Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha
de ‘Rapture’, livro baseado em um dos jogos mais renomados do mundo dos games.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
5/60
Livro: Bioshock - Rapture
Autor: John Shirley
Tradutor: Caio Pereira
Editora: Novo Século
Ano: 2013
Páginas: 408
Fim da Segunda Guerra Mundial. As bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki trouxeram ao mundo o medo de uma total aniquilação. Novas políticas foram adotadas pelo governo americano, a fim de recuperar e restaurar a economia do país. Os altos impostos, o aumento da intervenção do Estado nas instituições privadas e o crescente poder das agências de inteligência davam ao cidadão comum a impressão de eterna vigilância. A sensação de liberdade diminuía a cada dia. E muitos pareciam dispostos a fazer de tudo para reconquistá-la. Entre eles, havia um grande sonhador, Andrew Ryan, decidido a criar sua própria utopia: uma cidade livre de governo, de censura, de restrições morais à ciência. Nesta cidade, tudo seria possível, e cada um receberia de volta o correspondente a seu esforço individual. Esta cidade era Rapture, a joia no fundo do mar. Mas nem tudo correu conforme o esperado, e uma grande tragédia abalou os planos daquele sonhador. Esta é a história do início de tudo... e do fim.
Após a II Guerra Mundial, o
mundo está um verdadeiro caos. Os civis recolhem os cacos que sobraram após as
demonstrações de poder dos governos, os quais cobram impostos cada vez mais
elevados. Ainda, criam políticas tão restritivas, que impedem qualquer um que
tente se reerguer de forma digna.
A sensação de impotência
reina, independente da classe social, gerando revolta entre a população. Nesse
clima de insegurança e medo, algumas pessoas querem virar o jogo e consertar o
mundo. Contudo, a forma como se faz isso pode ser um tanto utópica.
Andrew Ryan tem um sonho e
não vai desistir até vê-lo realizado: um lugar livre de governos, leis e
qualquer entrave que impeça o progresso. Assim, cria Rapture, sua própria
cidade, localizada no fundo do oceano, onde nenhum poder público será capaz de
alcançar. A grande questão é: até que ponto o mundo sem leis e política se
mantém?
“Se o mundo moderno fosse um paciente sobre meus cuidados – ela meneou a cabeça – eu o diagnosticaria como suicida.”
Para quem não conhece,
‘Rapture’ é baseado em um jogo homônimo, o qual fez bastante sucesso na época
do lançamento. Porém, enquanto o game
traz uma cidade já em ruínas, o livro conta os bastidores desse plano ousado
(ou insano).
A narrativa é em terceira
pessoa e traz uma visão ampla de cada cenário. Além disso, a trama é centrada
no final dos anos 1940, quando o mundo anda recolhia seus cacos no pós-guerra.
Costumes, bordões e figurinos nos levam a uma viagem no tempo, misturada com a
ficção. O que achei bom, pois o autor trouxe diversos elementos da época e
inseriu com os da trama, fazendo o leitor bancar o teórico da conspiração e
levantar questionamentos sobre a real existência de Rapture.
Aos poucos, somos também
apresentados aos construtores da cidade, bem como os possíveis inimigos. A
ideia inicial veio da mente brilhante (ou maluca, fica ao gosto do freguês) de
Andrew Ryan. De origem pobre e perseguido por um governo que não fazia bem
algum para a população, ele imigrou com seus pais da Rússia para os Estados
Unidos ainda pequeno. Na terra do Tio Sam, encontraram abrigo e uma forma de
gerar riqueza, a qual o rapaz mantém depois de adulto.
Porém, vendo a forma pela
qual o governo americano lidava com a situação do país, percebeu que certas
coisas só mudam de endereço e não podem ser resolvidas pulando de país em país.
Assim, Andrew decide salvar a humanidade da ruína e resolver todos os problemas
políticos de uma única vez, criando sua própria utopia.
Gastando toda a fortuna na
construção de Rapture, Ryan não mede esforços para garantir que o
empreendimento seja concluído. No processo, traz algumas pessoas que acreditam
nas promessas de bolso cheio e vida tranquila debaixo d’água.
Além disso, a ideia de viver no
fundo do mar pode ser interessante por um lado, pois a tecnologia desenvolvida
para um novo modo de vida é inovadora e sofisticada, jamais vista na época (ou
mesmo hoje em dia). Contudo, me dava agonia pensar nessa construção e o custo
de um sonho (não apenas em valor financeiro, mas de recursos e mão de obra).
Isso me fez refletir sobre quantas obras gigantescas existem até hoje, porém
olhamos apenas a beleza estética e valor histórico distorcido. Enquanto isso,
esquecemos de nos atentar a quem sofreu para colocar tudo de pé.
Ver a forma como Ryan lidava
com esses custos me deixou enojada e só fez crescer um ranço que já sentia.
Seus argumentos são ridiculamente frios e calculistas, retratando apenas que
Rapture não é um ideal de salvação, mas o brinquedo de um milionário excêntrico
e que não tinha mais em que gastar sua fortuna. Talvez por isso tenha atraído
tanta gente parecida com ele para fazer o tal sonho subaquático dar certo.
“A ideia era trazer somente o que há de melhor no mundo conosco, mas talvez tenhamos trazido um pouco do pior também.”
Aos poucos, vemos as pessoas
chegando e se estabelecendo em seus novos lares. Além disso, percebemos o que
podem fazer na ausência de regras.
