Verônica e Enzo são calouros na UFI (Universidade Federal Interiorana).
A emoção do casal é grande, pois além de darem mais um passo na vida
profissional, estão prestes a caminhar no relacionamento quando iniciam a vida
a dois.
Contudo, a alegria dá lugar à surpresa, ao se depararem com a aura
peculiar de Lagoana. A cidade é pequena, onde todos se conhecem e mantêm
costumes conservadores.
Assim, é complicado lidar com a recepção nada agradável
a diversos forasteiros, que chegam a cada semestre para estudar na universidade.
A neblina e falta de sinal decente de celular dão um ar mais misterioso e
sombrio ao município, como se estivessem prestes a entrar em um filme de
terror.
No entanto, para Verônica, talvez seja mesmo uma espécie de trama
ameaçadora. Enquanto tenta escrever seu primeiro romance e seguir a mesma
carreira do pai, o famoso autor Andréas Cattani, a jovem busca inspiração nos
lugares mais inusitados.
Porém, quanto mais escreve e se vê envolvida com seus
personagens, esbarra em coincidências nada agradáveis sobre Lagoana.
Aos poucos, o que seriam apenas lendas urbanas de uma cidade pequena e
fonte de criação para um livro de fantasia, se mostra mais real.
Realidade e
devaneios se misturam e Verônica precisa saber até onde vão os limites de sua
sanidade, antes que seja tarde.
“Somos aquilo que absorvemos do mundo.”
O que falar sobre esse livro? Simplesmente estou sem palavras para
definir. Já seguia a Juliana Daglio nas redes sociais, porém nunca tinha me
aventurado em seus trabalhos.
Isso porque ela tem um estilo bem sombrio em sua
escrita e eu, medrosa que sou, precisava me preparar espiritualmente (rsrsrs).
Ao montar a TBR de outubro, resolvi que leria alguns livros mais
trevosos e pensei “por que não dar uma chance agora?”.
Escolhi ‘O Lago Negro’
por me parecer o mais palatável e que me daria menos medo, por ter um suspense
caminhando lado a lado com o terror psicológico. E posso dizer que foi uma
experiência incrível.
Com uma narrativa em primeira pessoa, vemos os acontecimentos pelo
ângulo da protagonista Verônica Cattani, mas também de Liam Velásquez, que cai
de paraquedas na história e marca presença.
A moça tem cicatrizes profundas do
passado, o que a torna mentalmente quebrada. A única pessoa que lhe entende é
Enzo, o rapaz com quem namora há oito anos.
O relacionamento é especial e único
para os dois, que estão prestes a dar mais um passo e terem seu “final feliz”,
morando juntos e estudando na mesma universidade.
“Não era como escrever um livro ou inventar um
enredo. Era como despertar uma história, de um profundo sono para a realidade.”
Mesmo com a receptividade nada simpática dos moradores de Lagoana, eles
conseguem um apartamento dentro do campus e tudo está às mil maravilhas.
Ou
quase, pois a jovem está empacada com seu livro há meses e nunca consegue
terminar, a fim de mostrar para Carlos Velásquez.
Tentando se equilibrar entre as atividades dos primeiros períodos de
graduação, ela tenta buscar inspiração para completar a trama e vai parar num
dos pontos mais hostis, o centro de Lagoana.
O que dá certo e a obra se
desenvolve muito rápido. Porém, não sem algumas peculiaridades bastante
estranhas.
Conforme conhece mais sobre a história local, percebe coincidências
impossíveis com sua criação. De modo especial, por serem praticamente lendas
urbanas e mais fantasiosas que seu próprio livro.
Contudo, são fatos difíceis de serem ignorados. A mente de Verônica fica
cada dia mais focada em descobrir o que de fato assombra os moradores mais
antigos da cidade.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Achei uma missão e tanto da autora ter uma protagonista que também
escreve. Isso porque acompanhamos não apenas a trama central, que acontecia nos
arredores da UFI, mas também o livro da personagem.
Só tive uma experiência
desse tipo e devo dizer que a Juliana merece meu respeito. Se escrever uma
história já é complexo, imagine um livro dentro de outro livro?!
