Vanessa Thompson está no
fundo do poço. Divorciada de Richard, ela saiu do relacionamento com uma mão na
frente e outra atrás (ou quase, pois levou consigo algumas roupas de grife e
joias caríssimas que ganhou enquanto casada). Agora tenta seguir a vida como
pode e agora é vendedora em uma loja chique e lidando com clientes exigentes.
Mas nada tira da sua cabeça o
que poderia estar fazendo se ainda fosse a esposa de um homem rico e amoroso,
como seu ex-marido. Passa horas fazendo isso e esquece das obrigações, correndo
o risco de perder o emprego. O que fica mais latente quando descobre que a fila
andou e Richard vai se casar de novo.
Vanessa não se conforma e
quer descobrir tudo sobre a sua “substituta para o cargo de esposa perfeita”.
Ela está tão obcecada em impedir a felicidade do novo casal, que esquece de sua
própria vida. No entanto, Richard não parece disposto a deixar seu passado
estragar a vida pela qual ele lutou tanto para reconstruir após o divórcio
conturbado e constrangedor. Será que ele vai conseguir?
“Mentiras deveriam ficar
reservadas às ocasiões em que fossem estritamente necessárias.”
Peguei esse livro no Skoob um
tempo atrás. Na época, eu fiquei interessada na sinopse e solicitei a troca,
mas acabou ficando encalhado na estante. Ao olhar para as prateleiras e
escolher os participantes do "12 Livros para 2023", não resisti e
coloquei ‘A Mulher Entre Nós’ na pilha. Assim, fiquei surpresa, mas ao mesmo
tempo satisfeita por, enfim, ter lido a obra.
A narrativa é alternada, ora
em primeira pessoa (com a perspectiva de Vanessa) e ora em terceira (com a
perspectiva de Nellie, a mocinha feliz e prestes a se casar com Richard).
Conforme ia lendo, eu sinceramente não sabia em que lado acreditar.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Vanessa é uma mulher
amargurada, descontrolada e ciumenta. Vive correndo atrás de migalhas de um
relacionamento que só ela não percebe que acabou. Toda vez que começava a se
lamuriar com “saudade do que não viveu”, me dava uma agonia danada.
Em parte porque eu já passei
por uma situação parecida com a dela. Então, sei o quanto é doloroso ver a
pessoa que você gosta seguindo em frente, como se nada tivesse acontecido,
enquanto você ainda luta para recolher os cacos que ficam para trás.
Mas também era triste ver que
a moça não tinha amor próprio. Uma coisa é você sofrer por amor, ficar de
coração partido e tentar lidar como pode. Outra bem diferente é correr atrás de
alguém que claramente não te quer, só para ter o casamento de volta (e que não
deu certo, diga-se de passagem).
Quem acompanhou minhas atualizações de leitura
no Instagram, até se divertiu quando
eu falei que desejava saber onde Vanessa mora, só para dar de presente uns
álbuns da Marília Mendonça para ela (além de uns livros de autoajuda sobre
relacionamentos).
“Mas, enquanto ele estiver
com ela – a mulher que assumiu alegremente o papel da nova sra. Richard
Thompson enquanto eu me fazia de cega –, nunca vou ficar em paz.”
Ainda assim, a protagonista
se comporta como uma verdadeira stalker,
o que me faz questionar se ela realmente amava Richard ou apenas queria ter
posse dele. Constatar isso me deu ranço da mulher, que poderia muito bem ter
feito um acordo pomposo de divórcio e seguido a vida. Porém preferiu ficar sem
nada, para depois ter a desculpa de ficar imaginando o que estaria comendo ou
bebendo se estivesse casada com ele (a vá!).
No entanto, meu ranço por
Vanessa foi diminuindo ao longo das páginas. A moça precisa urgentemente de
terapia, isso é um fato. Mas também parece ter motivos para pensar tanto em
Richard. Isso porque diversos fragmentos de seu casamento vêm à tona, conforme
ela encontra pessoas de seu passado.
