Bea Schumacher é uma blogueira de moda plus size. Seus posts nas redes sociais chamam bastante atenção,
especialmente por sempre passar a confiança de uma mulher empoderada. Ela
sempre provava de todas as maneiras que qualquer pessoa pode se vestir bem,
independente do tipo de corpo que possua.
Embora sua fama seja considerável, parece que está para crescer ainda
mais, depois de alguns comentários no Twitter a respeito do reality ‘É Pra Casar’. Posts esses que
viralizaram, envolvendo opiniões fortes sobre como as pessoas são escolhidas a
dedo, estereotipadas e o programa preconceituoso indiretamente. Apesar de já
estar acostumada com a repercussão de seu conteúdo na internet, a moça só não
esperava ser convidada a ser protagonista da próxima edição.
A ideia a princípio é boa. Afinal, seria sua chance de mostrar para o
mundo que qualquer pessoa pode se casar, mesmo que não tenha o corpo padrão.
Mas será que ela está preparada para o matrimônio?
“Você será alguém que todo mundo precisa ver.”
Esse livro jamais passaria pelo meu radar se não fosse pelo Clubinho da
PJ (Pequena Jornalista). Mesmo que as
participantes do grupo tivessem falado muito bem, tentei ler sem criar grandes
expectativas, para evitar decepções.
Narrada em terceira pessoa, vemos a história pelo ângulo da
protagonista, mas também da mídia que a acompanha desde antes do reality. Bea é uma mulher linda e
poderosa, que ganhou o mundo após a faculdade de moda ter lhe aberto os
horizontes sobre si mesma.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
No intuito de dividir suas experiências com outras pessoas que também
não são o corpo padrão que a sociedade pede, a moça se tornou reconhecida por
ter seguidoras iguais a ela. Ou seja, só queriam ser felizes e não correr atrás
de uma dieta milagrosa para se encaixar em um padrão. Com milhares de
seguidores nas redes e um blog repleto de comentários, ela é muito boa no que
faz e ama seu trabalho.
No entanto, nem apenas de moda fala uma blogueira. Como uma super fã de
‘É Pra Casar’, o reality mais famoso
dos Estados Unidos atualmente, a moça solta diversos comentários no Twitter a
respeito dos participantes. Seus comentários são bastante pertinentes, de modo
especial em relação ao fato de só aparecerem pessoas de corpo perfeito e com
ideias bem nada a ver sobre amor e vida a dois.
Embora fosse apenas um divertimento ao compartilhar ideias com seus
leitores, Bea jamais imaginou que tais opiniões tomariam uma proporção tão
grande. De um dia para o outro, seus posts viralizaram e entraram para as
trends dos mais lidos na semana.
O movimento em relação ao assunto foi tão intenso, especialmente no
final da temporada, que logo tiveram mudanças drásticas na produção. A começar
pelos burburinhos sobre a blogueira ser a pessoa mais cotada para a próxima
edição.
A visibilidade seria ótima para Bea. Afinal, seria sua oportunidade de
mostrar para o mundo o que sempre pensou: não são apenas pessoas de corpo
perfeito que tem direito a finais felizes. Além disso, uma oportunidade como
essa não virá de novo nem em um milhão de anos!
“Para uma mulher gorda, ficar sob os holofotes não é exatamente um
passeio no parque.”
Só teria um problema: a proposta do reality,
como o próprio nome já diz, é se casar no final. Contudo, não é algo que esteja
nos planos de curto prazo da mocinha.
Sendo assim, estaria fora de cogitação se
apaixonar por quaisquer que fossem os pretendentes selecionados. A condição,
embora contraditória, soa plausível para a produtora Lauren. Afinal, tudo em
nome do show bussiness, mesmo que
seja uma propaganda enganosa para os telespectadores.
