Quando o rei esteve aqui | Lyli Lua

em 01 julho 2021

    Olá meu povo, como estamos? Hoje eu trago a resenha de um verdadeiro achado literário, o livro Quando o rei esteve aqui, de Lyli Lua. 

Quando o rei esteve aqui | Lyli Lua
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna


32/24

Livro: Quando o rei esteve aqui

Autora: Lyli Lua 

Editora: Independente (Amazon)

Ano: 2020

Páginas: 155



A família real da Oceaania do Norte retorna ao Maranhão para mudar a vida de um rapaz para sempre. O herdeiro abandonado no cangaço há dezoito anos terá pouco tempo para decidir se quer ou não deixar a sua vida atual para se tornar o rei de um país do qual nunca ouviu falar.
Luiza e Miguel, a atual princesa e o príncipe bastardo, irão lutar contra um golpe de estado e seus próprios sentimentos. Tudo isso enquanto tentam convencer um ao outro de que não estão prontos para sentar em um trono.



Quando o rei esteve aqui | Lyli Lua

 

   A Oceaania do Norte está passando por um grande problema diplomático e precisa decidir quem será o sucessor do rei Gustaaf. 
   Governando o país com muito cuidado e honra, assumir o lugar dele não será fácil, porém necessário, já que uma guerra se aproxima e todos os cuidados são poucos para garantir que a coroa não irá cair. 
   Gustaaf e Nahime são rei e rainha exemplares, mas precisam tomar todo o cuidado do mundo em seus passos, principalmente agora, que estão prontos para vir ao Brasil atrás do verdadeiro herdeiro do trono. A questão é: será que o herdeiro quer assumir o trono? 

  Esse foi um dos primeiros títulos que baixei pelo Kindle Unlimited e, para variar, ficou "esquecido" na nuvem, esperando um dia ser lido. 
  A capa dele me chamou a atenção logo de cara, por trazer uma personagem negra adornada em joias. Logo quis ler, pois sabia que teria representatividade aqui. 
  E, para minha alegria, não me decepcionei. Oceaania do Norte e do Sul são países fictícios da África, que tem em sua história guerras e sangue, mas aparentemente vivem em paz no momento. 
  Mas o clima começa a ficar tenso quando Rehyna, a rainha de Oceaania do Sul decide fazer uma aliança pelo casamento, já que uma mulher só poderia ser rainha na Oceaania do Norte se fosse pelo casamento. 
  Para a tormenta de Gustaaf, ele tinha uma filha, Luiza, que é uma princesa linda, inteligente, corajosa e tem todo o tino para subir ao trono, mas só poderia usar a coroa oficialmente se fosse casada. 
  Com medo do que Rheyna poderia fazer com esse casamento, já que ela teria o comando de dois países com essa aliança, Gustaaf parte para o Brasil em busca de um herdeiro legítimo, que poderia impedir que Rheyna começasse um reinado de tirania como o visto na Oceaania do Sul. 
  Assim, a família real parte para o Brasil, a fim de buscar o herdeiro e resolver questões burocráticas. Mas antes, vão precisar mexer em questões há muito esquecidas, capazes de causar dor, tristeza e rancor anos depois. 
  E aqui foi minha surpresa. Apesar de Oceaania do Norte ficar na África, há toda uma mistura, como aqui no Brasil. 
  Para começar, os governantes Gustaaf e Nahime são brancos, o que chama atenção por serem reis africanos. 
  Por sua vez, Luiza, a princesa de Oceaania do Norte, é negra, o que me chama atenção também por querer saber mais como essa família foi formada. 
  No decorrer da leitura, eu percebi o quanto Luiza é uma jovem de personalidade forte. Ela foi criada com toda a pompa de uma princesa, como sua mãe, Nahime, ensinou. 
  Mas ao contrário da mãe, Luiza não está preparada para baixar a cabeça a qualquer homem que lhe diga o que fazer e já gostei dela logo de cara. 
  Ela não quer assumir a coroa da Oceaania do Norte, pois sabe que precisa se casar para isso. Mas sabe que não vai poder fugir da missão se não tiver outra saída. 