“[...], escritores falam de menos, são doidos demais e bebem café exageradamente.”
Além disso, vendo os fatos pelo ângulo de Verônica, pude ficar mais
imersa no que se passava em sua mente perturbada, enquanto tentava lidar com as
novas descobertas e sua própria loucura.
Embora seja uma pessoa que já passou
por muita coisa ruim nessa vida, não consegui simpatizar com ela de imediato.
A protagonista é uma mulher com problemas, mas também é bastante chata e
eu tive ranço dela no começo.
Em especial porque passa quase o tempo todo
endeusando Enzo, como se ele ser seu namorado fosse um ato de heroísmo.
Junto a uma escrita mais lenta e densa, achei que iria abandonar a
leitura logo no início. Porém, algumas particularidades da trama me deixaram
tão curiosa que estava disposta a encarar a protagonista chata de galocha, para
ficar a par da “fofoca” de Lagoana.
Aos poucos, entendemos como o casal se conheceu e o desenrolar do
relacionamento, além do ponto de vista de quem está de fora. E, sinceramente,
eu concordo com a opinião de muitas dessas pessoas.
O rapaz é um príncipe encantado montado em um cavalo branco, mas apenas
pela visão da namorada. Eu achei que era um acomodado e tremendo babaca desde o
começo. Apenas reforcei minha ideia com o passar das páginas.
Embora Verônica fosse uma pessoa difícil de se lidar, até por conta de
questões psiquiátricas, não era o suficiente para defender as ações de Enzo.
No
fim das contas, ela poderia ser dependente de medicamentos tarja preta, mas era
ele quem precisava de umas sessões de terapia (e uns tapas bem dados na fuça,
para aprender a agir feito um homem de verdade).
A única pessoa que de fato entendia Verônica e a respeitava como merecia
era Carol, a veterana que a recebeu logo nos primeiros dias.
Apesar de serem completamente
diferentes no quesito personalidade (Carol é mais animada e colorida, enquanto
Verônica se esconde por baixo de roupas pretas e cara amarrada), a sintonia
dessas duas é instantânea e gostei bastante de ver o desenvolvimento.
“Mas a vida me ensinou muitas coisas, e a principal delas é não julgar
pelas aparências.”
A moça podia ser espevitada e alegre demais, mas também é esperta. Ou
seja, sabe quando deve ter uma postura mais altiva, defendendo seus ideais.
Ensinando,
assim, diversas lições para a protagonista e até para o leitor. Aplaudi de pé
diversas atitudes da personagem que, embora fosse secundária, brilhou no
momento certo e marcou presença dignamente.
A leitura se tornou mais fluida conforme acompanhamos alguns capítulos
do livro de Verônica. Aliás, diga-se de passagem, conseguem ser tão sombrios
quanto a própria cidade.
Talvez por isso ela tenha conseguido terminar de
escrever tão rápido, pois a atmosfera nebulosa (literalmente) ajudou nessa
missão.
Aos poucos, vamos vendo que ficção e realidade se misturam. Não apenas a
mente de Verônica, mas a minha também bugou e eu não sabia mais separar as
linhas de acontecimentos.
No entanto, em momento algum isso foi ruim. Muito
pelo contrário, estava mais imersa na leitura e precisava desatar esses nós
junto da protagonista.
O mistério continua, conforme conhecemos o próprio Carlos Velásquez e a
estranha amizade que mantinha com Andréas, pai da mocinha.
O professor é um
homem amargurado, como se carregasse o peso do mundo nas costas. E isso se
reflete em sua personalidade, nada fácil de se conviver, por sinal.
Entretanto, mesmo depois de descobrir o motivo de sua amargura e
melancolia, continuei achando o personagem arrogante e superior demais.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
O que,
embora seja fiel à realidade de muitos corredores de universidade (e tenho conhecimento
de causa), me deixou agoniada e com embrulho no estômago. Ver como ele tratava
a aluna só me deu ranço. Minha vontade era abraçar Verônica e mandar Carlos
sair com sua pose e ir pastar.
Não apenas o professor, mas também diversos outros personagens
secundários parecem contar histórias desconexas e sem sentido sobre o passado.
