Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de mais um nacional por
aqui. Esse foi o livro de abril do Projeto 12Livros para 2023, em parceria com a Karla do Pacote Literário e mediado pela Ana do Morcegos Literários.
Dessa vez, o sorteado da pilha foi o número 1 e trago minhas impressões
sobre ‘O Sorriso da Hiena’, um thriller
que divide opiniões até hoje entre os leitores.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
ALERTA: Pode conter gatilhos de violência extrema.
25/60
Livro: Sorriso da Hiena
Autor: Gustavo Ávila
Editora: Verus
Ano: 2017
Páginas: 264
Atormentado por achar que não faz o suficiente para tornar o mundo um lugar melhor, William, um respeitável psicólogo infantil, tem a chance de realizar um estudo que pode ajudar a entender o desenvolvimento da maldade humana. Porém, a proposta feita pelo misterioso David coloca o psicólogo diante de um complexo dilema moral.
Para saber se é uma pessoa má por ter presenciado o brutal assassinato dos seus pais quando tinha apenas oito anos, David planeja repetir com outras famílias o mesmo que aconteceu com a dele, dando a William a chance de acompanhar o crescimento das crianças órfãs e descobrir a influência desse trauma na vida delas.
Até onde ele será capaz de ir? É possível justificar o mal quando há a intenção de fazer o bem?
Uma família foi brutalmente destruída décadas atrás. Os pais foram
mortos com requintes de crueldade e apenas o garotinho de oito anos sobreviveu.
A criança foi criada pelos tios e chegou à fase adulta.
No entanto, não se pode dizer que sua vida está tranquila e tudo leva a
crer que seria devido ao que lhe aconteceu na infância. A ideia toma forma ao
conhecer William, um renomado psicólogo infantil, que defende uma hipótese
semelhante.
Assim, o rapaz decide fazer a seguinte proposta ao terapeuta: repetir os
assassinatos e ver até que ponto um trauma do passado pode influenciar o futuro
de uma pessoa. Embora absurda, essa é a chance que o profissional tem de provar
um ponto de suas pesquisas e salvar gerações futuras. Mas até que ponto uma
pessoa deve ir em nome da ciência? E isso o torna um herói ou um vilão?
“- O mal nada mais é do que um buraco que quer
desesperadamente ser preenchido, detetive.”
Logo que esse livro foi lançado, teve todo um hype que surgiu junto. Os comentários eram muito positivos e acho
que chegou a ser um dos mais vendidos na época, chamando mais atenção por ser
nacional.
Eu estava super curiosa, principalmente por não conhecer tantos romances
policiais brasileiros na época. Porém, o tempo passou e acabei esquecendo um
pouco dele. Na Bienal do Livro de 2021 relembrei dessa vontade e aproveitei
para comprar o exemplar físico (mas ficou encalhado na estante desde então,
rsrs).
Quando anunciei que leria essa obra pelo ‘12 Livros para 2023’, percebi
que o hype perdura até hoje, devido à
expectativa do público comentando na publicação. Contudo, não me atentei tanto
a isso e resolvi ler sem esperar muito em troca. Assim, pude reparar na obra sem
grandes influências, o que levou a uma experiência não tão boa assim, por
sinal.
A narrativa é em terceira pessoa e conhecemos os fatos pelo ângulo de
três personagens principais: David, William e Artur. O primeiro é o assassino.
Sim, você leu certo e não estou dando spoiler.
David é a única vítima sobrevivente de um caso brutal envolvendo sua família 24
anos atrás.
Apesar de ter recebido atenção de pessoas importantes, que se
preocupavam com ele, sua revolta nunca acabou. Especialmente devido a forma como
a polícia lidou com o caso na época. Além disso, o rapaz não teve muita sorte
na vida e só viu o lado ruim do mundo, o que também não ajudou muito em seu
crescimento.
Já adulto, David quer provar a hipótese de que ele não é culpado de nada
do que aconteceu, e que sua vida hoje foi pautada unicamente pelo trauma de
infância. A ideia é interessante num primeiro ponto de vista.
No entanto, os
métodos escolhidos para realizar o estudo não são nada louváveis. Sobretudo
quando começa a colecionar novas “cobaias” aleatórias pela cidade e decide
procurar um especialista para interpretar os dados.
“Às vezes, sr. Quintela, é melhor não descobrir o que as pessoas sentem.”
William, por sua vez, é um terapeuta brilhante e tido como herói pelos
corredores acadêmicos. É muito dedicado ao que faz e sempre se preocupa com
seus pacientes. Tem uma vida tranquila com sua noiva e convive bem com os
amigos.
Contudo, até hoje se sente incomodado por conta de sua tese de
doutorado. O tema é bastante comentado atualmente entre professores e colegas,
o qual é considerado inovador e impressionante.
Apesar disso, é uma hipótese
que nunca poderia ser provada, dado que precisaria ultrapassar limites de ética
e usar cobaias humanas. Algo que ele jamais faria, ao menos não até o momento.
As coisas parecem mudar de figura quando David se mostra um profundo
admirador de seus estudos e capaz de fazer o que ele nunca teve coragem. A
proposta é tão absurda que seria impensável para qualquer um.
Mas William
começa a considerar a realização de um sonho antigo e ser, de fato, o herói que
o mundo precisa. O problema é o preço necessário para chegar a esse nível.
Enquanto a dupla brinca de “Senhores do Destino”, mais vítimas aparecem
pela cidade e os casos caem no colo de Artur, o melhor detetive do departamento.
