Depois de tantas aventuras, confusões e experiências de
morte por onde passava, Arthur Dent finalmente alcançou a paz.
Estava vivendo
ao som das ondas da praia em um planeta perdido nos confins do Universo,
curtindo sua própria companhia.
Do outro lado da galáxia, Ford Prefect vivia o sonho
betelgeusiano: hotéis cinco supernovas espaço afora, massagens, festas
intermináveis e garotas de todas as espécies possíveis ao seu dispor.
O clima
de paz era aconchegante e muito bem-vindo, tão convidativo, que não poderia ser
real... ou era?
Já Trillian McMillan se tornou uma repórter famosa, tão
conhecida por sempre perder um pedaço do corpo em suas missões atrás de um furo
de reportagem para a revista ‘Quem É’,
que agora é chamada de Trillian Astra.
E vivia um pesadelo com a filha Random,
agora a presidente da Galáxia e casada com um flaybooz (equivalente a um hamster
na Terra).
Apesar dos pesares, Trillian vivia uma vida boa e
confortável, também tão boa que chegava a não parecer de verdade. E se não
fosse?
É o que os três (ou quatro, já que Random vem junto), percebem quando
vão parar na Sala do Céu.
Eis que a vida incrivelmente maravilhosa deles nada mais era
do que induções psicológicas, criadas pelo Guia do Mochileiro das Galáxias,
versão II, que os acorda bem na hora que a Terra está para ser destruída pelos
vogons de novo.
Sem terem para onde ir e conformados de que logo não
existirão mais (de novo), literalmente sentam e esperam os raios da morte dos
alienígenas.
Porém, como a probabilidade está sempre contra eles, aos 45 do
segundo tempo, Zaphod Bebblebrox aparece e salva a turma, que embarca no
Coração de Ouro antes do planeta explodir.
Embora pareçam felizes pela pessoa mais improvável ter
aparecido e lhes salvado, seus problemas apenas começaram.
Isso porque Zaphod,
o atual ex-presidente da Galáxia, os coloca em uma enrascada, levando direto
para Asgard.
A ideia é convencer Thor a se livrar de Wowbagger, o imortal que
tem como missão de vida passar de planeta em planeta, xingando as pessoas em
ordem alfabética.
Em sua lista, o próximo planeta seria Nano, uma colônia de
humanos milionários que fugiram da destruição dos vogons.
Agora vivem a salvo e
estariam em clima de paz e harmonia, se não fosse pelas disputas de classe e
religião.
Em especial por parte dos Queijomantes, os quais já estão pegando no
pé de Hillman Hunter, o sócio majoritário do planeta.
E, logo que chegam a Nano, Zaphod e seus (nem tão) amigos
verão que o planeta pode ser novo, porém certas coisas nunca mudam,
principalmente quando se trata de humanos.
"Toda vez que o Universo desmoronava, Ford Prefect estava por perto. Ele e aquele livro maldito. Como é que se chamava mesmo? Ah, sim, O Dia do Mulambeiro é uma Falácia."
Conheci ‘O Guia do Mochileiro das Galáxias’ em 2015. Lembro
que foi uma leitura bastante agradável, em especial dos primeiros três livros.
Gostei mais por conta do humor ácido de Douglas Adams, que me conquistou, além
de boa parte das piadas e críticas, as quais ficaram gravadas na memória até
hoje.
Apesar de ter gostado dos dois últimos volumes (afinal, é
uma trilogia de cinco livros, hehe), a escrita era um pouco mais arrastada no
final, principalmente em ‘Praticamente Inofensiva’.
E depois entendi o porquê:
o autor, infelizmente, faleceu antes de concluir o livro e seu filho se
incumbiu da missão. O que deu um desfecho digno, porém não tão divertido.
Anos depois, foram lançados dois livros, como uma homenagem
ao autor: ‘O Salmão da Dúvida’, um
compilado de entrevistas, contos que Douglas Adams escrevia para um jornal e
até um conto perdido de Zaphod Bebblebrox, considerado, ao menos por mim, o
sexto volume. E o que a editora chama de sexto (e eu de sétimo), é ‘E Tem Outra
Coisa...’, que foi escrito por outro autor, Eoin Colfer.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Esse último dá uma espécie de continuação oficial para as
aventuras dos personagens. No entanto, essa foi a primeira tentativa do autor
escrevendo para um público mais adulto (ele é o autor da série ‘Artemis Fowl’)
e eu não sabia o que esperar. Num primeiro momento, achei que foi uma missão e
tanto continuar uma obra como essa. Sobretudo porque não foi ele quem escreveu
do começo e tava chegando de paraquedas num universo totalmente novo.
