Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha de ‘As
Crônicas de Asdária – O Despertar das Sombras I’, uma fantasia nacional,
escrita pelo Victor Visco.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Obs1. Exemplar físico cedido gentilmente em parceria com o autor.
Obs2. Pode ter spoilers do primeiro volume
Obs2. Pode ter spoilers do primeiro volume
12/24
Livro: As Crônicas de Asdaria - O Despertar das Sombras I
Autor: Victor Visco
Editora: Chiado Books
Ano: 2021
Páginas: 345
Após a derrota durante a invasão de La’Vosh, a equipe de Semideuses se encontrou profundamente dividida entre aqueles que seguiram em frente e os que são incapazes de esquecer o que aconteceu. Hadvar, Laura e Lucius formaram um novo grupo, liderados por Gunthor, e ficaram responsáveis por proteger o povo de Ny’im. Enquanto isto, Asarina e Asdeiro resolvem agir por contra própria, partindo em uma missão a fim de descobrir o que realmente aconteceu com Oriedsa e, se possível, resgatá-lo das garras das Sombras. Do outro lado do continente, uma revolução começa a borbulhar em La’Vosh. Em meio à complexa política dos Sombrios, Shin e seus colegas navegam seus cotidianos enquanto batalham por um futuro melhor, custe o que custar aos grupos que governam sua cidade. Com objetivos diversos, todos eles colidirão pelo controle de um ponto chave: o Castelo da Luz, única fortificação que protege a passagem de Ny’im para as Terras Atormentadas.
Asdaria não está em seus melhores dias. O último ataque a
La’Vosh deu errado e as coisas ficaram bem complicadas para os cidadãos de
Ny’im, em especial os Semideuses.
Oriedsa continua desaparecido e Asdeiro se
culpa por não ter protegido seu irmão todos os dias.
Sua decepção só aumenta ao perceber que os Deuses nem se
preocupam muito com o fato, pois agem como se Oriedsa fosse apenas mais um na
lista de baixas.
Por mais que Asdeiro questione, Andrestia ignora e age como se
um de seus filhos jamais tivesse sequer existido, tamanha frieza.
Para
completar, a Deusa do Equilíbrio continua pregando que o mundo deles é perfeito
e precisam vencer os vilões (Sombrios) que vem para dominar o mundo e acabar
com a perfeição.
Cada vez mais revoltado e com certeza absoluta de que o
irmão está vivo, o Semideus do Equilíbrio toma suas próprias atitudes e vai
atrás do irmão, encarando quase uma missão suicida.
A única que parece lhe dar
ouvidos é Asarina, embora tenha motivos muito mais egoístas por trás do que
apenas seguir o namorado e ajudar a resgatar Oriedsa.
A Semideusa sempre teve o espírito de competição e odeia
perder. O que está acontecendo com frequência, especialmente depois de várias
atitudes imaturas e sem planejamento, que culminaram numa discussão pesada com
seu irmão Lucius, o outro candidato a ascender ao Aspecto da Ordem.
Sem querer
aceitar a ideia de que será sempre a segunda na linha de sucessão, a mocinha
parte em missão com Asdeiro, somente para provar para o mundo que é digna de
ser uma Deusa da Ordem, nem que precise morrer para isso.
Enquanto o casal sai em sua missão particular, Hadvar,
Lucius e Laura tem outros planos. Revoltados com as atitudes de Asdeiro e
Asrina, que estão sendo movidos mais pela emoção do que pela cabeça, eles
decidem obedecer aos Deuses e se organizam para defender o povo de Ny’im contra
as represálias dos Sombrios, depois do ataque a La’Vosh.
Gunthor, ao contrário do que todos esperavam, decide liderar
o grupo. Com a desculpa de que ainda precisa treinar Laura para desenvolver o
Aspecto da Luz, ele segue com os Semideuses e humanos na guerra.
Mas a verdade
por trás dessa decisão é ainda mais sombria e profunda do que todos imaginam,
especialmente quando chegam na cidade alvo.
Enquanto isso, La’Vosh está passando por uma revolução
própria. A cidade tenta sobreviver às próprias reviravoltas políticas e
religiosas, que parecem durar séculos e não tem hora para acabar.
Além disso,
precisam se organizar e se proteger. Afinal, aquele não foi o último ataque de
Ny’im e sacrifícios precisam ser feitos se quiserem derrotar os Deuses de vez.
“Todos perdemos algo com as guerras!”
