A Europa vive tempos sombrios com a perspectiva iminente de guerra e o
movimento nazista ganhando cada vez mais força por parte dos militares e demais
apoiadores de uma raça pura. Enquanto todos os holofotes estão em cima disso,
pouco se fala de outras atrocidades que aproveitam o pano de fundo da guerra.
Uma série de desaparecimentos começa a ser registrada junto às
autoridades. No entanto, antes mesmo que a polícia comece a investigar
possíveis pistas, surgem corpos no meio da floresta dias depois, dispostos de
forma doentia e grotesca, que talvez nem os estômagos mais fortes seriam
capazes de aguentar tamanho horror.
Ao mesmo tempo, o detetive Frank Braum aceita um caso que cruza com os
relatos informados à polícia. Partindo da ideia de que estava diante de um serial killer, o investigador começa a
correr contra o tempo antes que mais pessoas morram e o caos se espalhe no
país.
Esse é meu terceiro contato com as obras do autor e posso afirmar com
certeza o quanto ele evoluiu. Sua escrita está bem mais ágil e fluida do que
nos livros anteriores (as resenhas de PesadeloReal e Catedral do Mal podem ser conferidas
no blog).
Em ‘Jogo de Sangue’, a narrativa é em primeira pessoa, onde vemos os
fatos pelo ângulo do protagonista, mas também do assassino. Dessa forma, temos
uma visão mais ampla de ambos os lados da moeda, o que facilita na hora de
juntar as pistas e descobrir o responsável por tamanhas atrocidades.
Uma característica que o escritor manteve em todos os livros é uma visão
bastante detalhada das cenas, de forma que o leitor é facilmente imerso na
trama. No entanto, se tornava bastante incômodo quando se tratava das vítimas.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Ao ler as cenas, eu ficava agoniada e torcia para que acabassem logo.
Isso porque, mesmo tendo considerável experiência em ler livros de horror e thriller psicológico, o fato é que ver
os limites que alguém consegue chegar para infligir dor em outro ser é
assustador e intragável.
Contudo, vendo os fatos pelo ângulo do assassino, dá para entender os
motivos que os levaram a cometer tais atos e como se sentia com o resultado.
Entretanto, nem por isso são perdoáveis ou mesmo livres de julgamento.
É nítido que o personagem é doente, precisa de apoio psiquiátrico e
internação forçada urgentemente. No entanto, seguindo a medicina da época, é
curioso ver como os profissionais de saúde lidavam com certas peculiaridades e
talvez não ajudasse muito o cidadão. Mas ainda assim, seria mais válido do que deixá-lo
solto na rua.
Frank, por sua vez, é um bom detetive. Ele está sempre atento aos
detalhes e usa tudo o que está à sua disposição para fazer justiça a quem
merece, independente da orientação religiosa.
Talvez por isso ele seja carismático e tenha contatos em todos os lugares,
para quem sabe o momento certo de cobrar favores. Isso faz do personagem um
coringa, sem escrúpulos para investigar qualquer caso que lhe ofereçam, mesmo
que seja perigoso.
No entanto, também o torna convencido e extremamente confiante, capaz de
se deixar passar por momentos perigosos e bobos, que poderiam ter sido evitados
com um pouco de atenção e cautela. Além disso, o fraco por bebidas só ajudava
em seu talento para entrar em enrascadas, o que me fez passar por momentos de
vergonha alheia e querer entrar no livro para dar uns catiripapos na fuça dessa
criatura. Quem sabe assim ele acordava para a vida e levava o trabalho um pouco
mais a sério.
Mesmo com seus momentos de insensatez, ele consegue ficar vários passos
à frente da polícia e resolve o caso de modo crível e eletrizante, digno de uma
série europeia. Assim, as coisas se desenvolvem de forma lenta e angustiante,
do tipo que precisei respirar fundo depois e passar um tempo assimilando tudo o
que tinha acontecido.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Outra coisa que me chamou muita atenção nesse livro foi o elenco
secundário. Alguns personagens chamaram atenção, mesmo que por breves momentos.
Um deles foi a Gertrude, que rouba a atenção e marca bem sua presença.
A moça é vivida e não tem tempo para enrolações ou brincadeiras. No
entanto, eu tenho sempre um pé atrás quando são homens falando sobre
relacionamentos, mesmo que breves. Isso porque muita coisa acaba ficando
romantizada ou mesmo apressada, com um risco gritante de ser enviesado e
extremamente machista.
No entanto, o autor me surpreendeu bastante com o desenvolvimento dos
personagens. A química entre Gertrude e Frank se dá de forma crível e
condizente com o andamento da trama. Desse modo, gostei do envolvimento deles e
logo me vi na torcida por um desfecho emocionante.
Ainda, o autor escreveu cenas mais quentes bem detalhadas, porém
fornecidas ao leitor de maneira fluida, digna, respeitável com as mulheres e
até mais variada. Algo que nunca tinha visto em obras escritas por homens, por
isso foi uma grande (e grata) surpresa.
Espero (encarecidamente) que ele se mantenha assim e que mais homens
sigam esse exemplo, pois foi uma das cenas mais tranquilas (e decentes) que li
em todo esse tempo como leitora assídua. Além disso, ele manteve um equilíbrio
entre ambas as partes, as quais acabaram se encaixando de forma satisfatória,
conferindo pontos positivos para a leitura.
O desfecho é aberto, porém deixa o leitor com uma visão um tanto óbvia
do que poderia acontecer em seguida. Assim, não se faria necessário um
fechamento propriamente dito.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Todos os personagens têm um destino satisfatório, embora eu ainda
achasse que o do assassino poderia ter seguido um outro rumo. Mas aí é minha
opinião como leitora (vingativa, por sinal, que queria ver tudo pegando fogo) e
não interfere na sua experiência, caso dê uma chance ao livro.
Falando sobre a obra em si, a diagramação dele está bem feita, assim
como a revisão e organização em capítulos nem muito longos, mas também não
muito curtos. A capa, no entanto, não é das mais bonitas.
Ela é simples e sombria, mas não acho que faça jus à trama. Acho que
poderia ser mais elaborada e trazer outros elementos chave (claro, sem spoilers), para dar uma ideia melhor do
que podemos encontrar ao longo das páginas. No entanto, não alterou minha
experiência positiva com a leitura e recomendo, especialmente se você curte
histórias macabras e com requintes de crueldade.
Suas fotos são sempre tão lindas que mesmo que o livro não faça meu estilo eu fico com vontade de ler heheheheh
ResponderExcluirhahahahah, que ótimo saber disso. Vou continuar caprichando nas fotos então, =)
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