Rachel Klein é uma pessoa comum que lida com uma rotina corrida e tenta
conciliar o novo emprego com a criação de Kylie – uma adolescente que vive grudada
no celular. No entanto, em meio a um dia atarefado, a moça recebe uma ligação
estranha, alegando que sua filha não verá a luz do sol enquanto ela não pagar o
resgate.
A princípio, Rachel acha que é um trote. Porém, a ameaça se torna mais
real e perigosa quando o resgate não envolve apenas um valor em dinheiro, e
sim, um novo sequestro. Isso porque ela foi “convocada” para a Corrente e
precisa raptar outra pessoa para garantir que sua filha seja devolvida em
segurança. Qualquer deslize ou comentário com a polícia pode ser fatal para
ambas.
Além disso, a Corrente é um sistema poderoso e antigo, o qual tem olhos
e ouvidos em todos os lugares. Assim, é bom que Rachel cumpra as regras
absurdas e garanta que o próximo elo seja tão fiel quanto. Resta saber até onde
a moça vai para ter sua filha de volta em casa.
“[...] O ser humano é previsível demais. Por isso as tábuas atuariais
funcionam tão bem.”
Eu vi ‘A Corrente’ pela primeira vez em 2017, na Bienal do Livro. Na época,
fiquei curiosa com a arte da capa, mas nem prestei muita atenção à sinopse. O
tempo passou e encontrei o livro de novo, disponível para troca no Skoob.
Dessa vez, vi do que se tratava e solicitei. Embora tenha chegado logo
aqui em casa, esse bendito ficou encalhado na estante desde então. E,
sinceramente, agora acho que foi o destino me falando que eu deveria ter
deixado ele na prateleira mesmo.
A trama é dividida em duas partes e vemos a maioria dos acontecimentos
pelo ângulo de Rachel. Ela é uma mulher que já passou por muita coisa nessa
vida e só quer recomeçar. Prestes a iniciar um novo emprego como professora de
Filosofia na faculdade comunitária, suas expectativas estão altas e tem tudo
para dar certo na carreira.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Sua relação com a filha é muito boa, mesmo que elas quase não parem
juntas em casa, devido às suas rotinas corridas. Além disso, Kylie sempre foi
uma menina responsável e dedicada.
Assim, Rachel deixa a garota fazer as coisas
de forma mais independente. Só não estava preparada para o que poderia acontecer.
Kylie é raptada enquanto esperava o ônibus para a escola. A moça está
tranquila preparando as aulas quando recebe uma ligação anônima, afirmando que
estava em posse da garota e que só a libertaria mediante pagamento de resgate.
A protagonista não acredita em um primeiro momento, pois acha que é trote.
Contudo, diante das ameaças constantes e regras para pagamento do
resgate, cujo valor é bem alto, fazem Rachel entrar em parafuso e temer pela
vida da jovem. Além disso, mãe e filha estão dentro da Corrente, um esquema
milionário de sequestro e resgate bem arquitetado e do qual só sai quem cumprir
todas as exigências.
A moça não sabe o que fazer e a única alternativa é seguir tudo o que
lhe dizem – até porque a sequestradora de Kylie é apenas mais um elo da
Corrente e está disposta a fazer de tudo para que o próprio filho também seja
libertado. Assim, começa uma corrida contra o tempo, tanto para levantar o
dinheiro exigido, quanto para escolher uma nova vítima antes que seja tarde.
“[...] É isso que a Corrente faz com você. Ela
te tortura e te obriga a torturar outras pessoas.”
A primeira parte do livro é a mais promissora. Com uma narrativa em
terceira pessoa, temos uma visão mais ampla do que se passava na casa de
Rachel, bem como no cativeiro onde Kylie foi mantida.
É uma leitura eletrizante, dado o suspense, mas também que te traz
agonia e sensação de mãos atadas. Afinal, nada pode ser feito a não ser
obedecer a Corrente. Aos poucos, vemos como Rachel arcava com tantas
informações novas ao mesmo tempo, enquanto lidava com seus próprios dilemas
pessoais.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
A coitada parece não ter um tempo de paz em qualquer sentido de sua vida
e o sequestro só piora as coisas. Além disso, não poder contar para ninguém é
quase uma tortura, pois nem desabafar a moça consegue.
