituições
particulares de fato tenham esse hábito. Mas ler isso me lembrou
muito as escolas dos filmes e séries estadunidenses, onde isso é
mais comum.
O
que não era tão condizente com a trama, ambientada no Brasil. Ainda
mais levando em consideração que eles estudavam em uma escola
pública, a qual não costuma ter iniciativas como essa (normalmente
são aulas de reforço e/ou atividades esportivas).
Quem
também me incomodou muito foi a mãe de Larissa. Além da questão
tensa entre as duas, sobre universidade e carreira profissional,
talvez as coisas tivessem sido resolvidas de uma forma mais madura se
a mulher agisse como uma adulta e não uma adolescente (mais do que a
filha, aliás). Embora considerasse o luto, que pode nos mudar de
formas inimagináveis, achei algumas atitudes dela desnecessárias e
irrelevantes para a trama.
O
que ficava pior quando cruzava com a mãe de Pedro, que parecia não
ter mais o que fazer da vida, além de espionar a vida alheia e
colocar o dedo em feridas nas quais não foi chamada. Sei que tinha
toda a questão da rixa familiar como pano de fundo.
Mas essas duas
brigavam por qualquer motivo e parecia mais reprises de ‘Casos de
Família’ misturado com ‘Programa do Ratinho’, o que não colou
muito e garantiu muitas viradas de olhos.
“As palavras de mainha soam como uma declaração de guerra.”
No
entanto, apesar de ter muitas ressalvas em relação a esse livro, o
que salvou e garantiu a nota positiva foram os personagens
secundários, como Amandinha e Seu Romário (o único centrado entre
os Molina, depois de Pedro), as gulodices e a narrativa mais fluida.
Ainda, o desfecho amarrou
algumas pontas de modo crível e satisfatório, mantendo um clima de
contos de fadas como a trama prometia. Contudo, não é uma obra que
eu leria novamente.
Falando
sobre o livro em si, li em versão
digital e gostei da
diagramação. A capa é bem colorida, com os protagonistas em
destaque, em suas respectivas padarias. A revisão está bem feita
e a fonte legível, o que
garantiu uma ótima experiência de leitura.
Além disso, não é porque uma obra não deu certo comigo que será da mesma forma com você. Assim, recomendo a leitura para que tire suas próprias conclusões.
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Oie, estive querendo conhecer esse livro por tempos, e fico feliz de finalmente estar traduzido. Gosto da temática e minhas expectativas são de uma leitura rápida.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Leitura rápida e que vai te deixar com fome, isso é certo, haha.
ExcluirOi
ResponderExcluirele está na minha lista de desejado, não sabia que ele tinha sido publicado fora do Brasil antes, pena que a autora deu uma exagerada no clichê da personagem, mas parece ser uma leitura rápida.
https://momentocrivelli.blogspot.com/
Sim sim, é uma leitura rápida e vale a pena por isso. Mas o clichê foi o que menos curti.
ExcluirOi!! Confesso que a primeira vista já não daria uma chance para esse livro hahahaha muitas vezes julgo pela capa e pela sinopse. Não é algo que me cativa a dar uma chance :| enfim, amei seu post e a forma como você fez a resenha. Achei interessante citar que a nota só foi boa por causa dos outros personagens kkkkk sinceridade é isso!
ResponderExcluirmeu lar
O mais importante é ser sincera, haha. Feliz que gostou e super te entendo sobre não querer dar uma chance ao livro. Acontece, rs.
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