A polícia estadual de Boston é notificada de um caso de violência
doméstica. Porém, a surpresa vem quando os primeiros socorristas a chegarem no
local identificam a vítima: Tessa Leoni, uma tropper condecorada.
Encontrada com o rosto desfigurado e sem
conseguir se manter de pé, a jovem alega que atirou no marido como legítima
defesa. O que parece fazer sentido, dada a cena do crime.
A situação se complica ainda mais quando Tessa se recusa a ser levada
para o hospital. Ela está muito nervosa por conta de sua filha, Sophie, de
apenas 6 anos, que sumiu durante o incidente.
A polícia se vê em uma situação
delicada, pois além de uma cena de homicídio, precisa emitir Alerta Âmbar para
o desaparecimento da criança. Ainda, levando em consideração as vítimas, a
polícia estadual e os troopers
precisarão unir suas forças e correr contra o tempo. Embora seja uma missão
quase impossível, visto que ambas as forças não se bicam.
Assim, o caso é passado quase que instantaneamente para D. D. Warren, a
melhor detetive do departamento da polícia de Boston e Bobby Dodger, um ex-trooper que ainda mantém seus laços com
a unidade.
Esse é o meu segundo contato com as obras da Lisa Gardner. Após ‘BemAtrás de Você’, tinha decidido que não leria mais nada da autora. Porém, em
conversa com o Leitor Oculto, ele me
convenceu a dar uma nova chance, indicando ‘Sangue na Neve’. Mesmo aceitando a
proposta, comecei a leitura com o pé atrás e não criei expectativas, para não
me decepcionar de novo. E talvez por isso eu tenha me surpreendido
positivamente.
Mantendo a “receitinha de bolo”, a narrativa é alternada. Assim, temos
uma em terceira pessoa, mostrando a investigação por um ângulo mais amplo e
focando em D. D. e Bobby, além de outra em primeira, com fatos narrados por
Tessa. Embora pareça confuso em um primeiro contato, percebi que nesse caso
funcionou, pois me ajudou a ter uma opinião mais geral sobre tudo que estava
acontecendo durante a investigação.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Além disso, apesar do livro ser relativamente grande, fiquei surpresa
que boa parte da trama se passa no intervalo de poucos dias. O que me lembrou
bastante a série ‘24 Horas’.
Aos poucos, somos apresentados ao passado de Tessa, como se montasse um
plano de fundo para todas as suas atitudes até o atual momento. De modo
especial, são fatos relevantes para entendermos o que levou a muitas situações atuais
e o porquê de ser alvo da total desconfiança de D. D., a qual tem a fama de ser
implacável quando o caso envolve crianças.
Logo, Tessa passa de vítima a culpada em questão de minutos, conforme a
investigação avança e ela não parece querer colaborar. Isso porque a moça não
tem um passado do qual se orgulhe.
Sua escolha em se tornar uma trooper não foi um mar de rosas. Olhando
os fatos pelo ponto de vista da acusada, senti um misto de pena, dor e revolta
(especialmente lendo dores que apenas mulheres entendem). Sendo assim, não
posso dizer que julgo suas ações, mas também não são das mais louváveis. O tempo
todo me via dividida e sem saber se torcia para que ela se desse bem ou pagasse
logo por seus pecados.
Por outro lado, conhecemos, ainda que de uma vista mais superficial, a
vida da detetive. Aliás, vendo o ponto de vista das duas, percebi que eram os
lados de uma mesma moeda. Assim como Tessa, D. D. precisa demonstrar uma força
muito maior, a fim de ser reconhecida no cargo, ao contrário do que aconteceria
se fosse um homem.
Ambas têm os seus dilemas em suas profissões. Além disso,
gostei de ver como a autora se dedicou ao abordar o assunto de uma forma
envolvente que não soasse mais densa do que já é.
“Era isso que importava no fim. Quem você amava e o quanto arriscaria
por essas pessoas?”
Além disso, enquanto D. D. é uma detetive sensacional, Tessa é uma ótima
estrategista. Então, o livro todo ficou como uma espécie de batalha de mentes
brilhantes, na qual nunca se sabia quem seria a vencedora. A cada pista que a
detetive achava, a acusada parecia estar dois passos a frente e a trama ficava
mais elaborada. Eu só queria continuar lendo e saber qual seria a próxima
treta.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Não apenas as protagonistas, mas os personagens secundários também
cumprem um bom papel. Bobby é um bom detetive e forma uma bela dupla com D. D.
No entanto, a relação entre eles é um tanto conturbada, o que dá um quê de
drama ao longo da leitura. Apesar de ser um risco, gostei da forma como a
autora lidou com essa peculiaridade e conseguiu equilibrar bem cada problema,
sem desviar do assunto principal.