"Um povo que se sente traído se torna massa de manobra muito facilmente."

  Quando surge a oportunidade de ter um outro herdeiro para o trono, ela não perde tempo em ir com os pais atrás do cidadão. 
  Qualquer coisa seria melhor do que se casar com alguém que não queria. Além disso, a simples menção do Brasil faz seus pais tremerem nas bases, o que a deixa com uma pulga atrás da orelha, já que seu passado pode estar relacionado a esse segredo. 
  Afinal, se o herdeiro do trono só poderia ser um homem e ele existia, porque cargas d'água ele morava do outro lado do oceano, enquanto ela vivia num castelo e teria que se casar com um outro estranho para assumir um papel que ela não queria?!  
  No decorrer da leitura, vamos entendendo os mistérios que rodeiam todos os personagens. 
  O que me chamou a atenção também foi o fato de todo o livro se passar entre 1917 e 1935, então tive que ficar bem atenta aos capítulos, para não me enrolar nesse vai e volta de detalhes. 
  O que ajudou também foi ter, logo abaixo do título do capítulo, o ano em questão. Mesmo assim, eu teria ficado mais tranquila se tivesse uma parte só com o passado e outra com o "presente". Assim não ficaria tão confusa. 
  Nesse vai e vem de informações, temos a chegada dos reis africanos no Brasil, na Era Vargas, onde também reinava o cangaço. 
  Achei genial a ideia de trazer a narrativa para o Nordeste do Brasil, especialmente São Luís, no Maranhão. 
  Assim, temos dois núcleos bem definidos, mas que tem bastante coisa em comum. 
  O choque de realidade de Luiza é profundo quando ela chega ao Brasil. O fato de ela ser uma princesa pouco importa ao andar pelas ruas brasileiras, já que a cor de sua pele fala mais alto que sua conta bancária. 
  Isso já rende várias discussões, vindas da própria Luiza, sobre a abolição da escravidão e preconceito entre os seus. 

"A escravidão só acabou no papel, mas as correntes não são a única forma de nos aprisionar."

  Luiza não se conforma em ver seus semelhantes sendo tratados como uma escória, sendo que são tão gente quanto ela, que foi criada com sedas e brocados. 
  Mas, por ser quem era, ainda assim, era podada por hábitos da realeza, fora a ideia de um incidente internacional, já que ela estava num país que não era o seu. 
  É impossível não se sentir solidárix com Luiza, pois fiquei revoltada em várias ocasiões, e mais ainda por saber que, ainda em 2021, pouca coisa mudou. 
  Por outro lado, os reis de Oceaania do Norte precisam encontrar o herdeiro legítimo do trono, antes que seja tarde. 

"Às vezes segundas chances vem para podermos consertar o que nunca cometemos."

  E começamos a entender várias nuances sobre o rapaz. Miguel, o príncipe herdeiro, mal sabe que corre em suas veias sangue real. 
  No entanto, pode-se dizer que ele seja um príncipe, já que seu tio Reginaldo é um rei do cangaço. 
  Reginaldo tem uma raiva muito grande de Gustaaf, e não vai facilitar a ida de Miguel para assumir o trono. 
  Aos poucos, vamos entendendo como tudo realmente aconteceu, o que me fez parecer que estava lendo uma espécie de cordel.
  Foi nostálgico poder ler algo com termos que os nordestinos conhecem bem, fora toda a ambientação do cangaço, que é até crucial para a trama. 
  A leitura é bem rápida, pois a autora tem uma escrita tão fluida, que não consegui largar. Porém, nem tudo é perfeito, e preciso falar do que me incomodou (rsrsrs).  
  Para começar, eu fiquei confusa com o motivo de Gustaaf e Nahime serem brancos, mas a explicação para isso foi simplesmente jogada ao vento, sem uma profundidade que ambientasse melhor o leitor. 
  Não apenas isso, mas aqui temos vários clichês, como o caso da princesa que não quer assumir o trono, e o príncipe que foi criado como pobre a vida toda e descobre que é o futuro rei de um país distante. 
  A história de Luiza e Miguel foi bem confusa de fato. Me senti lendo um episódio de Casos de Família, ou mesmo uma adaptação de Sonho de uma noite de verão. 
  A cada capítulo, uma reviravolta familiar acontecia e eu já não sabia mais quem era o quê nessa grande família, separada por um oceano. 