Pessoas essas que tem
informações importantes, as quais respondem à obsessão da moça. E é aqui que
parei de sentir raiva e passei a ser solidária e torcer por ela. Richard, por sua vez, era um
bom marido. Bonito, bem-sucedido, amoroso e atencioso a cada detalhe de
Vanessa. Fazia de tudo para deixá-la bem e confortável, mesmo com seus traumas
antigos.
A forma como faz isso pode
ser muito bonita para quem olha de fora. Logo, é bem fácil torcer para que ele
siga em frente e seja feliz com a nova esposa.
Afinal, foi Vanessa quem não
soube aproveitar o tesouro que tinha em casa. Contudo, é preciso reparar muito
bem nas sutilezas do comportamento dos dois para confirmar (ou não) quem está
contando a verdade.
Além disso, o rapaz parece
ter uma necessidade de cuidar de Vanessa com muito carinho e paciência, mesmo
após o divórcio. Entretanto, esse cuidado pode beirar facilmente a pena ou
psicopatia, dependendo do ângulo de você veja.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
A moça é desiquilibrada,
instável e perigosa até para si mesma. Com a narrativa apenas pelo
ângulo da protagonista, o tempo todo me vi tão iludida quanto ela, conforme
suas lembranças surgiam e juntava as peças. Já não sabia mais o que era
realidade ou memórias inventadas por alguém muito inteligente e sádico, aproveitando-se
de uma mente fragilizada.
“Isso
me parece irônico agora, porque eu só me cerquei de mentiras.”
A moça tem diversos motivos
(e convincentes o suficiente) para as atitudes que toma, agindo até de forma
fria e calculista. Me perguntei diversas vezes qual era a desses dois. Criei
várias teorias e não sabia se estavam realmente lidando com um divórcio de forma
quase pacífica, ou eles se mereciam e deveriam se lascar.
Além disso, a nova esposa
caiu de paraquedas no meio dessa confusão e fiquei com dó da mocinha, por não
saber no que estava se metendo. Porém, minha pena foi até a página dois, quando
ela começou a mostrar a que veio e que também era capaz de participar desse
jogo mesquinho.
Seja o casal principal, ou
mesmo os personagens secundários, todos têm segredos obscuros e perigosos,
capazes de enganar o leitor a cada virada de página. Fui feita de trouxa com
categoria e já não sabia mais quem era o verdadeiro vilão (se é que havia).
A trama te prende até a
última página e eu só queria saber o que de fato estava acontecendo e como iria
terminar. O desfecho, felizmente, trouxe uma resposta digna de um bom thriller psicológico. Fiquei de queixo
caído e sem saber como lidar com o que tinha em minhas mãos.
Senti agonia, medo, raiva e
muita tensão com esse livro. De modo especial, ao ler o motivo que levou Vanessa a estar onde está. Ainda assim, ler a história dela me lembrou de
diversas outras mulheres da vida real, as quais passam por situações semelhantes.
O que me deu mais revolta, por ver como são tratadas depois.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Falando sobre a obra em si,
eu gostei da edição mais simples. Porém, foi impressa em
páginas mais grossinhas e amareladas, o que facilita a experiência. A revisão
está bem feita e a fonte legível, o que também ajudou bastante. Além disso, a
escrita fluida das autoras funcionou bem para equilibrar a vibe tensa da própria trama. Isso foi maravilhoso e já quero ler
mais livros delas depois.
O saldo parcial do projeto segue assim:
Oi Hanna! Como comentei lá no Insta, eu gosto bastante da dupla e esse é meu favorito delas. Eu gostei de todos que li, mas esse segue em um lugar especial. Um que indico é No Lugar Errado, Na Hora Errada. Se conseguir, leia.
ResponderExcluirBjos!! Cida
Moonlight Books
Esse eu vou deixar anotado, pois gostei de conhecer a escrita das autoras.
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