Além disso, conforme a investigação avança, percebi uma espécie de ranço
da Lisa em relação aos homens (o que eu não julgo, confesso). Isso porque não
mediu esforços em criar personagens masculinos babacas até o talo, dos quais
era impossível gostar.
A começar pelo marido de Tessa, Brian Darby. O rapaz
parecia um príncipe encantado logo que se conheceram. Mas por trás da pele de
bom moço se esconde um adolescente de meia idade, que me dava nos nervos.
“Casamento, no final das contas, terminava com ‘ele disse, ela disse’,
mesmo depois de um dos esposos estar morto.”
Ao ler a versão da trooper
sobre o falecido, minha vontade era dar umas sacudidas nela e cantarolar um
“não era amor, era cilada”, para ver se acordava. Sério, como que ela me casa
com um cara irresponsável daquele e ainda me deixa uma criança para ele tomar
conta? Eu teria os dois pés atrás com esse babaca e teria mandado pastar na
primeira oportunidade.
Parece que todos tem a mesma ideia que eu quando o caso de violência
doméstica vem à tona. No entanto, por mais óbvio que pareça, as pistas deixam a
denúncia em dúvida, especialmente quando Tessa passa de vítima a assassina. O
tempo todo o leitor é levado a se questionar o que de fato aconteceu naquele
dia fatídico e nenhum detalhe pode ser deixado para trás.
Brian seria mesmo capaz de levantar a mão para a esposa, ainda mais
sabendo de sua patente? Se sim, por que Tessa não relatou logo o ocorrido? E se
não, o que teria levado à cena grotesca encontrada pela polícia?
“Uma mulher nunca esquece a primeira vez que apanha.”
Para completar, o desaparecimento de Sophie parece longe de ser
solucionado, complicando ainda mais a situação de Tessa. Seria ela também
acusada de tamanha crueldade? Ou é apenas uma vítima de um sistema quebrado e
machista? São muitas perguntas e o tempo é curto para responder a todas elas.
Mas a autora consegue de uma maneira fantástica. As cenas de ação são
muito bem detalhadas e elaboradas, me mantendo imersa em todo tempo. A escrita
fluida, somada às mentes brilhantes das personagens femininas também ajudaram
um bocado. O que me fez até largar as outras leituras associadas para me
dedicar apenas a ela.
Preciso alertar para cenas bem pesadas e até
indigestas ao longo da leitura. É impossível não sentir ranço nem agonia ao
ler. Ainda mais sabendo que algumas dessas passagens são comuns em muitos lares
hoje em dia, gerando revolta e tristeza.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
O desfecho é bem desenvolvido e condizente com tudo o que a trama
trazia. Assim como a leitura em si, as respostas me tiraram o fôlego e fiquei
com a sensação de ter visto um filme de esquemas políticos bem arranjados. Acho
que posso dizer que “fiz as pazes” com as obras de Lisa Gardner, pois gostei
bastante de ‘Sangue na Neve’ e já peguei mais dois livros dela (no Kindle Unlimited) para ler nos próximos
dias. Se eles mantiverem o ritmo frenético que encontrei aqui, certamente a
escritora ganhará uma nova fã.
Em relação ao livro em si, li a versão digital. Então, posso dizer que a
diagramação e a revisão estão bem feitas.
A capa é condizente com o tema do
livro e traz o nome em destaque, parecendo um pôster de filme, o que gostei
bastante. Recomendo a leitura, especialmente se estiver procurando um thriller de tirar o fôlego.
Me interessou muito esse thriller, e já preparada para as cenas mais pesadas. Não é sempre que consigo ler livros assim, então é bom ter uma resenha como a sua para já saber pelo que esperar.
ResponderExcluirTe espero nos meus blogs!
Mente Hipercriativa (Livros, filmes e séries)
Universo Invisível (Contos, crônicas e afins)
Super te entendo. Para alguns livros, precisamos nos preparar bastante mesmo. E espero que possa dar uma chance à leitura, feliz em ter ajudado, ^^
ExcluirOi, Hanna. Tudo bem? Parece uma obra excelente, né? Que bom que curtiu o livro. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Gostei bastante, viu?
ExcluirOie, gostei dessa proposta e o ritmo do livro parece bom pra mim. Fisgou minha atenção, e espero que leia outras das obras da autora e traga mais resenhas kk.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Sim, o ritmo dele é frenético e gostei bastante. Me surpreendeu. Logo trago mais resenhas dos livros da autora por aqui, aguarde, haha
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