Olá meu povo, como estamos? Bons detetives estão sempre trabalhando,
mesmo quando estão de férias em um paraíso. Hoje temos resenha de 'Um Mistério no Caribe', um clássico
da “rainha” Agatha Christie.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
60/24
Livro: Um Mistério no Caribe
Autora: Agatha Christie
Tradutor: Samir Machado de Machado
Editora: Harper Collins
Ano: 2020 (original em 1964)
Páginas: 208
Miss Marple está entediada em suas férias à beira-mar. O sol até ajuda com seu reumatismo, mas nada divertido acontece. Até que finalmente seu interesse é despertado pela história de um assassinato contada pelo major Palgrave, mas, justo quando ele ia lhe mostrar uma foto do homicida, se interrompe. No dia seguinte, ele é encontrado morto em seu quarto, sem nunca ter terminado a história. Sua morte, pelo que parece, é apenas o primeiro dos muitos mistérios que o Caribe apresenta...
Miss Marple está de “férias forçadas” no Caribe (quem me dera), após a
forte insistência de seu sobrinho. De acordo com ele, a tia precisava descansar
e sair de sua bolha, na cidadezinha de Saint Mary Mead.
A senhorinha, no entanto, está entediada. Afinal, não se tem muito o que
fuxicar (ops, investigar) em um paraíso, onde todos estão se divertindo.
Seus
dias se resumem a ir até a beira da piscina e fazer tricô, enquanto ouve outros
velhinhos falarem de seus tempos de glória; o que não lhe interessa tanto,
visto que boa parte parece até história de pescador.
Porém, um desses "causos" em especial lhe chama atenção. O major Palgrave
é o maior contador de aventuras entre os hóspedes (Forest Gump é fichinha perto
dele).
E, em meio a caçadas dignas de filme, descobertas de lugares insólitos e
figuras enigmáticas, eis que ele afirma ter conhecido um assassino de perto e
pode provar. Contudo, antes mesmo que fizesse isso, o idoso se interrompe sem
qualquer motivo aparente e deixa para terminar outro dia. Mas nunca conseguiu,
pois amanheceu morto em seu quarto.
Miss Marple fica chateada por não saber o final do “causo” (ninguém
merece fofoca contada pela metade, rsrs). E, mais do que isso, é coincidência
demais que o major tenha falecido de causas naturais logo após ter afirmado que
sabia de um fato perigoso.
Seu faro de detetive (fofoqueira) fala mais alto e a
senhorinha passa a procurar as pistas que apontem para o que seu novo e
falecido colega de viagem queria contar. Ela vai descobrir que certas coisas só
mudam de endereço.
“[...] Quando se envelhece, assim refletiu consigo mesma, a pessoa vai se dedicando mais e mais ao hábito de escutar [...]”
Que saudade eu estava de ler as obras da “rainha” Agatha Christie! Dei
uma parada, pois a autora tem uma bibliografia bem vasta e estou procurando as
edições em capa dura, conforme meu orçamento acompanha as promoções.
Quando a Harper Collins anunciou as capas novas, eu torci o nariz e
falei que não ia comprar. Achei que eram berrantes demais e eu queria as mais
antigas, que pareciam um quadro (algumas até tem spoiler no desenho, o que era engraçado). Mas paguei pela minha
língua quando vi a edição de ‘Um Mistério no Caribe’.
E também vi que pagaria pela minha língua uma segunda vez ao começar a
ler a trama. Mantendo o hábito, a narrativa é em terceira pessoa, para que o
leitor tenha uma visão ampla dos fatos.
Somos logo apresentados a uma Miss Marple entediada em meio a um paraíso
de águas cristalinas (tem gosto para tudo nesse mundo). Ela está incomodada
porque seu sobrinho insistiu bastante para que saísse de sua toca e fosse ver o
que o mundo poderia oferecer.
Embora tenha cedido, por gostar muito do rapaz e saber que só queria seu
bem, a verdade é que a senhorinha não quer ficar longe de sua zona de conforto.
Em seu cantinho, a protagonista já sabe de cor como resolver os disse-me-disse
e ainda é ovacionada como uma grande detetive. O que ela não iria conseguir no
meio de uma turma de desconhecidos, os quais mal lhe davam atenção.
Entretanto, mesmo sem vontade, sua boa educação permite dar ouvidos ao que
outro senhorzinho entediado e solitário tem a dizer. Major Palgrave é um velho
herói de guerra, sobrevivente de grandes aventuras (embora aumente uma parte
considerável para dar mais emoção) e só deseja alguém que lhe escute um pouco.
Seu único sucesso era quando anunciava ter conhecido um assassino de verdade e
poderia provar, através de uma fotografia.
“A gente nunca sabe. As pessoas fazem coisas ruins.”
Mas sempre se detinha na hora de mostrar a imagem e ficava a dúvida no
ar, se era apenas mais uma de suas falácias ou a única verdade no meio de
diversas ilusões. Miss Marple pensa o mesmo, até o momento em que o “dono do
conhecimento” morreu.
Aparentemente, o senhorzinho faleceu de causas naturais. O que seria
esperado, dada a sua idade e algumas doenças comuns a essa fase da vida.
Nada
no quarto sugeria o contrário, então logo o caso foi encerrado pela polícia
local. Porém, nossa fofoqueira profissional sabe que nada é por acaso e seria
muito azar o coitado morrer de causas naturais instantes depois de,
praticamente, testemunhar um crime.
Assim, ela começa a investigar e, quanto mais remexe na história, mais
segredos surgem. Todos no hotel passam a ser suspeitos. Cada um tinha motivos
suficientes para proteger seus maiores fantasmas do passado. E, de perto,
ninguém estava de fato feliz no paraíso.
