Num futuro tão, tão distante,
a humanidade desenvolveu uma tecnologia capaz de realizar viagens no tempo.
No
entanto, para que ela ocorra, é necessário que exista um plano paralelo em
relação à realidade.
O plano em questão se chama
Eternidade e os seus funcionários, os Eternos. Eles são os responsáveis por
alterações importantes na realidade e no destino dos “civis”, conhecidos como
Tempistas.
Apesar do nome, os Eternos
são tão humanos quanto os Tempistas. Porém, são escolhidos ao acaso, vindos de
vários séculos diferentes, e recrutados de seu tempo para trabalharem na
Eternidade, enquanto puderem ser úteis para garantir a paz na Terra.
Além disso, os Eternos são
divididos em categorias: Observadores (que vão a campo e detectam possíveis
erros que a humanidade cometa), Técnicos (recebem o relatório dos Observadores,
calculam as estatísticas de que ocorram falhas nas mudanças e mandam para seus
superiores avaliarem) e Computadores (os superiores, que aprovam ou recusam os
relatórios dos Técnicos).
Andrew Harlan é um Eterno,
desde que se entende por gente. Atualmente, trabalha como Técnico, um cargo não
muito querido.
De maneira geral, os membros dessa categoria são ignorados ou
muito odiados entre os colegas, já que são os responsáveis por praticamente modelar
o mundo outra vez.
Em parte, é um cargo importante,
porém de “trabalho sujo”, o que inclui fazer algumas pessoas desaparecerem da
linha do tempo, assim como certos acontecimentos importantes da História.
Harlan não liga muito e está até acostumado a ser ignorado pelos corredores da
Eternidade.
Assim, poderia passar seus
dias fazendo seu trabalho, de modo robótico, como foi treinado para fazer.
Porém, seus dias de paz e monotonia mudam quando o Computador Twisel, seu
chefe, lhe manda um estagiário.
Para completar, eis que
aparece Noÿs Lambent, uma Tempista que atua como secretária temporária para o
Computador Finge, outro chefe seu.
Não apenas era de se estranhar uma mulher
entre os Eternos, como Harlan recebe outra missão, de fazer um trabalho de
campo, em parceria com a moça.
Porém, Harlan descobre que Noÿs e Cooper (o
estagiário) podem lhe ensinar grandes lições sobre o mundo, além da Eternidade.
"Não há paradoxos no Tempo, mas só porque o Tempo deliberadamente evita os paradoxos."
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Como falar sobre as obras de
Asimov? Para começar, sou fã do autor e talvez isso influencie um bocado em
minhas considerações.
Já fazia tempo que eu
desejava ler esse livro e fiquei muito feliz em ver disponível no catálogo do Kindle Unlimited.
Narrada em terceira pessoa, a trama nos mostra uma
espécie de futuro possível, porém bastante abstrata, pela visão de Andrew
Harlan.
Isso porque a ideia de ‘O Fim da
Eternidade’ é bem essa: garantir que a linha do tempo permaneça estável e sem
grandes mudanças.
Então, é trabalho dos Eternos
pesquisarem cada desvio da humanidade que leve a guerras, mortes em massa e
afins.
Assim, a humanidade permanece um povo pacífico, vivendo em um planeta
harmonioso.
Para que isso aconteça, é
necessário um treinamento extremamente rigoroso e disciplinador, a fim de que
os Eternos não façam escolhas tendenciosas ao alterarem o curso da Realidade.
Harlan foi um ótimo aluno, então foi fácil subir do posto de Observador para Técnico.
Além disso, o novo cargo lhe
conferia uma nova visão de mundo, pois alcançou um patamar polêmico na
Eternidade.
Seu trabalho poderia ser importante, mas não era bem visto, pois
seus colegas não viam como algo de grande valor.
O comportamento introvertido
de Harlan só aumenta com tal relação. Então, boa parte do livro passamos lendo
o quanto é ridicularizado pelos colegas, o que me deu até agonia, por sinal.
Isso porque, mesmo com um departamento específico para evitar que a humanidade
se desvirtue, os próprios Eternos praticam bullying
entre si.
Não bastasse isso, o autor
passou boa parte do início da trama ambientando o leitor sobre o funcionamento
da Eternidade.
"Toda a Eternidade era uma fantasia diáfana, que, além de tudo, não valia a pena."
Porém, usava tantos termos novos e complexos seguidos (além de
contagens absurdas de séculos futuros), que me senti totalmente perdida e foi
complicado me manter firme na leitura.
O que salva é a escrita
fluida (mesmo para a época), que me sustentou durante um tempo e não me deixou
perder as esperanças. E, de fato, valeu a pena.
Ao conhecer Cooper, seu novo
estagiário, Harlan (ou podemos chamar também de D. Anésia do século 575) muda
um pouco de postura.
Ao notar um gosto em comum, o Tempo Primitivo (desde o
surgimento do Homem até o século XXIV), eles começam a se entender e conversam bastante
a respeito do tema.
Como o livro foi escrito
ainda no século XX, é interessante observar a expectativa que Asimov tinha
sobre o XXI.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Então, foi divertido em alguns momentos ver que ele acertou
algumas teorias e outras passaram bem longe.
Harlan é um personagem jovem,
mas com alma de velho rabugento. Talvez por conta de seu treinamento. Isso o
faz um personagem peculiar e difícil de descrever.