“Jesus Cristo. Que tipo de gente pensa numa coisa dessas? No que você se
transformou, Rachel?”
Sua sorte foi poder ter direito a um parceiro para ajudar no novo sequestro.
A melhor pessoa para essa missão é Pete, seu ex-cunhado e militar reformado. O
rapaz é apaixonado pela sobrinha e também fará de tudo para resgatar a jovem,
nem que precise morrer (ou matar todo mundo) no processo.
Juntos, eles formam uma boa dupla. Não apenas cumprindo as exigências da
Corrente, mas também tendo empatia um com o outro. Ainda, ele sabe muito bem o
que é ter que lidar com seus próprios demônios e reconhece em Rachel uma igual.
Gostei bastante de como o entrosamento deles deu certo, além de como
lidaram com a vítima escolhida. Dava para perceber o quanto não queriam fazer
nada daquilo. Porém, apesar de não ser certo, era necessário naquele momento,
pois não tinham escolha. O mesmo se dava no cativeiro onde Kylie estava.
Ficava apreensiva a cada vez que eu via as vítimas e só me restava
torcer para que a Corrente libertasse todo mundo logo. Além disso, me dava um
aperto no coração ao imaginar que um esquema como esse pudesse existir no mundo
real. Sinceramente, não sei o que faria, muito menos se teria o sangue frio de
Rachel.
“Você inspira, expira, inspira, expira. A vida é uma cascata de agoras
caindo um por cima do outro sem nenhum significado nem propósito.”
Toda essa emoção teria rendido um ótimo livro, se o autor tivesse se
mantido nisso. Ficaria na expectativa de saber se Kylie e as outras crianças
voltariam para casa e o desfecho poderia ser chegar nessa resposta, além do drama
do que eles passavam, teria dado tudo certo. Porém, o que veio a seguir não
ajudou muito.
A segunda parte traz outros personagens, como o pai de Kylie e as mentes
por trás da Corrente. São um elenco importante, dado que poderiam fornecer
respostas cruciais. O que de fato foi oferecido ao leitor, porém não de forma
satisfatória.
Para começar, Marty (ex-marido de Rachel) é um bom pai e o antigo casal
se dá muito bem até a página dois. Isso porque o cara esqueceu de passar na
fila da maturidade.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Está sempre com uma namorada nova (quase da idade da filha,
diga-se de passagem), enquanto conta inúmeras vantagens sobre uma nova
conquista no trabalho. Toda vez que ele aparecia, meu ranço aumentava e eu
queria saber como que essa criatura se deu tão bem na vida, parecendo que veio
ao mundo a passeio. Pior ainda, queria saber o que Rachel viu num cara como ele
para ter um relacionamento e até uma filha.
No entanto, ao conhecer um pouco sobre o passado do ex-casal e vendo do
que Marty seria capaz, a justificativa para ele ficar de fora do esquema não me
convenceu. Acho que poderia muito bem ter participado junto com o irmão e
Rachel do resgate, que teria dado mais certo e o personagem seria melhor
aproveitado.
Por sua vez, as melhores cenas eram entre Rachel e Pete que, aliás,
teria sido um pai bem melhor e mais responsável para Kylie. O rapaz é o típico
militar de filmes, com um passado perturbador, mas que no fundo tem um bom
coração.
A química entre ele e a protagonista é boa e se desenvolve ao longo da
trama. Porém, não foi tão satisfatório assim; achei desnecessária e até forçada
em alguns momentos. Além disso, a forma como tudo se desenrolou foi tão direta,
que me senti sendo enganada pelo autor, com uma informação da qual eu seria
obrigada a prever, pois não tinha uma explicação plausível.
Ao mesmo tempo, a narrativa da segunda parte passa a ser não-linear. Assim,
temos um vislumbre do passado dos criadores da Corrente. Foi interessante para
me ambientar melhor e até entender o motivo de ser um esquema tão forte e a
prova de falhas. Porém senti que o autor se empolgou tanto em amarrar as
pontas, que perdeu o gás no meio do caminho, largou tudo de mão e terminou de
qualquer jeito.
Dessa forma, tive uma trama que começou muito bem, mas que depois as
respostas foram cuspidas em cima do leitor, sem cuidado nem surpresa, deixando
a experiência broxante.