O rapaz tem uma personalidade peculiar, devido à síndrome de Asperger, que o
faz não ser uma das pessoas mais amáveis.
No entanto, seu jeito mais racional e
direto de ver os fatos pode ser de crucial importância para a resolução dos
casos antes que mais famílias sejam destroçadas. Olhando essa premissa, seria de se esperar um suspense eletrizante e de
tirar o fôlego, mas só serviu para tirar minha paz e me deixar com muita raiva
mesmo.
Para começar, achei uma ideia de coragem deixar um assassino logo à
vista do leitor. Assim, a ideia não seria descobrir “o culpado”, mas brincar
para ver quem vencia a guerra de “mocinho e bandido”. O que seria ótimo, pois
vejo bastante nos livros de Lupin e me acendeu uma certa expectativa (ok, falei
que não criaria, mas diante disso, foi impossível de segurar).
Mas recebi um balde de água fria no instante seguinte, ao notar que
Artur não era uma mente brilhante à altura de David. Pela descrição do
detetive, eu fiquei confusa com o objetivo do autor. Isso porque ele descreve
em detalhes a síndrome de Asperger e como essa condição faz o personagem super
inteligente e, por consequência, o melhor investigador do departamento. Contudo,
vi o completo oposto, o que me decepcionou.
Artur pode ser racional e um gênio, disso não duvido. No entanto, ao meu
ver, ele faria sucesso na Europa, convivendo com outros detetives tão lerdos e
bananas quanto. Além disso, acho que a descrição detalhada do personagem só
serviu mesmo para o leitor relevar os momentos em que ele é um grosso e parece
arrogante com todos a sua volta (algo que ele faz com maestria, por sinal).
Esperava me conectar mais com o detetive, não por pena, mas por
curiosidade do que ele poderia oferecer. Porém, ele não mostrou todo o seu
potencial e eu só via um passarinho querendo bater asas e caindo logo em
seguida, sendo passado para trás na primeira oportunidade.
Diversas pistas estavam bem na cara de Artur e ele deixava passar, como
se fosse uma marionete. O que gerou muitos momentos de raiva, em que eu queria
só entrar no livro e mostrar uma placa luminosa para ele com “A PISTA É ESSA,
CRIATURA!”.
Em relação à dupla David e William, eu juro que tentei entender e
defender, mas depois eu vi que não valia a pena. O primeiro é vítima de um
sistema quebrado, um fato que infelizmente ainda acontece muito nos dias de
hoje. Ainda mais em cidades mais pobres, onde a criminalidade é grande e os recursos
para investigação são poucos.
Porém, nada do que ele passou justifica suas atitudes depois de adulto.
Ele pelo menos reconheceu que sua vida era torta, mas teria sido muito melhor
procurar um analista para se tratar, em vez de justificar seus atos. Isso só o
tornou em um cara mais com “White people
problems”, que me deu ranço e eu queria que se explodisse!
“[...] Certas coisas nunca saem de você. Certas coisas nunca se consertam.”
William, por sua vez, poderia ser um psicólogo renomado, mas também
precisava marcar hora no psiquiatra com urgência. Ele é uma boa pessoa para a
noiva e os amigos. Porém, quando se via sozinho, era possível ver sua
verdadeira face.
Eu confesso que fiquei com medo desse cara quando percebi até onde sua
vaidade era capaz de levar. Nitidamente tinha a síndrome de “Médico e Monstro”
e eu não sabia quem era o verdadeiro vilão: ele ou o David. No fim das contas,
acho que os dois se merecem e deveriam queimar juntos no forno (se lerem o
livro, vão saber a que me refiro).
A trama em si se desenvolve bem, tem um desfecho condizente e crível, no
qual todo mundo tem uma parcela de culpa. Assim, são pessoas reais e mostram
que nem sempre a vida é uma luta de personagens totalmente ruins contra
adversários sempre bonzinhos. Pelo contrário, a vida é cruel e a humanidade é
má por natureza.
No entanto, pela forma como vinha sendo conduzida, várias pontas foram
deixadas para trás e senti falta de respostas. Além disso, o desfecho de alguns
personagens secundários foi desnecessário, ainda mais levando em consideração
que o gancho não foi aproveitado para amarrar o que faltava de forma mais
convincente.
O resultado foi uma leitura ok, que teve começo, meio e fim bem
definidos. Porém, não é um livro que leria novamente e nem acho que vale tanto
o hype. Entretanto, ainda recomendo a
leitura para que tire suas próprias conclusões. Afinal, se não funcionou
comigo, não quer dizer que também não dará certo com você.
Falando sobre o livro em si, eu gostei da diagramação, que é simples e
objetiva. A revisão foi bem feita e a capa tem um contraste de cores
interessante. Porém, se prestar bem atenção, ela pode ser um tipo leve de spoiler. Aliás, o título é explicado de
uma forma genial, o que rendeu uns pontinhos para a trama.
E o andamento parcial do projeto segue assim:
E aí, já leram esse livro ou algo do autor? Tiveram uma experiência literária que não valia a fama? Me contem nos comentários.
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Oi Hanna! Já li sim e gostei da obra, apesar de o final não ter sido o que eu desejava. Foi o único do autor que li e tenho vontade de conferir outros trabalhos dele. Bjos!! Cida
ResponderExcluirMoonlight Books
Pois é, o final me decepcionou um bocado. Mas vida que segue, né? Espero que os outros trabalhos dele funcionem melhor que esse.
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