O que Elfie Faria? | Danilo Barbosa

em 24 setembro 2022

    Olá meu povo, como estamos? Para completar essa semana com uma overdose de literatura nacional, hoje trago a resenha do segundo conto da antologia ‘Tudo Fica Melhor em Musicais’, da Se Liga! Editorial.




O que Elfie Faria? | Danilo Barbosa
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna





49/24

Livro: O que Elfie Faria?

Autor: Danilo Barbosa 

Editora: Se Liga! Editorial 

Ano: 2021

Páginas: 45



Aberração.

Fernanda já perdeu a conta de quantas pessoas a olharam esquisito, apontaram os dedos e fizeram piadinhas preconceituosas sobre a sua aparência. Mas pensa que isso a deixa mal? Nada. A garota aprendeu a se fechar em seu mundinho e não se deixar abalar. No fundo, sabe que, como os musicais que ama, sempre há um final feliz além do arco-íris.

Sua principal inspiração para esse otimismo é a maravilhosa – e quase amiga imaginária – Elphaba, a dona da Broadway inteira, protagonista do melhor musical do mundo. E ai de quem discordar! Graças a ela, Fernanda sempre tem as respostas que precisa para dar a volta por cima. Quando as coisas ficam bem, mas bem complicadas, ela para, respira fundo e se faz a grande pergunta:

O que a Elfie faria?

Só que nada a preparou para o primeiro ano da faculdade de música e os desafios que enfrentaria. Novas pessoas para conhecer, um monte de matérias para estudar e uma colega de quarto que é completamente diferente do que imaginou. Toda certinha, popular e irritante, mas capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo.

Será que ela ainda consegue desafiar a gravidade?





O que Elfie Faria? | Danilo Barbosa




   Fernanda é uma moça que precisou lidar desde cedo com as mudanças em seu corpo. Não bastasse a cor de sua pele, ainda sofre de vitiligo, uma doença autoimune e possível de se conviver, se tomar os devidos cuidados.
   No entanto, a parte mais difícil é lidar com os olhares tortos das pessoas ao seu redor. Há quem reaja com nojo, outras com medo de tocar em sua pele, o que gera diversos momentos de desconforto.
   Sua forma de escapar da realidade é quando vê qualquer coisa relacionado a ’O Mágico de Oz’, um musical da Broadway que traz Elphaba, também conhecida como “Bruxa Verde” ou “A Bruxa Má do Oeste”. 
   Com uma história de vida parecida, Fernanda vê na personagem uma amiga fiel e confidente, ainda que apenas em sua imaginação. Sua paixão pela história infantil é tamanha que a moça aprende a cantar junto e faz da música sua profissão.
   Mas ela não poderia imaginar que, mesmo fazendo suas coisas favoritas, ainda enfrentaria o que mais temia: o mundo ao seu redor. Mesmo segurando firme na mão de Elfie, sua amiga imaginária, Fernanda vai conseguir lutar pelos seus sonhos?

 

"Cada um pode ser o que quiser. Só não podemos obrigar os outros a nos seguirem."



    Essa resenha será curtinha, pois se trata de um conto. Mesmo assim, não posso deixar de comentar o quanto me emocionou. 
   O segundo volume da antologia ‘Tudo Fica Melhor em Musicais’, tem uma versão “brazuca” de ‘Wicked’. O espetáculo retrata a vida de Elphaba, a “Bruxa Má do Oeste”, que vê sua pele se tornando verde de ciúmes e inveja da irmã.
   No conto, vemos os acontecimentos pelo ponto de vista de Fernanda, uma mulher que teve que aprender a conviver sozinha com o vitiligo. 


O que Elfie Faria? | Danilo Barbosa
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna




   Seu pai ficou viúvo muito cedo e foi muita informação no momento, já que era marinheiro de primeira viagem e precisava cuidar de duas meninas.
   Enquanto a irmã mais nova crescia bem e saudável, a protagonista atraía olhares curiosos e até invasivos de quem não entendia o que acontecia com sua pele. 
   Mesmo descobrindo o que era e tendo de lidar com a novidade, a mocinha não suportava ter que aturar as pessoas à sua volta. Por conta disso, criou milhões de barreiras e evitava todo tipo de convívio.  
   Foi nesse momento em que descobriu sua válvula de escape, ouvindo várias e várias vezes as mesmas músicas de ‘Wicked’ e fazendo de Elphaba (ou Elfie) sua melhor amiga, ainda que imaginária. 
   Apesar de solitária, a paixão influenciou em sua escolha profissional, já que Fernanda optou por cursar música e passou nos primeiros lugares para a turma de canto.
   No entanto, embora fosse um sonho realizado, não seria fácil morar longe dos pais e conviver com jovens que só apontavam o dedo para ela e agiam com mais preconceito ainda. 
   Apelidada de bruxa, esquisita, desengonçada e o que mais fosse possível, Fernanda alimenta um mau humor semelhante ao de Elfie.
   Lendo os acontecimentos pelo ponto de vista dela somente, não posso julgar as atitudes que tomou. Era apenas uma mulher que teve que se defender do mundo com as armas que possuía.
   Seu momento de paz era quando estava enfurnada nos livros e nas suas músicas favoritas, trancada no alojamento. 
   O que está ameaçado com a chegada de Cristina, uma bailarina que mais parecia ter saído do filme da Barbie.
   O encontro dessas duas não é nada civilizado. Enquanto Fernanda só queria ficar no conforto da solidão, a dançarina era o completo oposto e buscava a popularidade. Por conta disso, elas trocam farpas o tempo todo.