É incrível como o tempo voa. Li ‘Dois Irmãos’ em 2019, enquanto o Victor escrevia a continuação,
publicada em 2021.
Apesar de ficar imensamente feliz em ser convidada a ler a
sequência e ter algumas das tão esperadas respostas, tive bastante receio que
esse intervalo influenciasse de alguma forma na experiência.
Afinal, depois de dois anos, provavelmente eu esqueceria de
muitos detalhes e talvez não tivesse a emoção que tive da primeira vez. Mas, ao
ler ‘O Despertar das Sombras’, tive duas gratas surpresas.
A primeira foi que,
em vez de uma trilogia, ‘As Crônicas de Asdaria’ será uma série, em especial
por que o segundo volume foi dividido em dois (Despertar das Sombras I e II).
Em segundo lugar, mesmo depois de um tempo considerável, a
escrita fluida e envolvente do autor me levou facilmente de volta às terras de
Asdaria e à companhia dos Semideuses a quem tanto me afeiçoei.
Assim, não foi
difícil me ambientar no cenário da guerra entre Deuses e Sombrios.
Confesso que, por mais que tenha gostado do desenvolvimento
do casal Asdeiro e Asarina no volume anterior, não tinha muita expectativa com
eles.
Especialmente por me parecer um par muito meloso e alheio a muita coisa
que acontecia ao redor deles.
Isso poderia ser um risco, já que poderia dar um
viés de contos de fadas com “final feliz” numa história que não pedia isso.
Fiquei preocupada vendo esse desenrolar, pois achei que
veria a “maldição do segundo volume" se concretizar, enquanto os personagens
ficariam se martirizando por coisas do passado e iriam se manter em mais um
episódio de “meu mundo caiu”. Mas, felizmente, fui totalmente enganada.
A verdade é que todos os Semideuses foram criados
praticamente numa redoma, onde só valia a palavra dos seus pais.
Assim, o mundo
dos Deuses era lindo, de paz e muito amor, e os Sombrios seriam a Bruxa Má. Porém,
depois que foram enviados para a batalha como verdadeiros peões, que poderiam
ser sacrificados na linha de frente, as coisas mudaram um pouco de figura.
Depois das descobertas que fizeram, Asdeiro acorda para a
vida e se revolta diante das atitudes de Andrestia.
Mesmo não tendo
desenvolvido o Aspecto do Equilíbrio o suficiente, ele decide salvar o dia
sozinho.
Só que suas atitudes ainda são bastante imaturas e perigosas, o que
faz dele mais um adolescente rebelde e justiceiro do que um herói.
Já Asarina leva as coisas muito a ferro e fogo. Essa sede
egoísta de provar, não para si mesma, mas para o mundo, que é uma grande
Semideusa e perfeita candidata ao Aspecto da Ordem está lhe deixando cega de
raiva, especialmente depois da discussão com Lucius.
“Acredite em mim, mortal, nada é mais similar a um Semideus do Caos quanto um Semideus da Ordem desesperado.”
Asdeiro e Asarina realmente combinam e se completam. Eles
são dois jovens inconsequentes e revoltados com o mundo, que juntaram suas forças
e saíram pelo mundo em busca de respostas para seus dramas egoístas. E casal
que se revolta junto, felizmente amadurece junto.
Isso porque eles viram que não é nada fácil salvar o mundo
sozinhos e tem um choque de realidade na próxima esquina.
O que é assustador a
princípio, mas sinceramente, eles precisavam acordar para vida.
Eis que a missão para resgatar Oriedsa acabou se tornando
uma jornada mais filosófica e de grandes aprendizados para os dois, que
felizmente, prestaram atenção nas aulas.
E, se já tinham acordado um pouco
depois das últimas brigas com os Deuses, agora posso dizer que eles despertaram
e estão levantando da cama.
Nem preciso dizer o quanto estou curiosa e ansiosa
para saber mais sobre as descobertas que andaram fazendo, em especial sobre o
mundo antes dos seus pais se dizerem os donos, literalmente.
E o que dizer de Gunthor?! Confesso que passei muita raiva
com esse fulano no primeiro volume, mas agora estou “fazendo as pazes” com ele.
O mago negro tem um jeito peculiar com as coisas, especialmente porque foi o
primeiro a perceber que tinha algo de errado dentro do Palácio e não tem medo
de afirmar que sabe o que os Deuses fizeram no verão passado.