Fora que, embora eu tenha ficado órfã dos personagens, entendi
que as aventuras tiveram um final, não precisavam de mais nada. Então, foi uma
surpresa saber que esse livro existia.
E, devo dizer, que ele conseguiu levar a missão até o final.
A leitura foi bem mais fluida do que eu esperava, com o toque do humor ácido do
original e mantendo a personalidade de cada personagem.
Me vi dando risadas ao longo da leitura, principalmente
quando Zaphod Bebblebrox e Ford Prefect entravam em cena.
"Qualquer coisa pode ser real. Na verdade, tudo o que pode ser imaginado está acontecendo em algum lugar ao longo do eixo dimensional."
Gostei também que o
autor soube levar o tom sarcástico do original em cada página e, se não tivesse
visto o nome de quem escreveu na capa, diria que era uma obra perdida do
Douglas Adams.
Apesar de desconfiada no começo, não consegui largar a
leitura e queria saber quando Arthur Dent enfim teria sua paz de verdade, ou se
Ford iria criar um pouco de juízo algum dia.
Quem rouba a cena também é Random,
a filha de Arthur e Tricia McMillan (vocês não leram errado, Trillian Astra e
Tricia McMillan são a mesma pessoa, em realidades distintas, mas Trillian
acabou assumindo o papel de mãe de Random).
Confesso que não me lembrava dela, nem do seu talento para
confusões. É a típica adolescente chata e rebelde.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Mas no caso dela, acho que
nem tem como discutir se ela tem causa ou não. Especialmente levando em
consideração as circunstâncias nas quais a menina nasceu (seu nome tem tudo a
ver com elas, aliás).
"Já foi dito que o Universo tem certa aversão à ternura e normalmente não permite que ela exista por muito tempo [...]."
Acho até que Random puxou um pouco da Tricia, por ter tantas
atitudes que me lembraram sua mãe mais jovem, nos primeiros livros.
E, junto a Wowbagger, formam a dupla mais improvável,
disputando para ver quem é o mais insuportável.
Enquanto eles competem numa
guerra só deles, Zaphod está tentando convencer Thor a voltar à ativa, para
tirar a fama de bad boy aproveitador,
que o próprio Zaphod lhe deu, quando deixou vazar uns vídeos seus na SubetaNet.
Ler sobre o deus aqui foi como ler um dos filmes dos
Vingadores, onde Thor meio que se aposenta e vai afogar as mágoas em bebidas e
ganha uma pança de cerveja.
Embora ainda esteja com raiva de Zaphod, acaba
aceitando o desafio de matar Wowbagger e “salvar” os humanos de serem xingados.
Afinal de contas, que deus ele seria se não conseguisse eliminar outro imortal como
ele?! Além disso, teria a chance de ser adorado novamente, dessa vez como um
salvador, e sua boa fama voltaria entre seus fãs.
Mas as coisas não serão tão fáceis assim, já que os vogons
ainda não completaram a missão e precisam eliminar todos os humanos do Universo
conhecido, para garantir que a Terra não surja novamente e nem atrapalhe a
construção da Via Expressa Interespacial.
As confusões parecem nunca ter fim, e Zaphod Bebblebrox só
piora as coisas ainda mais, pois onde ele está é problema na certa.
Mas também
pode salvar, já que a teoria da improbabilidade dá diversas variáveis e tudo é
possível.
Gostei bastante de ver como tudo se desenrolava, ainda que
sem sentido no meio do caminho, mas se achando no final, como é o estilo da
série toda.
Por ser uma sátira, tem várias críticas feitas à sociedade atual,
as quais foram muito bem colocadas e fazem total sentido.
Em especial sobre
liberdade religiosa, que tanto se prega, porém pouco se respeita.
Isso foi um fato que me chamou bastante atenção e me vi
marcando o livro quase todo, pois não queria perder as passagens.
A própria
busca de Hillman por um deus me chamou atenção, por me tocar que religião pode
muito bem andar de mãos dadas com jogos políticos.
E precisamos filtrar bem as
informações, para não sermos ludibriados com falsas promessas de salvação e/ou
danação eterna, caso não obedeçamos alguma regra.
Além da capacidade que o humano tem de buscar uma explicação
religiosa em tudo o que acontece e até ver milagres onde não existem.
Fora a
linha tênue entre acreditar em algo e se tornar membro de uma seita
intolerante, como aconteceu com os Queijomantes.
Não apenas isso, mas também a questão de Random ter pais
ausentes e o que poderia causar em sua cabeça quando começasse a ter mais noção
do que a cerca.
