Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de ‘Entre Quatro
Paredes’, um thriller psicológico que
me tirou totalmente dos trilhos e ainda estou tentando assimilar.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
ALERTA: Pode conter gatilhos de encarceramento
12/60
Livro: Entre Quatro Paredes
Autora: B. A. Paris
Tradução: Roberto Muggiati
Editora: Record
Ano: 2017
Páginas: 264
Grace é a esposa perfeita.
Ela abriu mão do emprego para se dedicar ao marido e à casa. Agora prepara jantares maravilhosos, cuida do jardim, costura e pinta quadros fantásticos. Grace mal tem tempo de sentir falta de sua antiga vida.
Ela é casada com Jack, o marido perfeito.
Ele é um advogado especializado em casos de mulheres vítimas de violência e nunca perdeu uma ação no tribunal. Rico, charmoso e bonito, todos se perguntavam por que havia demorado tanto a se casar.
Os dois formam um casal perfeito.
Eles estão sempre juntos. Grace não comparece a um almoço sem que Jack a acompanhe. Também não tem celular, que ela diz ser uma perda de tempo. E seu e-mail é compartilhado com Jack, afinal, os dois não guardam segredos um do outro. Parece ser o casamento perfeito. Mas por que Grace não abre a porta quando a campainha toca e não atende o telefone de casa? E por que há grades na janela do seu quarto?
Às vezes o casamento perfeito é a mentira perfeita.
Grace e Jack são um casal digno de contos de fadas. Ela é uma mulher
dedicada ao marido e à sua casa. Até largou o emprego para poder viver o sonho
de ser uma dona de casa perfeita.
Já o rapaz é super atencioso, carinhoso e ama tanto sua esposa, mantendo-se
sempre por perto. Nunca a deixa desacompanhada, lhe dá abraços sinceros e faz
tantos gestos se declarando para a mulher, que deixaria qualquer casal com
inveja.
A família só não está mais completa por falta de um bebê. Apesar disso
os pombinhos estão sempre tentando e falhando. Para se dedicar totalmente à
maternidade, no entanto, Grace abriu mão não apenas da profissão, mas também de
telefone celular, e-mails e qualquer
tipo de contato que seja considerado perda de tempo no mundo moderno.
Jack, por sua vez, é um advogado de renome e especializado em casos de
violência doméstica. Um verdadeiro herói nos tribunais, fazendo justiça para as
pessoas menos favorecidas. Sua fama é maior por nunca ter perdido um caso, o
que garante honorários gordinhos e uma vida estável com sua mulher.
Mesmo que tudo conspire para ser um marido relapso, o rapaz consegue
provar o completo oposto. Ou seja, é sempre presente em todas as ocasiões, como
o cara perfeito. O relacionamento deles também é lindo e atrai olhares
apaixonados e que acreditam em finais felizes. Nunca brigaram, nem sequer
deixaram de ser grudados e demonstrar o quanto sentem a falta um do outro,
mesmo depois de meses casados.
No entanto, olhando de perto para esse casal de margarina, é possível
notar alguns detalhes peculiares, o que leva à pergunta: até que ponto um
relacionamento de contos de fadas pode ser um sonho ou um pesadelo?
“Na verdade, há tantos ‘perfeitos’ ecoando pelo hall quando Jack fecha a porta que eu sei que tive sucesso.”
Esse é o segundo livro do projeto 12 Livros para 2023 (sorteado n°3),
mediado pela Anna do Morcegos Literários
e em parceria com a Karla Samira do PacoteLiterário. Quando abri o pacote e descobri a leitura de fevereiro, confesso
que não sabia o que esperar. Nunca tinha lido nada da autora e peguei a obra de
uma troca do Skoob, sem saber muito a respeito.
Como falaram bem dele, fiquei curiosa e aproveitei para ler durante o
carnaval. Pela quantidade de páginas, a leitura foi até bem rápida. Mas não
posso dizer o mesmo da trama, a qual é bem indigesta e difícil de lidar.
A narrativa é em primeira pessoa e vemos todos os fatos pelo ângulo de
Grace. A protagonista era bem ativa e vivia viajando a trabalho. Com uma ponte
aérea constante ente sua casa em Londres e Buenos Aires, sua rotina era
bastante agitada e mal tinha tempo para nada. Que dirá se envolver em relacionamentos,
já que dificilmente ela se dava bem com os caras quando descobriam mais a
respeito de suas responsabilidades.
A moça tem uma família pequena, cujos pais estão para se aposentar e
vivem em debate para ver quem ficará com a guarda de sua irmã mais nova. Millie
é uma jovem adorável e conquista a todos por onde vai. No entanto, é bem
evidente o quanto não é desejada pelos progenitores, já que é fruto de uma
gravidez inesperada e mal recebida.
A situação é mais complicada pelo diagnóstico de que Millie tem síndrome
de Down. O que torna seus pais ainda mais relutantes em assumir a
responsabilidade da educação da menina. Assim, Grace assume toda a carga de
cuidar da caçula quase como se fosse a mãe. E, apesar dos pesares, a relação
dessas duas é muito linda, pois é perceptível o quanto são unidas.
Porém, isso causa desconforto (preconceito na verdade) dos pretendentes
a namorados da protagonista. O único que pareceu não apenas aceitar, mas ficar
feliz em conviver com Millie foi Jack, o cara que caiu de paraquedas em sua
vida. Grace não poderia perder a oportunidade de ficar com o cara que aceitou
suas condições.