O que dá material suficiente para muitas teorias da conspiração e mexer com o
psicológico de qualquer pessoa. Imagine para Verônica, que já possui tendências
de criar suas próprias fantasias.
Assim, ela decide ir a fundo e investigar quem está falando a verdade no
meio de tantas mentiras. E aqui, posso dizer que fiz as pazes com a
protagonista. A jovem deu um show em
muito detetive por aí e ganhou meu respeito.
“Todos devemos ter ao menos uma chance de encontrar nossas respostas.”
Junto a Liam, formam uma boa dupla e nada passa batido por eles. É
incrível como um completa e equilibra o outro, de modo que não pareça forçado.
Contudo, apesar de ter gostado da química dos dois, não posso passar pano para
o cara que caiu de paraquedas e já quer ser o dono do terreiro.
Aliás, pensando mais a fundo, dá até para ver que realmente o rapaz é
filho de Carlos. Incrível como ambos são parecidos em todos os sentidos e só
fiquei com mais ranço da família Velásquez.
Porém, lendo alguns fatos pelo ponto de vida do personagem, pude também
ver o que se passava em sua cabeça e até entender suas atitudes. Mas ainda não
posso dizer que o apoio totalmente.
Ele é um rapaz de futuro, mas ainda precisa
aprender muitas coisas sobre a vida. De modo especial, que o mundo não gira só
em torno de seu umbigo.
A trama teve começo, meio e fim desenvolvidos de modo digno. O mistério
central me fisgou e eu terminei a leitura mais rápido do que o previsto.
Mas
não sem antes ter sido feita de trouxa. A autora conseguiu manter a aura de
suspense tão bem, que me peguei criando diversas teorias da conspiração e sem
saber o que era real ou delírio.
“Ah, o silêncio dos loucos é um trem desgovernado. O problema é quando a
luz vermelha de emergência é acionada...”
Todos os personagens, secundários e principais, tiveram um destino
aceitável. Porém, ainda existem pontas soltas de propósito, deixando um
gostinho do que virá no segundo volume.
Em relação ao livro em si, amo os trabalhos de diagramação da editora. A
capa está maravilhosa e traz o elemento principal da história, todo em tons de
roxo e dourado, que combinou de modo inesperado. A revisão também está de
parabéns e gostei bastante da experiência.
Resumindo, “O Lago Negro” foi meu primeiro contato com as obras da Juliana,
que me conquistou e já quero ler os outros títulos dela.
Oi, Hanna. Tudo bem? Particularmente gosto bastante das obras de Juliana Daglio. Já li muitos livros da autora e, gostei de todos que li dela até o presente momento. Pra mim ela é uma escritora talentosíssima, mas que, infelizmente não é valorizada como deveria. Certamente você irá gostar dos outros livros da autora. Que bom que gostou e, não deixe de conferir outros livros dela. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Olha só! Realmente não vejo muitas pessoas falando sobre os livros dela. Uma pena, pois gostei bastante e já quero ler outros livros dela. Aliás, em breve trarei outra resenha por aqui sobre essa trilogia, ^^.
ExcluirOi Hanna! Eu tenho muita vontade de ler algo da autora e este aqui, pelos seus comentários, me deixou bem curiosa. Eu vi que são três volumes e preciso reativar a minha assinatura no KU para ler. Dela tem o Lacrymosa também que tenho interesse. Bjos!! Cida
ResponderExcluirMoonlight Books
Eu gostei bastante, mas sim, essa é uma trilogia. Lacrymosa eu achei linda a capa, mas morro de medo do enredo, haha.
ExcluirOi Hanna, tido bem?
ResponderExcluirAinda não conhecia a autora. Me interessei por essa história e achei ótima sua resenha mostrando tanto os pontos que te agradaram quanto os que te desagradaram. Ajuda muito na hora que a gente vai começar uma leitura, principalmente já tendo ideia do que esperar pra não se decepcionar criando expectativas falsas.
Até breve;
Te espero nos meus blogs!
Mente Hipercriativa (Livros, filmes e séries)
Universo Invisível (Contos, crônicas e afins)
Que bom que gostou da resenha, Helaina. ^^
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