Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de 1984, um clássico de distopia, de George Orwell.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
60/24
Livro: 1984
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras (selo Principis)
Ano: 2021 (edição original em 1949)
Páginas: 336
Publicado em 1949, 1984, de George Orwell nasceu destinado à polêmica. Traduzido em mais de sessenta países, virou minissérie, filmes, quadrinhos, mangás e até uma ópera. Ganhou holofotes em 1999, quando a produtora holandesa Endemol batizou seu reality show (formato que chegou à TV nos anos 1970), de Big Brother, o mais sinistro personagem, ou melhor, entidade do livro.
No enredo que tem Londres como cenário (na fictícia Oceânia) -, tudo gira em torno do Grande Irmão. “Quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, o Big Brother é o líder máximo. Assumiu o poder depois de uma guerra de escala global (análoga à Segunda Guerra, porém com mais explosões atômicas), que eliminou as nações e criou três grandes estados transcontinentais totalitários. O trabalho de Winston, o herói de 1984, é reescrever artigos de jornais do passado, de modo que o registro histórico sempre apoie a ideologia do Partido.
Nunca imaginei que fosse ler algum outro livro de George Orwell um dia, pois confesso que não me sentia amadurecida o bastante para "entender a mensagem" que suas obras trazem.
E, mesmo tendo gostado muito de 1984, ainda não sei bem por onde começar essa resenha, pois sempre vou achar que não falei o que ele merecia.
"O passado é qualquer coisa sobre a qual os registros e a memória concordem."
Bem, 1984, apesar da data, é uma distopia clássica, que foi escrita em 1949. Assim, o autor passa uma ideia de futuro para a época dele, mas que, se for olhar nas entrelinhas, caberia perfeitamente em nossa época também, o que se torna mais assustador.
Nesse futuro, Orwell nos apresenta a um mundo que se acabou nas grandes guerras, cujos países quase não existem mais.
A Europa é dividida em três grandes territórios: Oceania, Lestásia e Eurásia. Esses grandes territórios são dominados agora por um regime autoritário que, na Oceania, se chama o Partido, liderado pelo Grande Irmão.
O país inteiro é vigiado 24h por dia, através de teletelas, que estão presentes em todos lugares que se possa imaginar.
Se você leu o post do Li até a página 100, inclusive, deve se lembrar que comentei que a ideia do reality Big Brother surgiu por causa desse livro.
Mas, ao contrário da casa famosa, onde as pessoas disputam um prêmio em dinheiro e fama, em 1984, elas são vigiadas como forma de controle.
E esse controle é tão sem limites, que até as crianças são incentivadas a serem espiãs dos próprios pais, que podem ser presos pela Polícia do Pensamento, dependendo do contexto que falarem as coisas em casa!
As coisas agora são levadas tão a sério, que o mundo segue um novo código de linguagem, chamado Novidioma, através do qual as palavras se tornam tão dúbias, que você já nem sabe mais do que está falando.
Além disso, Oceania está sempre em guerra com alguém, seja Lestásia ou Eurásia, e a cada mudança, toda a História do país muda... literalmente...
Não existem mudanças no Partido, o Grande Irmão, que fica no ar a dúvida se existe mesmo ou se é apenas uma figura simbólica, nunca comete erros.
Assim, a cada mínima mudança que ocorre no cenário político, cabe aos ministérios mudarem todos os jornais e livros, tudo o que fosse informativo sobre um passado diferente.
"O Ministério da Paz se ocupa da guerra; o Ministério da Verdade, das mentiras; o Ministério do Amor, da tortura; e o Ministério da Fartura, da fome. Essas contradições não são acidentais nem resultam da hipocrisia comum: elas são exercícios propositais do duplopensar."
Nosso protagonista se chama Winston, que trabalha no Ministério da Verdade e é o responsável por alterar as matérias de jornal e livros.
Winston era apenas uma criança quando Londres deixou de ser uma capital, para ser parte de um grande território chamado Oceania.
Mas depois de tantos anos, ele começa a se perguntar como era o mundo antes disso tudo acontecer.
Suas indagações nos levam a encarar esse mundo assustador junto com ele, que não pode sequer fazer uma expressão mais pensativa, sem temer que a Polícia do Pensamento bata à sua porta.
Winston, como funcionário do Partido, vive numa sociedade que não foi feita para pensar, pois pensar faz as pessoas perderem tempo, que deveriam ser gastos produzindo coisas inúteis e nutrindo amor pelo Grande Irmão.
E esse amor pelo Grande Irmão só é possível, pois as pessoas não amam mais nada... literalmente. Casamentos não existem mais por amor, apenas para procriação.