"[...] a única constância do universo era a mudança e isso não é segredo para ninguém." 

  Além disso, tem toda uma trama lá nas Oceaanias, que eu pensei que seria tratada depois, afinal, para começo de conversa, Gustaaf veio buscar o herdeiro para impedir uma guerra... então eu me perguntava o tempo todo quando teria o "tiro, porrada e bomba"... mas só vi um "felizes para sempre". 
  Senti como se começasse lendo um livro e terminasse lendo outro, já que as coisas mudaram de rumo no meio do caminho e nada terminou como o esperado. 
  Fora várias outras pontas soltas que ficaram pelo caminho, que me decepcionei ao ver que não foram amarradas como eu esperava. 
  O livro todo é pura representatividade, pois temos protagonistas negros, nordestinos, a história do cangaço de uma maneira inesperada e fantástica, toda uma discussão sobre os casamentos arranjados e até romances LGBT. 
  Outra coisa boa é que, apesar da época que passa, os diálogos são em linguagem mais acessível para os dias atuais, o que facilita bastante a leitura e flui bem mais rápido.  
  Mas infelizmente pecou pela falta de detalhes explicados, que teria sido resolvido se o livro tivesse mais algumas páginas para completar a trama. 
  Com relação ao livro em si, eu sou apaixonada pela capa, que é uma das mais bonitas que já vi em ebooks
  A revisão está muito bem feita, a fonte legível e a diagramação muito linda. A história é narrada em terceira pessoa, mas como temos núcleos distintos, a cada capítulo, vemos as coisas por ângulos de personagens diferentes, o que foi interessante no final das contas. 
  Apesar das pontas soltas, o final é fechado, porém eu recebi um balde de água fria ao ser "trolada" com um final que teria sido mais satisfatório, se tivesse lido aquelas páginas que senti falta. 
  Ainda assim, recomendo a leitura, principalmente por ser uma obra nacional, que se passa em terras nacionais. 




  Já tinham lido esse livro? Me contem aí! 



   
   
   

14 comentários:

  1. Boa tarde Hanna,


    Não conhecia o livro e nem a autora, a premissa me deixou bastante curioso e pela sua resenha a história é muito boa, vou anotar a dica.



    Bjs.



    https://devoradordeletras.blogspot.com/

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  2. Não gosto de pontas soltas, por isso fico receosa quando vejo em livros que quero ler. Esse eu ainda não conhecia, mas ainda espero conhecer e gostar.

    Bjs

    Imersão Literária

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    1. Espero que possa ler algum dia, depois me conta sua opinião também?

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  3. Oi Hanna.
    Esse livro parece ser bem legal, vou anotar aqui na minha lista de desejados( que é enorme) , vou ter que tirar uma epoca para ler todos os livros que estou de olho do K.U

    Amei a resenha

    Beijos

    mundinhoquaseperfeito.blogspot.com

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    1. hahahhaah
      Te entendo amiga, minha lista também só cresce. Mas espero que goste da leitura. ^^

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  4. Oi, Hanna. Como vai? Me parece uma obra boa de ser desbravada. Que bom que gostou. Muito boa sua resenha. Abraço!


    http://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  5. Oie, tudo bem?
    Ainda não conhecia, mas fiquei curioso para conferir
    Blog Entrelinhas

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  6. Oi Hanna,
    Não conheci o conto, mas isso não é surpresa pra ninguém já que é você quem me atualiza neles, né? kkkk
    Acho que este, eu não leria por conta das pontas soltas.
    beeeijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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    1. haahahha
      Fico feliz sabendo que te apresento contos diferente Alê! S2

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  7. Olá, Hanna.
    Eu fiquei bem interessada conforme você foi falando do enredo. mas depois que você levantou os pontos que não gostou eu vi que são coisas que provavelmente me fariam dar uma nota mais baixa que a sua para a história. Então por isso eu não leria ele.

    Prefácio

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