Tudo é permitido e proibição não tem vez,
independente das consequências. No entanto, existe uma linha muito tênue entre
liberdade de expressão e falta de respeito, conforme passamos a perceber de uma
maneira bem descarada e assustadora.
As pessoas se sentem tão
libertas dentro da nova cidade, que agem como se nada mais importasse, só mostram
o lado mais cruel e insano que a humanidade pode ter. Isso se torna mais
evidente quando muitas das promessas de Ryan não se cumprem, dado que todos
receberam propostas de vida digna, porém ninguém avisou dos custos que estavam
nas letras miúdas do contrato.
Uma das poucas pessoas que
ainda tem um pouco de dignidade e respeito ao próximo (até arrisco dizer
sanidade mental) é Bill Donaugh, um bombeiro hidráulico que ganhou um upgrade para engenheiro chefe de
Rapture. Ele ajudou na construção e é um dos primeiros moradores que vieram
iludidos com a promessa de uma vida melhor e mais estável. Vivendo um conto de
fadas com sua esposa e a família crescendo, sua felicidade dura pouco ao
presenciar certos acontecimentos.
“Rapture vai definir o direcionamento para a civilização de todo o planeta, no futuro... e a história vai querer saber o que aconteceu aqui...”
Embora seja uma narrativa em
terceira pessoa, boa parte dos acontecimentos são pelo ponto de vista de Bill,
o qual poderia muito bem ser nosso protagonista. Toda vez que entrava em cena,
era palpável a mudança de seus sentimentos em relação à aventura (ou cilada,
como preferir) em que se meteu.
Confesso que fiquei preocupada e me senti de
mãos atadas vendo as provações pelas quais o coitado passou. Entretanto, o
sentimento mais nítido foi o de arrependimento. O rapaz acreditou que poderia
ter uma forma fácil de resolver seus problemas, mas só encontrou outros ainda
maiores e mais perigosos.
A situação dele não é única,
visto que a trama segue linha do tempo contínua e mais pessoas chegam com as
mesmas promessas de pesadelo e loucura, disfarçadas de vida boa e paz eterna.
Dessa forma, a melancolia, o desespero e o arrependimento reinam quase que o
tempo inteiro, especialmente quando a psicanalista Sophia Lamb entra em cena.
De todos os personagens secundários, aliás, foi a que mais gostei. Ela não tem
medo de dizer o que pensa, é inteligente e sabe em que terreno está pisando. Porém,
precisa ter estômago forte e ser corajosa diante de tantos obstáculos, além de
uma sociedade doente e mais quebrada do que acredita ser.
O que é coerente com o que
vinha sendo apresentado, ainda mais depois das ameaças de Ryan quando
reclamações chegavam em seus ouvidos. Não obstante, vendo como ele criou
diversas situações e a reação das pessoas, era de esperar uma narrativa com
certo movimento e reviravoltas. O que de fato aconteceu, porém não de uma forma
convincente.
Eu tinha a expectativa de ver
algo mais no estilo Revolução Francesa, ou mesmo 1984. Mas só vi uma verdadeira
farofa, com tantos elementos sem sentido que, sinceramente, não sei de onde
saíram e nem porque ganharam tanto destaque. O autor perdeu tanto tempo com
isso, que o mais importante ficou de fora e sem explicação.
Pelo fato de eu nunca ter
jogado, creio que sejam elementos presentes na trama original e podem ser
importantes nas missões que os jogadores precisem cumprir. No entanto, a forma
como foram inseridos no livro é nonsense
e dispensável. Assim, tive a sensação de ter lido dois livros separados,
emendados de qualquer jeito e não sei quando uma distopia interessante se
tornou um filme trash.
Além disso, o autor trouxe
tantos personagens secundários que mais parecia a torcida do Flamengo e me
deixou perdida em diversos momentos. Muitos deles ainda foram promovidos a
protagonistas de última hora, ganhando destaque repentino. Porém, sumiram com
um mero puf!, como se nunca tivessem existido. Por conta disso, fiquei com
várias perguntas sem respostas e me decepcionei um bocado.
O que é uma pena, pois a ideia
inicial era muito boa. É uma leitura densa e assustadora em um primeiro
momento, que me fez refletir bastante sobre o quanto o ser humano pode ser vil
e mostrar seu pior lado com facilidade. No entanto, o desfecho não me convenceu
totalmente por conta da mistura de tramas secundárias, que perdeu o foco e
encerrou de qualquer jeito.
Falando sobre o livro em si,
li em versão digital. Então, posso falar que tem uma diagramação bem feita,
assim como a revisão. A capa traz bem a ideia do que encontraremos ao longo da
leitura.
Não é um livro que eu iria
reler. Mesmo assim, recomendo a leitura para que tenha sua própria opinião
sobre a história.
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Parece ser uma boa obra, vou levar a sugestão!
ResponderExcluirBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Espero que goste, =)
ExcluirUma pena que a escrita talvez se perdeu querendo acrescentar muita coisa... e acaba ficando muitas coisas sem sentido que nem você falou. A história tinha potencial de ser melhor.
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Pois é, também acho que a história poderia ter um desenvolvimento melhor. Mas valeu a experiência.
ExcluirMais um livro que eu não conhecia e descubro aqui no seu blog!
ResponderExcluirNão parece muito ser o meu tipo de livro, mas sua resenha ficou ótima.
Beijos
https://brenshelf.blogspot.com/
Que bom que gostou da resenha, Brenda. E pois, é... às vezes o livro não é do nosso estilo. Vida que segue, haha
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