Conforme lia, por mais que tentasse não criar teorias, foi quase
impossível não me ver conjecturando o provável culpado. Ainda mais conforme as
máscaras caíam.
No entanto, a autora mostrou, mais uma vez, o quanto seu título
de “rainha do crime” é merecido. Falhei miseravelmente em minhas ideias e fui
feita de trouxa “com categoria”.
“Acho que a morte só abala as pessoas por umas 24 horas e, então, não pensam no assunto de novo assim que o funeral acaba.”
Porém, mesmo gostando de ver mais um mistério elaborado, não foi tão bom
quanto eu esperava. O início é arrastado e se resume em uma velhinha que não
queria ter saído de casa. Isso nem é muito de se espantar, pois aqui em casa
minha mãe é do mesmo jeito (rsrsrs). Só sai porque eu insisto e olhe lá.
Outro fato curioso é ver que boa parte dos hóspedes já é conhecida de
longa data no hotel. Tim e Molly Kendal são um casal de empreendedores jovens,
que comprou o estabelecimento há pouco tempo.
Tentam a todo custo manter os
padrões dos proprietários anteriores, porém sem perder a identidade. Um fato
louvável, diga-se de passagem. Contudo, a forma como fazem isso é moderninha
demais para nossa protagonista da cidade pequena, que reclama o tempo inteiro.
Acho que, por mais que gostasse de sua vida pacata e tranquila em casa,
ela poderia ter se aberto um pouco mais às novidades. Teria se divertido
bastante e até enxergado as pistas com mais clareza, mas seu jeito fechado a
mudanças deixou as coisas mais lentas e chatinhas.
Entre os jovens, somos apresentados aos casais Lucky e Greg Dyson e
Edward e Evelyn Hillington. Embora sejam de países diferentes, mantém contato
constante e gostam de fazer viagens de aventura para o Caribe. Por se
hospedarem sempre no mesmo hotel, as fofocas rolam soltas em relação a eles.
“As conversas são sempre perigosas, se temos algo a esconder.”
Por sua vez, a turma de idosos é composta pelo solitário major Palgrave
e Mr. Rafiel. Enquanto um é um militar reformado e que só quer um pouco de
atenção, o outro é a versão masculina da Dona Anésia.
Apesar de ser chato e
extremamente mal-educado, mantém dois fiéis funcionários (santos) sempre por
perto: Jackson e Esther Walters.
Aos poucos, vemos a dinâmica de todos eles na rotina do hotel, assim
como suas reações diante da morte do major. Ninguém parece acreditar em Miss
Marple no início.
Afinal, o que uma recém chegada teria a dizer sobre fatos que
nem conhecia? Mas ela mostra que pode ser bem mais do que a velhinha do tricô e
deixa todo mundo de queixo caído, como sempre (rsrsrs).
Entretanto, eu ainda não li todos os trabalhos da “rainha”, mas posso
dizer que ‘Um Mistério no Caribe’ não está entre os meus favoritos. Achei um
mistério bem fraco e não me prendeu tanto em relação a outras obras dela.
O desfecho é “ok” e explica bastante coisa. Porém, pela primeira vez,
achei que ficaram faltando respostas. Os detetives (de verdade) são bons e
fazem um trabalho decente. No entanto, achei que eles eram tagarelas demais com
quem não devia, entregando quase todas as cartas na mesa.
Miss Marple é questionada o tempo todo por seus métodos nada
convencionais de resolver crimes. E, embora faça sentido, pois ninguém sabe que
ela tem essa veia investigativa, achei que a personagem passou por momentos
bastante constrangedores e desnecessários no decorrer da investigação.
Não apenas isso, em diversas cenas os personagens fazem comentários
racistas e machistas, como se fossem elogios ou piadas. Claro, o livro foi
escrito na década de 1960, quando a luta por direitos civis era muito mais
acirrada (embora ainda ache que pouca coisa mudou, mas enfim). Talvez se eu
estivesse naquela época, teria achado fantástico e nem ligado. Mas hoje em dia
me incomodou bastante, ficando constrangida por tabela.
A escrita é bem fluida e os revisores da Harper Collins melhoraram
bastante em relação às edições anteriores, contribuindo um bocado para minha
leitura mais rápida. Porém, tenho uma reclamação a fazer em relação a essas capas
novas, que são mais frágeis e desgastam a ponta pelo simples fato de você manuseá-las
para ler. O que é uma pena, pois a proposta das capas novas tinha, enfim, me
convencido.
A não ser isso, é um livro que recomendo, se você busca uma opção para
sair da ressaca ou para ler em um fim de semana tranquilo. Mas se busca
conhecer as obras da autora, aconselho outros títulos mais emocionantes.
E vocês, gostam das obras da Agatha? Qual é o seu favorito? Me contem
aí!
Já tinham lido esse livro, ou algum outro da autora? Me contem aí!
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Oi Hanna! Os livros de Poirot são os meus preferidos da autora, mas o meu favorito não é com ele, na verdade não tem nenhum dos protagonistas famosos dela. Eu tenho como favorito O caso dos dez negrinhos, minha edição é essa antiga, hoje ele é conhecido como E não sobrou nenhum. Mistério no Caribe eu li faz bastante tempo e não lembro muito dos detalhes, mas teve uma boa nota no final. Bjos!! Cida
ResponderExcluirMoonlight Books
Sim, eu vi que mudaram o nome do livro mesmo. Mas tenho vontade de ler o livro, mesmo assim.
ExcluirOi, Hanna. Tudo bem? Particularmente gosto bastante das obras da autora. Este aí eu não li, mas ao que parece existem outros livros melhores dela pra ler, né? Que bom que curtiu. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Pelo menos comigo, não funcionou como eu esperava. Mas pode ser que com você tenha uma nota maior, custa nada dar uma chance ao livro, haha.
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