Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de um gênero que estava
há um tempo sem aparecer por aqui: romance de época. Assim, apresento a vocês
minhas impressões sobre ‘Romance com O Duque’, da autora Tessa Dare.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
11/60
Livro: Romance com O Duque
Autora: Tessa Dare
Tradução: A. C. Reis
Editora: Gutenberg
Ano: 2016
Páginas: 340
"Izzy sempre sonhou em viver um conto de fadas. Mas, por ora, ela teria que se contentar com aquela história dramática."
A doce Isolde Ophelia Goodnight, filha de um escritor famoso, cresceu cercada por contos de fadas e histórias com finais felizes. Ela acreditava em destino, em sonhos e, principalmente, no amor verdadeiro. Amor como o de Cressida e Ulric, personagens principais do romance de seu pai.
Romântica, ela aguardava ansiosamente pelo clímax de sua vida, quando o seu herói apareceria para salvá-la das injustiças do mundo e ela descobriria que um beijo de amor verdadeiro é capaz de curar qualquer ferida.
Mas, à medida que foi crescendo e se tornando uma mulher adulta, Izzy percebeu que nenhum daqueles contos eram reais. Ela era um patinho feio que não se tornou um cisne, sapos não viram príncipes, e ninguém da nobreza veio resgatá-la quando ela ficou órfã de mãe e pai e viu todos os seus bens serem transferidos para outra pessoa.
Até que sua história tem uma reviravolta: Izzy descobre que herdou um castelo em ruínas, provavelmente abandonado, em uma cidade distante. O que ela não imaginava é que aquele castelo já vinha com um duque…
Izzy Goodnight está falida. A queridinha da Inglaterra, conhecida pelos
‘Contos de Goodnight’ perdeu toda a sua fortuna quando seu pai faleceu e os
direitos autorais foram passados para o parente masculino mais próximo.
Assim, a mocinha tenta se virar como pode e conta apenas com a fama para
garantir um prato de comida e um teto diferente para dormir a cada noite. No
entanto, sua sina está prestes a mudar após receber uma carta misteriosa,
reconhecendo o seu nome como legatária de um castelo na fronteira.
Crente que sua vida dará uma bela guinada, a jovem parte para o Castelo
Gotsley, esperando encontrar um cenário como o dos livros de seu pai, onde
viveria como uma verdadeira princesa. Porém só encontrou um castelo em ruínas e
habitado por um homem carrancudo e ranzinza, o qual alega ser o legítimo dono
do local.
Sem um tostão para voltar à cidade e negando ter caído em um golpe, Izzy
não se conforma com a situação e insiste em tomar posse do que é seu por
direito. Entretanto, o Duque de Rothbury também não está disposto a largar sua
casa só porque uma mocinha chega do nada e manda ele sair.
Afinal, o castelo é
de sua família há gerações. Assim, começa a disputa dos dois pela propriedade,
que pode revelar muito mais do que se pensava.
“Ela merecia coisa melhor. E eu também mereço.”
Meu único contato com romance de época foi com ‘Noivas em Fuga’, quando tive o prazer de conhecer a escrita da
Tessa Dare. Desde então, até procurei alguns outros títulos dela, porém ainda
não tinha lido. Aproveitei o feriado de carnaval para “desencalhar” alguns e-books do Kindle Unlimited e foi uma boa decisão.
A trama é narrada em terceira pessoa e vemos os ângulos pelo fato de
Izzy Goodnight, a queridinha da Inglaterra por conta dos livros de seu pai. Mas
também vemos pelo lado de Ramson, o Duque de Rothbury (e que poderia muito bem
se chamar Dona Anésia).
A moça está com a mão na frente e outra atrás por ter perdido os
direitos autorais dos contos que seu pai assinava. Embora seja muito famosa por
conta deles, isso não adiantou muito na hora que o testamento foi aberto e ela
percebeu que só herdaria mesmo o nome em comum com o dos livros.
Assim, foi uma grata surpresa do destino descobrir que tinha um padrinho
rico o bastante para lhe deixar uma herança. Ainda mais uma que foi anunciada
em uma hora bem oportuna.