As mentes por trás da Corrente são sombrias, cruéis e não fazem questão
de disfarçar. O passado deles também não é louvável. A família completamente
quebrada e desestruturada não deu uma base para se tornarem pessoas sãs. Mas
nem por isso consegui ter pena. Muito pelo contrário, tive mais medo ainda.
Isso seria suficiente para deixar a trama mais amarrada e tão sombria
quanto a personalidade dos personagens. Contudo, até eles se perderam e eu
fiquei decepcionada com raiva.
Talvez pelo fato de se sentirem impenetráveis, passaram a ser
descuidados e burros. O que deu diversas brechas para Rachel entrar em ação e
bancar a heroína de plantão, ainda que de forma desnecessária e sem sentido. A
moça tinha tudo para ser uma sobrevivente que compadecia o leitor, porém se
torna uma justiceira vingativa, que não condiz com o que vinha sendo
apresentado.
No entanto, nem os “mocinhos” ou os “vilões” foram suficientes para me
convencer. As cenas tinham emoções e foram bastante detalhadas. Mas
infelizmente o autor não teve o cuidado de revisar o que estava escrevendo e as
cenas ficaram perdidas e sem sentido.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Eu tive muitos problemas para me manter imersa na descrição dos
ambientes. Ainda, o final na vibe
“Velho Oeste”, misturado com comédia pastelão e uma pitada de contos de fadas
não ajudou muito.
O conto de fadas se mantém no desfecho, o qual é fechado e encerra o
ciclo, porém não de forma satisfatória. Terminei sem acreditar em tudo que li e
me perguntei como que esse livro foi aceito para publicação no Brasil (e até lá
no país de origem), anunciado como best-seller.
Infelizmente, não é um livro que eu leria de novo. Mesmo assim,
recomendo a leitura para que tenha sua própria opinião. Falando sobre o livro
em si, a versão física tem uma apresentação bonita e chamativa, toda em tons de
vermelho e preto (flamenguistas piram, haha). Gostei da diagramação, assim como
a revisão bem feita e uma fonte legível, impressa em páginas amareladinhas e
grossas. O que facilitaram bastante a leitura.
Oi Hanna!
ResponderExcluirA gente só percebe a importância de uma revisão, quando pegamos um livro assim, né?
Uma pena, porque poderia ter sido tão melhor!
beeeijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Oi. Já tinha lido outras resenhas do livro e sempre tenho a mesma impressão angústia e aquela falta de ar que pode ser ocasionada diante de uma notícia absurda. Ainda não tive a oportunidade de ler, não me senti preparada para o livro, mas acredito que esse lance da comédia inserida na obra seja justamente para dar uma quebra nessa agonia do que é a Corrente, agora o lance do conto de fadas fica uma dúvida grande para mim, enfim, preciso ler
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirNossa acho sempre uma pena quando temos um bom enredo, mas o autor se perde pra deixar tudo certinho no final. Confesso que ainda assim fiquei curiosa pra ler a história, gosto deste tipo de plot.
Oie, vejo muitas pessoas com a mesma queixa sobre o livro. Eu gostei muito da leitura, mas na verdade não lembro de muita coisa kkkkk.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Oi Hanna!
ResponderExcluirEssa é uma história que eu ouvi falar demais. Muitas pessoas do meu círculo de amizades literárias leram. Uma amiga do blog leu também... E olha, não surgiu nenhuma vontade de ler. Sua resenha é mais um no montante dos motivos. Não consigo despertar interesse nessa história. Dificilmente alguém que conheço, ou que lê geralmente os mesmos livros que eu, gostou do enredo, das escolhas do autor e tal. Então... escolhi passar! hahahaha A vida é curta, e a minha TBR é gigantesca. Nem vivendo umas 3x eu daria conta dela.
Abração
Oi, tudo bem? Lembro quando esse livro foi lançado, vi muitos elogios. Acredito que muitos leitores foram com grandes expectativas, o que talvez tenha influenciado negativamente na opinião como um todo. Pela sinopse realmente esperamos um thriller mais sério, cheio de reflexões, e lições ao final da leitura. Mas entendo sua frustração. Mas concordo com você, todos precisam ter sua própria experiência. Um abraço, Érika =^.^=
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