A linha do tempo oscila entre passado e presente. Dessa forma, temos um
vislumbre de como os pombinhos se conheceram e de sua vida atual. Ao longo das
páginas, vemos Jack como um príncipe encantado que esqueceu o cavalo branco em
casa. Tem um emprego estável, uma casa boa e faz de tudo para manter sua amada
em segurança e com o maior conforto possível.
“Era terrível que de vez em quando eu sentisse esperança, pois Jack voltava a ser o homem por quem eu havia me apaixonado quando estávamos em público.”
Além disso, é um cara charmoso e cheio de amor para dar. É praticamente
impossível resistir à sua voz aveludada, um corpo bonito e um olhar apaixonado.
O relacionamento dos dois foi amor à primeira vista e logo estavam planejando
casamento.
Contudo, não demora muito para que o leitor perceba até onde a dedicação
de um marido apaixonado pode chegar. Como fala o ditado, só conhecemos as
pessoas quando criamos certos laços de intimidade com elas. Mesmo assim,
podemos nos surpreender.
E sinceramente, não gostei nem um pouco do que vi. Não posso falar
muito, afinal o livro é curtinho e eu corro riscos de soltar bastante spoiler.
Mas posso afirmar que acompanhar os fatos pelo lado de Grace não foi nem
um pouco confortável. Ver o quanto a protagonista abriu mão de tudo para ser
uma “boa esposa” me deu agonia e revolta em um primeiro momento.
Vi apenas uma mulher que nunca amou na vida e agora quer correr para ter
seu “final feliz” e manter o status
de mulher casada. Sei que quando estamos apaixonados cometemos erros, mas um
casamento é algo sério e até bem caro, mesmo sendo algo discreto. Então, achei
um tanto precipitada a cerimônia, mesmo que ela afirmasse que ele era o cara
certo.
Sua devoção ao marido era tão cega e sem limites, que me deu ranço e eu
já estava a ponto de abandonar a leitura. No entanto, conforme eu via o antes e
depois desse relacionamento e entendia o porquê de Grace se submeter a tantas
situações arcaicas com seu marido, só senti medo e pena dela.
A verdade é que nunca conheceremos de fato as pessoas com quem
convivemos e nossa opinião pode mudar quando conhecemos novos fatos. O que
compreendi nitidamente com Jack. O marido amoroso e cheio de carinho é um
príncipe quando tem visitas. Mas só quem o olha de perto pode dizer quem de
fato ele é. O rapaz é mesmo um bom marido? Ou está apenas cumprindo um papel?
“Por que as pessoas reunidas aqui hoje acreditariam na minha versão, e não na de Jack, quando a dele soa bem mais plausível?”
O tempo todo temos essa dúvida no ar. Afinal, vendo tudo pelo ângulo da
esposa, a qual tem um histórico de instabilidade mental, pode ser tudo fruto da
mente dela ou não. Isso contribuiu para minha agonia e eu não sabia se abraçava
Grace ou saía correndo.
Millie, por sua vez, é uma personagem sem igual. Tem uma união que
apenas se fortalece com sua irmã e elas enfrentam qualquer adversidade juntas.
Talvez por saber desde criança o que é receber olhares atravessados e de pena,
a caçula percebe diversas nuances na irmã mais velha, as quais passariam batido
para qualquer outra pessoa. Gostei demais de ver a interação dessas duas e
torcia por elas o tempo inteiro.
Outra personagem secundária que brilhou foi Esther. Ela é esposa de Adam
(sócio de Jack) e está começando a frequentar a casa de Grace. E poderia passar
despercebida, a não ser que se destaca como a única pessoa com senso de
realidade naquela rodinha de amigos.
Entretanto, confesso que ler as cenas em que apareciam me deram dúvida
se de fato ela queria ajudar ou tentar se dar bem provando um ponto de vista
egocêntrico. Aliás, acho que dúvida foi o que mais tive em relação a essa
leitura. Toda teoria que eu elaborava em um capítulo se desfazia no seguinte. Logo,
eu já não sabia quem estava mentindo, muito menos o que era real.
O desfecho se amarra da mesma forma que a trama começou. Com um final
aberto, passei boa parte do dia conjecturando diversas respostas plausíveis
para explicar o que foi exposto ao leitor. E, sinceramente, ainda não tenho
certeza se fazem sentido.
Foi uma leitura que me tirou do chão e mexeu bastante comigo em diversos
sentidos. Tive medo, angústia, raiva e muita revolta. Nem sei se irei superar
esse livro algum dia.
Em relação à obra em si, eu gostei bastante da diagramação simples, além
das páginas mais grossinhas e amareladas. A revisão está de parabéns, assim
como a capa; convidativa e ao mesmo tempo misteriosa.
Finalizando, recomendo a leitura, mas vá sem expectativas, abra sua
mente e prepare bem o seu espírito. ‘Entre Quatro Paredes’ não é uma leitura
para quem tem estômago fraco.
O resultado parcial do 12 Livros para 2023 segue assim:
Já leram esse livro? Qual foi uma leitura indigesta para você? Me contem aí!
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Só de ler essa sua resenha já deu para perceber que é o tipo de narrativa que deixa a gente bem instável... essa situação de não saber se a protagonista está vendo o que realmente pensa, pela sua instabilidade.. deve dar um nervoso...
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Resumiu bem esse livro, Monique. me senti exatamente assim durante a leitura e não recomendo para quem tem estômago fraco.
ExcluirFiquei bastante curiosa! Vou levar a sugestão!
ResponderExcluirBjxxx
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Que bom! =)
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