"Sempre fiz de tudo para ser a menina exemplar... Mas a vida tem suas pórpias maneiras de oferecer felicidade."


   Apesar do pouco espaço, gostei desse clima de briga, pois rendeu uns momentos cômicos ao longo da leitura. Ainda mais depois que entendi a mensagem do autor.
   Cristina é uma verdadeira patricinha. Cabelo sempre no lugar, maquiagem bem feita e vive com o celular ligado nas redes sociais. Por onde vai, as pessoas a cercam como se fossem seguindo sua luz.  
   Isso irrita Fernanda de uma forma impressionante, já que busca ser invisível, fazendo de sua doença um escudo para justificar o mau humor. Assim, é praticamente impossível conviver com alguém sempre feliz.
   O ponto de vista da moça só muda depois de uma festa, quando percebe que talvez as coisas não sejam como aparentam. Lá ela conhece Pietro, praticamente um deus de ébano, que não tem problemas em se aproximar.
   Fernanda passou muito tempo se escondendo do mundo e construindo uma fortaleza, achando que ninguém era bom de verdade. 
   E é um espanto que alguém queira ser seu amigo (ou até algo mais), sem se importar com o tom de sua pele, ou mesmo as peculiaridades.
   É muito legal acompanhar a jornada de aprendizado da moça, descobrindo que existem pessoas boas no mundo. 


"Pessoas boas e más vão existir em qualquer lugar."


   Assim como também sofri vendo como ela reagiu ao tentar lidar com sentimentos que mal sabia ser capaz de nutrir por outra pessoa.
   No entanto, devo dizer que passei raiva em diversos momentos com a ladainha da Fernanda de “o mundo me odeia” e “o mundo é cruel”. 


O que Elfie Faria? | Danilo Barbosa
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna





   Minha vontade era de entrar no conto e dar uns tapas na cara dessa mulher, mandar ela vestir logo um cropped e reagir, em vez de bancar a vítima da sociedade o tempo todo. Felizmente, Cristina e Pietro fazem isso muito bem, por sinal, ganhando uns pontos durante a leitura.  
   O desfecho é aceitável e digno de filme “sessão da tarde”. Porém, mesmo sendo previsível, é aquele final que você torce e fica feliz porque acontece. 
   Não assisti ao musical para comparar com o conto dessa vez, então não sei se teve mudanças muito bruscas em relação à obra. 
   Mas certamente teve licença poética com algumas reviravoltas, as quais não me lembro de ver nos filmes. O que posso dizer é que aqui você encontra representatividade do início ao fim, além de uma trama gostosinha e rápida de se ler.


"Em nosso mundo atual, a felicidade não era recomendada."


   Em relação ao livro em si, li a versão digital. Então, posso falar que a diagramação está muito bonita e a revisão bem feita. 


O que Elfie Faria? | Danilo Barbosa
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna




   Nunca havia lido nada do autor e gostei de conhecer sua escrita fluida e trama bem desenvolvida, com começo, meio e fim definidos, mesmo com menos de 50 páginas.
   A capa é objetiva, porém não simples. Traz a Fernanda e a Bruxa Verde de perfil, como se fossem duas personalidades de uma única pessoa. 
   O que de fato parece ser aqui. Em resumo, é uma leitura que recomendo, especialmente se você curte histórias baseadas em musicais.    










   Vocês já conheciam alguma obra do autor? Leram algum conto dessa antologia? Me contem aí! 















Obs.: Texto revisado por Emerson Silva 

8 comentários:

  1. Oi Hanna! Eu nunca li histórias baseadas em musicais e tenho gostado das dicas que você trouxe. Imagino a trajetória da protagonista, não deve ser fácil lidar com algo assim. O musical eu também não conferi, mas gostaria de ver antes de ler a obra. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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    Respostas
    1. Que bom saber disso, Cida, S2. Então fique ligada, que em breve trarei mais alguns musicais por aqui, =)

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  2. Oi, Hanna. Tudo bem? Que bom que curtiu. Li um livro deste autor e gostei da escrita dele. Este aí parece ser muito bom, né? Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  3. Hahhahha
    Amei essa resenha. Já passei raiva com vários personagens também e da vontade de entrar na história e sacudir a personagem.
    Vou ler com certeza.
    Beijos.



    http://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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  4. Oi!
    Já tinha adorado o conceito de contos inspirados em musicais na outra resenha e nesse já sou mais familiar com a inspiração, os personagens que não vestem um cropped irritam bastante né?

    Beijão
    https://deiumjeito.blogspot.com/

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