Confesso que, apesar de ter ficado incomodada com essa proposta de
vender algo mentiroso na TV, entendi os motivos da protagonista. Além disso, eu
gostei da Bea logo de cara, por ser gente como a gente. Ela é sempre cercada
por uma família unida e amigos maravilhosos, os quais estão sempre presentes.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Porém, mesmo que seja uma pessoa poderosa e segura de si diante do
público, pude ver um lado mais íntimo da personagem. O que até explica um pouco
de seu receio em se deixar apaixonar diante das câmeras. Vivemos em um mundo
doente, isso é um fato. Logo, pessoas que se sentem felizes com seu próprio
corpo não são bem aceitas.
O preconceito sempre rola solto, mesmo que por trás de “tentativas de
ajuda” desnecessárias. Assim, me identifiquei com diversos comentários que a
moça recebia em suas redes sociais. Diversas pessoas “esclarecidas” indicavam dietas
fantásticas e capazes de fazê-la perder uns quilos para ser mais bonita. Homens
se diziam enojados por ficarem perto e sequer cogitavam beijar uma mulher
gorda, como se fosse algo contagioso.
Óbvio que eu não sei as dores que Bea sentia ao ler esses comentários.
Afinal, cada pessoa sabe os limites das dores que sente. Mas acho que posso
entender o mais próximo disso ao me lembrar que ouvia coisas parecidas quando era
criança/adolescente. De que “nossa, Hanna precisa emagrecer, está muito gorda”,
ou “nenhum homem vai te querer assim, feia e gorda” ou mesmo “fulaninha fez a
dieta xyz e está com o corpo lindo. Por que você não tenta?”. Fora os apelidos
ofensivos e desnecessários que tinha na escola, que sempre me faziam voltar
chorando para casa e me tornar cada vez mais fechada.
Engraçado que ainda hoje, depois de adulta e mais magra (o que foi
perfeitamente natural, por conta do meu metabolismo), os comentários são sempre
a respeito de “o quanto sou magra demais e que isso é sinal de que não me
alimento direito”, que “eu deveria engordar um pouco para ter um corpo mais
bonito e padrão”, ou mesmo “uma série de exercícios capazes de me deixar com um
ar mais saudável”. Mas ninguém me perguntou se de fato eu pedi tais opiniões. O
mesmo se aplica à Bea.
“[...] mas todo mundo que já esteve no centro das atenções sabe como é
complicado. As pessoas projetam as inseguranças em você.”
Vendo a forma como ela lidava com tais comentários me levou a essas
lembranças do meu passado e as respostas que eu queria dar para os intrometidos
na época. Ainda mais vendo a forma como seus ex a tratavam.
Sinceramente, quando o último sumiu e não deu mais notícias, minha
vontade era de gritar bem alto: já vai tarde! Mas Bea é uma pessoa como
qualquer outra. Então é normal se sentir insegura de vez em quando e só querer
ficar na zona de conforto, nem que seja algo doloroso.
Ainda bem que sempre existe uma amiga nessas horas para abrir os olhos
da moça e falar umas verdades que me coçavam na língua. Alguém precisava dizer
para essa criatura acordar e sacudir a poeira em relação a esse embuste.
Amiga essa que foi um dos grandes motivos para convencer Bea a pelo
menos tentar participar do reality.
Afinal, seria a sua grande chance de aparecer na TV para milhões de pessoas,
ganhar mais fama e mais seguidores. Além de conhecer diversos outros homens e
fazer a fila andar de uma vez. O que, a muito custo, a moça aceita.
Embora a blogueira não pudesse mais acessar seus contatos via internet,
a não ser por autorização da produção, os leitores acompanhavam os burburinhos
sobre a escolha da nova estrela do reallity.
O que foi bom, pois além de mostrar como o público reagia aos acontecimentos do
programa, deixava a leitura dos capítulos mais rápida e dinâmica. Isso ajudou
bastante, especialmente por serem capítulos bem longos, que o Kindle estimava cerca de 1h para
conclusão de cada um.
Com o desenrolar dos episódios, o leitor viaja junto com a equipe ao
redor do mundo para gravar nos locais mais românticos conhecidos. Porém, isso
não me impediu de passar raiva em diversos momentos com os tais pretendentes.