E, para você se casar, precisa pedir permissão ao Partido e provar que não sente sequer atração pelo cônjuge escolhido.
Filhos não precisam amar os pais, muito menos respeitar, já que um simples levantar de mão pode ser uma ofensa contra o Partido e, no dia seguinte, você será preso por causa do delito da criança.
Só quem "parece" ser feliz são os proletas, o novo termo como são chamados os mais pobres. Eles cantam, dançam e bebem ao ar livre.
Mas essa ilusão de felicidade só é possível, pois o Partido se encarrega de dar "maravilhosas notícias" a todo momento, que no dia seguinte podem ser diferentes e, se você ousar dizer que não é o que você se lembra, corre o risco de ser vaporizado e, literalmente, desaparecer da História.
"Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o futuro controla o passado."
O Partido traz uma ilusão de progresso, se dizendo inventor de várias tecnologias e projetos, que prega um mundo de paz, enquanto se encarrega de guerrear contra Lestásia e Eurásia.
A única coisa que ele te pede é que você não pense, não tenha opiniões e nem sentimentos, já que todo o seu amor deve ser direcionado ao Grande Irmão, sem medidas, sem limites.
Ler esse livro foi uma verdadeira agonia, principalmente acompanhando as descobertas de Winston.
Winston é um cara que se cansou do mundo que vivia. Ele era infeliz e não sabia o motivo.
Suas tentativas de pensar fora da caixinha imposta pelo governo, que hoje são tão simples, naquela realidade são motivo de escândalo e revolta, especialmente por parte do Partido.
E quantos países não fazem isso, ainda que de uma maneira "mais discreta"? Te limitam em acessos a certas informações, te permitindo ver apenas o que eles querem que você veja?
Em quantos países você não pode pensar por si mesmo, pois do contrário, é alvo de censura e até pode perder a carreira, para não dizer o mínimo?
Apenas pelo número do nosso celular, vários sites tem acessos a diversas coisas que você nem se lembra que fez no verão passado, mas está tudo coletado e pode ser usado contra você, se cair em mãos erradas.
Agora imagina se essas "mãos erradas" fossem o próprio governo do seu país, lhe dizendo que está tudo bem, se você baixar a cabeça e dizer que ama o Grande Irmão verdadeiramente?
É incrível como, mesmo com uma ideia de mais de 30 anos atrás, esse livro se faz ainda tão atemporal.
"Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro. Se isso for concedido, tudo o mais se seguirá."
A escrita é mais fluida do que imaginei, mas é tão carregada de sentimentos que foi impossível não absorver algum deles durante a leitura.
Talvez por isso, ela tenha dado um ar de mais arrastada em certos pontos. Mas nem por isso ela deixou de ser marcante.
Acho que agora entendo o motivo de algumas pessoas não terem conseguido ler esse livro até o final, ou ter levado muito para um lado mais partidário.
Você precisa ter uma mente bastante aberta para ler 1984, estando ciente que tudo que acontece ali é uma ficção e está longe de ter um apoio político, muito pelo contrário.
1984 é uma crítica social do inicio ao fim, que deveria ser leitura obrigatória, especialmente para quem quer cursar sociologia, ciência política, etc. Isso se já não for.
Não é todo mundo que vai sair bem depois dessa leitura. Eu mesma ensaiei umas quatro vezes, antes de ter a coragem de escrever essa resenha, pois ainda não me sentia digna de dizer qualquer coisa sobre ele.
Sinceramente, não sei se é um livro que eu releria, mas certamente é um daqueles livros que vou guardar na memória como um dos mais impactantes que já li na vida.
Falando sobre a edição, li a versão digital da Principis, que tem esse tato de colocar clássicos da literatura mundial de maneira mais palatável.
Ele está disponível no Kindle Unlimited e está numa versão muito bem feita, por sinal. A revisão está excelente e a capa é super condizente com o enredo.
esse é um clássico que deve ser lido, parabéns pelo post!
ResponderExcluirBlog Entrelinhas
Obrigada!
ExcluirOi!
ResponderExcluirLi 1984 no início desse ano (na edição lindona da Antofágica), e gostei bastante do desenrolar das críticas sociais na última parte do livro!
Beijão
https://deiumjeito.blogspot.com/
Sim, é uma edição muito linda, por sinal, né? E tem cada crítica, que me deu até medo, viu?
ExcluirOi, Hanna. Como vai? Tenho muita curiosidade em ler este livro. Que bom que curtiu. Amei sua resenha. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Espero que possa ler um dia, recomendo, viu?
ExcluirUm verdadeiro clássico, que ainda não tive a oportunidade de ler.
ResponderExcluirBoa semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia
Sim, concordo que esse é um verdadeiro clássico.
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