Quando finalmente ela e Arthur se entendem, não consegui deixar
de pensar, também, em ‘O Mágico de OZ’, onde tanto se fala sobre ter um lar e
uma família de verdade.
Se parar para pensar, era tudo o que Arthur e Random
queriam.
Mas tudo conspira para que eles não tenham mais e ficam
pulando de planeta em planeta, ou mesmo de realidades.
Com os dois, isso foi possível,
porém deixa uma brecha para reflexão para nossa realidade atual. O que
consideramos um lar? E como ficaríamos se não tivéssemos um?
Confesso que, mesmo sendo uma obra recheada de piadas, me vi
pensando sobre isso e fiquei incomodada (de uma maneira mais reflexiva).
Em
outras palavras, embora seja cheia de reviravoltas improváveis e beirando a
comédia pastelão, foi uma experiência interessante e que me levou a pensar.
Apesar de não substituir o legado de Douglas Adams, foi uma
nostalgia ver Arthur Dent e Ford Prefect aprontando no espaço.
Entretanto,
mesmo gostando do livro em si, não acho que ‘O Guia do Mochileiro’ necessitasse
de mais livros do que já tem.
Até agora não sei quem tanto esperava uma continuação da
obra, pois nunca vi movimentação nesse sentido.
Até porque o autor faleceu há
um tempo e, meio que os fãs estavam conformados com o que não poderiam mudar.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Além disso, foi uma sequência que arrancou risadas e
reflexões, porém não respondeu muita coisa dos livros anteriores.
Apenas criou
mais confusões para os personagens se enrolarem e pronto.
Falando sobre o livro em si, gostei bastante da edição, que
segue o padrão dos livros anteriores. Traz o Thor e seu martelo na capa, em
destaque ao lado do Queijo, a divindade de Nano.
As folhas são mais grossinhas,
fáceis de passar e rendem uma leitura agradável, assim como a fonte em tamanho
legível e sem exageros.
A revisão está legal, embora tenham passado vários
errinhos lá no final do livro, que tem até mais páginas do que o necessário
para essa aventura.
Em resumo, é um livro legal, com um
acerto do autor que escolheram para dar sequência. Porém, ainda acho que foi
desnecessária, dada a história da série.
Oie, juro que nunca tinha me atentado que o autor tinha escrito um dos livros dessa série. Li apenas Artemis Fowl, e gostei muito. E sobre o Guia do Mochileiro, li até o terceiro volume, mas ainda não conetinuei. Agora estou relembrando de que preciso continuar haha.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Pois é, haha. Eu também gostei bastante de Artemis Fowl, por isso dei uma chance agora.
ExcluirOi Hanna, tudo bem?
ResponderExcluirEu comecei a ler a série, mas acho que só li os dois ou três primeiros, não lembro bem. Não sei por que, mas as histórias não me prenderam mesmo eu tendo gostado. Recentemente redescobri o filme que fizeram e não paro de assistir, mas sei que ele segue um caminho diferente dos livros.
Até mais;
Mente Hipercriativa | Universo Invisível
Ao contrário de você, li todos os livros, mas nunca vi o filme, haha. Mas tenho curiosidade.
ExcluirOi, Hanna! Como vai? Sabe que ainda não li este livro em questão, embora eu tenha curiosidade em lê-lo. Que bom que gostou. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Que bom que gostou, Luciano, ^^. Se ler, me fale o que achou?
ExcluirOi Hanna
ResponderExcluirEu adoro livros com títulos diferentes! E tenho muita curiosidade para ler esta série!
Dicas anotadas
Adoro a nossa parceria nesta TAG.
Beijos e até o mês que vem
Que bom, Clauo. ^^ Até o mês que vem! =)
ExcluirEssa série parece bem interessante. Eu gosto de livros que me fazem rir.
ResponderExcluirBjus!
galerafashion.com
Ah, então vai gostar desses livros também, =)
ExcluirOlá, Hanna.
ResponderExcluirQue bom que gostou do livro apesar dos pesares. Como comentei na outra postagem eu sou dessas que tenho ranço por esse tipo de coisa e não é só com os livros da Agatha, que a fulana lá nunca deveria ter mexido com meu Poirot, até porque a própria Agatha matou ele para isso não acontecer, mas tem os livros do Sidney Sheldon também que estragaram tudo em A senhora do jogo e os livros da trilogia Millennium que deveria ser apenas uma trilogia e tem outros autores também. mas hoje me dia tudo o que importa é dinheiro.
Prefácio
Eu concordo com você, Sil. Mesmo que o resultado seja uma boa leitura, nunca será a mesma coisa. Especialmente quando a série/trilogia já foi encerrada e o autor se foi. Não faz sentido mesmo.
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