Nessas horas eu só queria pegar o primeiro voo, para chegar lá no set de
filmagens e jogar esses caras ao mar. Isso sim seria um favor para a
humanidade!
Sinceramente não sei quem seria a pessoa besta o suficiente para se
envolver com cada ser grotesco e nojento como eles. E pior que ainda se sentiam
a última bolacha do pacote, no direito de exigir coisas, sendo que a comandante
era a Bea!
“A vida não é um conto de fadas, nem mesmo em um programa criado para
ser um.”
Mas olhando bem de perto, infelizmente não é uma situação muito longe da
realidade (o que é bem triste, por sinal). Não importava se ela fosse gorda,
magra, alta, baixa, sempre iam arranjar um motivo idiota para caçoar dela e
disfarçar a baixa autoestima deles mesmos. Me lembrou também de porque eu
detesto reality.
O clima tóxico e denso se mantém ao longo de boa parte do livro,
tornando a experiência complicada em diversos momentos. Mas nem por isso eu
deixei de torcer pela felicidade de Bea. Ao longo da leitura eu sorri, senti
raiva, queria abraçar e também dar uns sacodes. Porém, jamais desisti de que
ela tivesse um final decente.
Em meio a grandes problemas com umas pessoas sem noção, a protagonista
amadureceu um bocado, especialmente em relação à sua autoestima. Algo que
valorizei bastante durante a leitura. Ainda, nem só de pessoas esquisitas era
feito o reality. De modo especial,
quando alguns personagens marcantes começaram a ter mais presença nos
bastidores e no próprio palco.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
A família da protagonista também se tornou ainda mais unida. Gostei
bastante por ver que não entraram nessa só pela fama, mas pela Bea, a quem
tanto amam. Eu gargalhei com diversas ideias absurdas dos irmãos da moça, em especial
para se vingar dos embustes que caçoavam dela nos primeiros episódios. E sinceramente,
ainda achei foi pouco!
Contudo, o mais importante foi ver a blogueira crescendo e aprendendo
mais sobre si mesma do que jamais veria apenas na vida real. Alguns
pretendentes eram interessantes, o que refletia nas novas escolhas de Bea.
Conforme os rapazes iam passando as etapas e se mostravam, eu ficava mais apaixonada
e já sofrendo por antecedência, ciente de que apenas um seria o vencedor. Mas
nem por isso deixamos de ter surpresas. Afinal, ainda era um programa de
entretenimento e se não tiver reviravoltas, não tem audiência.
Eu compartilhei da revolta da moça em diversos momentos, pois achei que forçaram
muito a barra para fazer algo que os fãs queriam. Mas ninguém se perguntou se
seria confortável para a mais interessada.
No lugar dela, já teria arranjado
diversos motivos para me mandar do set no primeiro voo. Porém a protagonista
foi bem mais corajosa e me surpreendeu, entrando no jogo e saindo das situações
de uma maneira espetacular.
“’Bea’, Julia falou em um tom gentil, ‘o que
você quer na verdade? É uma pergunta tão assustadora assim?’”
O desfecho, por sua vez, foi digno de me fazer aplaudir de pé. Gostei do
destino de cada personagem, especialmente alguns secundários que tiveram o que
mereciam (sim, esse livro me deixou vingativa).
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Contudo, ainda teve espaço para
me fazer dar gargalhadas, ficar com os olhos marejados e com um quentinho no
coração. Além de um programa de TV, foi também um espaço para aprendizado e
respeito tanto pelo lado de Bea quanto dos rapazes legais.
Falando sobre o livro em si, li em versão digital. Então, posso dizer
que a diagramação está bonita, com uma fonte legível e confortável.
A capa é
simples, porém elegante, com a própria protagonista aparecendo em destaque, em
tons de rosa e azul. Em resumo, é um livro que me surpreendeu bastante e
indico, especialmente se curte essa vibe
de redes sociais e realitys.
Oi, Hanna. Como vai? Parece um livro muito gostosinho de se ler, né? Que bom que curtiu a leitura. Nunca li nada da autora. Ótima resenha. Abraço!
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