Mas confesso que fiquei bem
incomodada quando Noÿs, secretária temporária do Computador Finge, entra em
cena.
Isso porque Asimov não economizou detalhes em descrever a roupa
espalhafatosa que a moça usava no século 482 e o quanto Harlan ficou
desconfortável e profundamente estarrecido.
Entendo que, pelo treinamento
do Técnico, poderia tomar um susto ao ver uma mulher passeando, especialmente
num ambiente onde só havia homens trabalhando (sim, isso é um ponto que chama
bastante atenção).
Mas achei desnecessário colocar uma mulher vestida da forma
que o autor colocou, além de se comportar feito uma adolescente besta e metida
a Lolita.
Quem também fica besta é
Harlan, conforme vai descobrindo os esquemas que se passam pela Eternidade.
"Vocês riem da ignorância dos Tempitas, que conhecem apenas uma Realidade. Nós rimos da ignorância dos Eternos, que acham que existem muitas Realidade, mas apenas uma de cada vez."
Apesar das boas intenções, o departamento deveria se chamar Ironia do Destino,
de tantos jogos sujos e jogos de politicagem que estão sob os pilares da
instituição.
Porém, me deu vontade de
descobrir como faz para chegar lá nesse departamento, só para dar uns tabefes
em Harlan, para ver se criava uma personalidade própria e deixava de ser tão
influenciável e burro.
Me sentia lendo novelas
mexicanas, nas quais as reviravoltas mais absurdas eram ditas e Harlan aceitava
com tanta facilidade que nenhuma pessoa em sã consciência acharia possível.
Fora o escarcéu desnecessário a cada descoberta, quando se dava conta da
gravidade, tempos depois.
Contudo, apesar de o livro
inteiro ser uma verdadeira viagem na batatinha, eu achei interessante o tema,
depois de algumas reviravoltas.
Ninguém é o que parece ser, seja entre os
Tempistas, seja entre os Eternos.
O próprio controle da
Realidade, por si só, é um argumento falho. A humanidade cresce conforme
aprende com os erros (ou continua cometendo, mas isso é papo para outro post
mais filosófico). Se todos os erros são apagados da linha do tempo, qual lição
sobra para os Tempistas?
Isso é refletido nos próprios
pensamentos e comportamentos dos personagens. Cada um vem de um século
diferente.
Não importa se vem do 482, do 575 ou do 3.000, me senti lendo algo
tão contemporâneo e vi que certas coisas nunca mudaram entre os humanos, talvez
porque jamais tivemos chance, já que toda vez recebemos um reboot e fazemos tudo de novo.
"Com toda honestidade e sinceridade, talvez tenhamos evitado a evolução humana porque não queremos encontrar os super-homens."
Com pitadas de filosofia,
ficção científica e diálogos nonsense,
esse foi um livro que realmente me fez pensar.
Além disso, achei interessante
ver que ele é um prelúdio à ‘Fundação’, a obra mais icônica do autor. Isso me
foi uma grande e nostálgica surpresa.
Até fiquei com vontade de reler a série
que tanto me conquistou.
O desfecho é aberto e
chocante, porém aceitável. Não consigo imaginar algo diferente, em especial
pelo que vinha sendo apresentado.
Mas foi um livro que me explodiu a mente,
assim como aconteceu em ‘O Fim da Infância’, que traz um tema até relativamente parecido.
"E ele via a Eternidade, com grande clareza, como um antro de profundas psicoses, um fosso retorcido de motivações anormais, uma massa de vidas desesperadas brutalmente arrancadas de seu contexto."
Falando sobre o livro em si,
ele tem uma diagramação bem legal, com uma capa nonsense, combinando até com o tema da obra.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
A revisão está muito
perfeita e a tradução também (aliás, imagino o trabalhão que não tiveram os
tradutores, tentando trazer para o português tantos termos estranhos e que mais
pareciam trava língua).
Em
resumo, ‘O Fim da Eternidade’ não tem uma ficção científica clássica. Pelo
contrário, é algo bastante irônico e cheio de mensagens filosóficas.
Mas o
desfecho vale super a pena e você não vai sair da leitura do mesmo jeito que
começou. Apesar das ressalvas, é um livro que recomendo, pois embora você não
goste do tema, vai te fazer refletir um bocado sobre a vida e a nossa
sociedade.
Me gusta ese autor. Tomo nota. Gracias por la reseña. Enamorada de las letras
ResponderExcluir=)
ExcluirOi, Hanna. Como vai? Já li alguns livros de Asimov e gostei bastante. A escrita do autor agrrada-me demais. Este aí eu não li, mas já me interessei em lê-lo. Que bom que gostou, apesar das ressalvas. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Sim, Luciano, gostei bastante mesmo. Mesmo com as ressalvas, hehe.
ExcluirNunca tinha ouvido falar no livro, mas gostei!
ResponderExcluirParece super interessante, ótima resenha como sempre :)
https://www.heyimwiththeband.com.br/
Obrigada, Val! =)
ExcluirOlá, Hanna.
ResponderExcluirEu até gosto de ficção científica, mas esses mais contemporâneos que tem uma linguagem mais facil. Esses livros do autor não são pra mim. Já tentei ler alguns e empaquei na leitura. Aqui em casa quem é muito fã é meu sobrinho.
Prefácio
Sério, Sil? Que legal saber que seu sobrinho curte também, =)
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