Por conta disso, ele é sempre tido como o rebelde, o que só
quer ver o circo pegando fogo. Mas em ‘O Despertar das Sombras’, podemos
acompanhar um pouco do que se passa pelo ângulo do Semideus do Caos.
Gunthor é
um rapaz extremamente inteligente e cheio de segredos, muitos dos quais
explicam sua personalidade mais reclusa.
Se antes eu via o caótico como uma espécie de vilão e não
gostava dele, agora não consigo mais julgá-lo.
Não apenas pelas suas origens,
Gunthor tem muitos fantasmas do passado e está arcando com as consequências de
suas ações da pior forma possível.
E ele está chegando ao seu limite, conforme
a guerra avança. Sendo assim, estou começando a enxergá-lo mais como um personagem
incompreendido do que malvado.
Ainda não posso dizer que torço por ele, mas
classifico como o “vilão” que ganha os holofotes e você acaba torcendo por ele
de alguma forma.
“Parecia que até mesmo a natureza estava debochando das suas derrotas.”
Laura e Hadvar também ganham um pouco mais de presença dessa
vez. Enquanto Hadvar está se tornando um ótimo soldado e amigo de valor, Laura
está, literalmente, crescendo e aparecendo.
Agora chamada de Deusa da Luz, a
menina parece estar mais amadurecida e lida muito bem com várias situações,
especialmente no campo de batalha.
Por causa disso, às vezes até esqueço que ainda é uma
criança de 10 anos. Apesar de achar estranho que ela entenda tanta coisa “de
adulto”, preciso levar em consideração que a menina tem um poder desconhecido
até para Gunthor.
Talvez isso explique o fato de Laura lidar bem com o salto de
duplo twist carpado duas vezes que
sua vida dá quase todos os dias.
Se no volume anterior os Sombrios eram apenas mencionados,
agora eles também são o centro de muitos acontecimentos importantes.
Os
cidadãos de La’Vosh são um povo relativamente antigo e tem uma história muito
interessante, especialmente em relação aos Deuses, que agora entendo e
compartilho do ranço.
O líder da cidade é conhecido apenas como o Mascarado e tem
uma filha chamada Selenia. Ao contrário do que acontece em Ny’im, Selenia foi
criada já sabendo da realidade do mundo.
Por conta disso, a moça é extremamente
perspicaz e tem personalidade forte. Então, não é qualquer coisinha que a faz
baixar a cabeça.
Na verdade, vi muito da Mulher-Gato em Selenia e confesso que
até gostei.
Não apenas ela, mas a própria La’Vosh tem toques de Gotham City, que muito me chamou atenção
e combinou perfeitamente com a trama.
No entanto, prega um ideal de “paz e
progresso” que engana muitas pessoas. Além disso, a cidade pode não ter Deuses
que a protegem, mas se guiam por tudo que o Mascarado dita e só faltam dizer
“amém”. Alguma semelhança com a realidade?
Isso dá margem para corrupção deslavada, escândalos
políticos, violência e desigualdade social, além de vários atos de intolerância
religiosa e discriminação social.
Enquanto o Mascarado vive em sua redoma de
ilusões e dizendo que seu único inimigo é Ny’im, a cidade está passando por uma
revolução, liderada por vários grupos que buscam derrubar o ditador e trazer
paz e justiça de verdade a La’Vosh.
Mas suas atitudes, embora sejam muito
bonitas olhando de longe, de perto, podem esconder mais e mais segredos, que
nem o povo de Ny’im espera.
“Quando a revolução chegasse, sobraria o suficiente da cidade para que ela fosse governada?”
Com muitas cenas de “tiro, porrada e bomba”, politicagem e
redes de segredos em ambas as cidades, é impossível desgrudar da leitura até a
última página.
Apesar de ter amarrado algumas pontas deixadas em ‘Dois Irmãos’,
‘O Despertar das Sombras I’ veio com o intuito de trazer mais lenha para
colocar na fogueira e derrubar máscaras.
Além disso, vendo as coisas pelo ângulo de La’Vosh, vejo que
toda história tem três lados: o que cada cidade conta e a verdade.
Os Sombrios
são pessoas que só querem ter condições melhores. Mas só tomam porradas da vida
e estão reagindo como podem.
Os Deuses pregam um mundo de amor e paz. No
entanto, podem ser tão ruins quanto dizem que os próprios Sombrios são. Todo
mundo mente, todo mundo pode ser um traidor, não importa de que lado da moeda
esteja.