No entanto, sua alegria não durou muito quando, ao chegar no endereço,
descobriu que havia recebido de presente um belo elefante branco. Para começar,
o Castelo Gostley é lindo, ou ao menos era em seus tempos de glória. No
presente momento conta apenas com ruínas e só algumas torres ainda de pé.
Além disso, Izzy toma um susto ao ser recepcionada por um homem
carrancudo e ansioso por expulsá-la o mais rápido possível. Ramson tem muito
orgulho ao afirmar que a propriedade lhe pertence e que ela caiu no conto do
vigário. O que poderia ser verdade, se a mocinha não tivesse um documento
comprovando o oposto.
Em meio à disputa para ver quem seria o verdadeiro dono do castelo, os
dois se recusam a sair do que lhes pertence. Obviamente que o rapaz não está
nem um pouco feliz com isso, muito menos ela. Mas a situação está cada vez mais
confusa e eles precisam resolver o quanto antes.
“Nenhum homem merece uma mulher como ela. É preciso penhorar a alma para conquista-la e passar o resto da vida pagando os juros.”
Com uma escrita leve e despretensiosa, a autora nos imerge no cenário
vitoriano, somado a ares de castelos antigos e trajes elegantes. E com poucos
personagens, é bem fácil de se apegar a cada um deles.
Gostei bastante dos protagonistas, aliás, por serem fora dos padrões.
Enquanto muitas moças poderiam ser debutantes disputadas pelos membros da
corte, Izzy era apenas mais uma na multidão. No auge dos seus 26 anos era
considerada uma solteirona por nunca sequer ter sido cortejada.
No entanto, devo dizer que me irritei um pouco com o motivo que ela
arranjou para justificar isso. O tempo todo batia na tecla de que não era
bonita, de que não tinha o cabelo perfeito, nem a altura adequada e que por
isso os homens não olhavam para ela. Até entendo que casamentos eram o auge da
vida de uma pessoa naquela época, mas ela falava a quase todo capítulo e eu já
não aguentava mais a sua insegurança dela.
Além disso, eu sei que ainda em pleno século XXI existe preconceito com
cabelo cacheado. E até muitas mulheres não aceitam, alegando que é coisa de
pobre ou de desleixo. Naquela época também deveria ser assim ou até pior.
Contudo, como dona de cabelos cacheados, eu fiquei incomodada com a forma como
Izzy lidava com os seus. Reclamava tanto dele, por não saber lidar com grampos,
que ainda falou de forma indireta que era um “cabelo ruim por não ser liso”.
Sei que é um pequeno detalhe e preciso levar em consideração a época em
que se passa a história, mas não posso deixar de me sentir mal lendo essas passagens.
Ainda mais por eu gostar tanto do meu (e sim, sofro preconceito por ele também
ainda hoje, mesmo com tantos movimentos a favor dos cachos).
Ramson, por sua vez, é um homem recluso e que odeia gente. Em seus
tempos de juventude, arrebataria o coração de qualquer mulher, com seu charme e
porte de galã. Mas esses tempos acabaram desde que ele se mudou para bem longe
da civilização.
Conhecendo o duque de perto, é possível entender o motivo que o fez sair
de cena tão furtivamente. Aliás, vendo a personalidade dele, me lembrei logo
d’A Fera de ‘A Bela de A Fera’. A verdade é que o rapaz não curte muito a ideia
da presença de Izzy, mas não consegue esconder o quanto ela mexe com ele por
diversos motivos.
“Amor não é algo que eu saiba como oferecer.”
Um deles é que a moça pode ajudar o duque a entender como que um castelo
em ruínas tem dois donos ao mesmo tempo. E o outro é que ela mexe com
sentimentos adormecidos há muito tempo, além da boa educação enferrujada por
falta de uso. Aos poucos, as farpas desses dois se revelam o que realmente
significavam desde o começo.
Que vai haver um romance entre esses dois, é um tanto óbvio, dado que o
próprio título diz isso. Então, não foi uma grande surpresa ver a atração que
existe eles entre esses dois. Mas ver como lidam com isso é que deu graça à
leitura.
Está na cara que o sentimento é mútuo, porém não admitem. Isso gera cenas
bastante cômicas e que fazem a leitura ser mais fluida. No entanto, a autora
usou de um clichê que achei estar aposentado há um tempo: de mocinha
atrapalhada.
Ela tem 26 anos! Podia ao menos se comportar como uma adulta de
vez em quando. Ramson, por outro lado, podia ter seus momentos de maturidade,
mas no fundo é um playboy do século
XIX, que não sabe ouvir um “não” sem fazer bico. Por conta disso, mesmo me
divertindo bastante, passei raiva em alguns momentos.
“Não sou o herói de ninguém, Srta. Goodnight. É bom você se lembrar disso.”
Os personagens secundários, por sua vez, também têm sua chance de
brilhar. Como verdadeiros fãs dos ‘Contos de Goodnight’, Duncan (o mordomo do
duque) e Abigail (filha do vigário local) formam uma dupla perfeita. Esses dois
estão sempre presentes e dão um toque mais leve nas cenas. Ainda, são
verdadeiros amigos e dão uns puxões de orelha quando necessário (mesmo que a
pessoa em questão seja a queridinha da Inglaterra).
Não apenas eles, mas diversos outros amantes dos livros aparecem em
cena, o que gostei bastante, por sinal. Achei incrível como a autora conseguiu
inserir uma obra dentro da principal sem ficar denso, nem confuso. Pelo
contrário, achei criativo e queria saber mais.
Além disso, achei que a Tessa
retratou bem a vida de um leitor quando conhece seu autor favorito (ou o mais
próximo disso) e demonstra seu amor pela leitura. Me senti bem representada
nessa hora e ri bastante com diversas situações que só quem ama muito uma série
de livros hypados vai entender.
A trama se desenvolve muito bem e tem um desfecho previsível e até
aceitável, digno de romances românticos. No entanto, não foi dos mais
perfeitos. Embora sejamos apresentados a poucos personagens
principais, os secundários são mais representados, o que deu margem para muitas
subtramas. Mas nem todas elas foram respondidas de modo satisfatório.
Alguns fatos foram jogados de forma que pareciam extremamente
importantes, em especial envolvendo mistérios do próprio castelo. Porém, foram
esquecidos como se nunca tivessem sido mencionadas. O mesmo se deu com pessoas
importantes do elenco, os quais sumiram como um mero “puf!” e não soube que
destino tiveram.
Acho que a autora se preocupou muito em detalhar cenas mais quentes (que
aliás estavam muito bem feitas), mas esqueceu do principal: o motivo que levou
ao encontro dos protagonistas. As respostas, por sua vez, chegaram de forma tão
abrupta que pareceram terminadas de qualquer jeito, para dar um toque de contos
de fadas na história.
No entanto, por mais que tivesse essa vibe mesmo, até por conta das origens de Izzy, não combinou muito
com o que vinha sendo apresentado até o momento. Então, confesso que fiquei um
tanto decepcionada, pois esperava uma coisa e recebi outra bem diferente.
Falando sobre o livro em si, li em versão digital. Assim, posso dizer
que tem uma diagramação bem feita e uma revisão muito boa. A fonte é
confortável à leitura e a capa é clássica de romances de época, mostrando o que
iremos encontrar.
No entanto, eu acho que a mocinha retratada na foto deveria
ser a Izzy com cabelos cacheados. O que não foi respeitado, pois colocaram uma
moça de cabelos lisos em seu lugar. Sei que estou sendo chata com isso, mas são
detalhes que me chamaram atenção e preciso compartilhar.
Resumindo, apesar das ressalvas, é um livro que gostei de ter conhecido
e recomendo a leitura. Em especial, se quiser sair de uma ressaca literária.
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Gostei da sua resenha.
ResponderExcluirEu li esse ano passado e adorei, só falta ler o último.
Beijos!
www.pamlepletier.com
Olha só, que bom que gostou da leitura, Pam. Eu quero ler os outros, mas a série é grande, né?
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