E é preciso enxergar nas entrelinhas se não quiser ficar no
meio do fogo cruzado, que já dura séculos e parece nunca ter fim.
Vendo as
coisas narradas em terceira pessoa, foi interessante ver o desenrolar de parte
dessa teia de segredos e o quanto ela ainda pode ser mais enrolada, sem ficar
enviesado.
Além disso, La’Vosh se parece tanto com várias cidades reais, que é
impossível não ler as cenas e imaginar várias notícias que saíram no jornal nos
últimos tempos, em especial sobre o cenário político.
Isso deu margem para tantas críticas, e foi tapa na cara
atrás de tapa na cara, fazendo o leitor se questionar diversas vezes sobre as
atitudes dos personagens diante de algumas situações.
Por várias vezes fiquei
me perguntando o que eu faria se estivesse no lugar de algum deles. Talvez por
isso não consegui julgar suas atitudes, mesmo quando não concordava com os
ideais.
E aqui me pergunto: será que temos heróis de verdade nessa trama? Ou
apenas um bando de justiceiros brigando com outros justiceiros e tem uns
alienados no meio do caminho?
Apesar de me levar a esses questionamentos, em momento algum
a leitura se tornou densa. Muito pelo contrário.
O autor manteve a escrita
super fluida, com foco onde deveria estar e as críticas acabaram se encaixando
com uma maestria impressionante.
Além disso, me senti totalmente imersa na trama, talvez por
isso eu tenha voltado tão facilmente para Asdaria.
Aqui, consegui me ver nas
cenas junto dos personagens, independente do cenário. E posso dizer que foi um
misto de emoções.
Com ‘O Despertar das Sombas I’, eu lutei, fiquei com muita
raiva, criei ranço, fiz as pazes com alguns personagens, torci e até me peguei
sorrindo feito uma boba diante de algumas cenas.
Apesar de parecer uma desvantagem ter um intervalo grande
entre os volumes, posso dizer que esse foi um ponto positivo.
Existe uma
diferença visível logo nas primeiras páginas de ‘O Despertar das Sombras’, onde
vi um autor mais amadurecido em sua escrita, com personagens que amadureceram
junto.
E isso é um ponto super positivo, porém talvez eu não tivesse notado, se
tivesse emendado uma leitura na outra.
Além disso, posso dizer que o Victor
ganhou uma fã, que quer ler até a lista de compras que ele fizer (rsrsrs).
Falando sobre o livro em si, a editora caprichou bastante
nessa edição. Dessa vez, a capa mostra a entrada de La’Vosh, o centro das
atenções.
Gostei também por, logo no começo, temos um mapa com os cenários das
batalhas, assim fica bem fácil de se guiar e imaginar as cenas.
A diagramação
segue o padrão do primeiro volume, mas reparei que existem alguns erros de
digitação ao longo do texto.
Não me atrapalhou durante a leitura, mas pode ser
incômodo para algumas pessoas e fica o toque para as próximas edições.
As
páginas são amareladinhas e a fonte legível, o que deixou a experiência de
leitura super confortável.
Juntando tudo isso, acho que nem preciso dizer que o livro
leva nota máxima e conseguiu ser um dos favoritos de 2022 e estou bem ansiosa
para conferir a segunda parte de ‘O Despertar das Sombras’.
Já leram alguma obra do autor? E já se surpreenderam com as mudanças em uma sequência de livros? Me contem aí!
Obs. Texto revisado por Emerson Silva
Oie, acho bem legal quando o livro me dá esse misto de sentimentos haha, a obra tem uma proposta cativante.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Sim, é maravilhoso! =)
ExcluirOi Hanna!
ResponderExcluirEu não conhecia o autor, nem o livro, mas dá para sentir sua empolgação!
Uma das melhores leituras do ano? UAU!!!!!
beeeijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Que bom! hahahah
ExcluirE sim, foi uma das melhores, e olha que o ano apenas começou, =)
Olá, Hanna.
ResponderExcluirAcho que uma das melhores coisas que pode acontecer é quando a gente percebe a evolução do autor de um livro para o outro. É gratificante. Fiquei um pouco perdida no enredo por conta de tantos nomes diferentes, mas que bom que o livro ficou a altura do que você esperava e espero que os próximos sejam tão bons quanto.
Prefácio
Sim, é maravilhoso poder participar dessa evolução também, né? Acompanhando os livros dele ao longo do tempo =) E sim, tem bastante personagem e até que fiquei perdida na hora de escrever a resenha, mas saiu... hahaha
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