Fernanda é uma moça que precisou lidar desde cedo com as mudanças em seu
corpo. Não bastasse a cor de sua pele, ainda sofre de vitiligo, uma doença autoimune
e possível de se conviver, se tomar os devidos cuidados.
No entanto, a parte mais difícil é lidar com os olhares tortos das
pessoas ao seu redor. Há quem reaja com nojo, outras com medo de tocar em sua
pele, o que gera diversos momentos de desconforto.
Sua forma de escapar da realidade é quando vê qualquer coisa relacionado
a ’O Mágico de Oz’, um musical da Broadway
que traz Elphaba, também conhecida como “Bruxa Verde” ou “A Bruxa Má do
Oeste”.
Com uma história de vida parecida, Fernanda vê na personagem uma amiga
fiel e confidente, ainda que apenas em sua imaginação. Sua paixão pela história
infantil é tamanha que a moça aprende a cantar junto e faz da música sua
profissão.
Mas ela não poderia imaginar que, mesmo fazendo suas coisas favoritas,
ainda enfrentaria o que mais temia: o mundo ao seu redor. Mesmo segurando firme
na mão de Elfie, sua amiga imaginária, Fernanda vai conseguir lutar pelos seus
sonhos?
"Cada um pode ser o que quiser. Só não podemos obrigar os outros a nos seguirem."
Essa resenha será curtinha, pois se trata de um
conto. Mesmo assim, não posso deixar de comentar o quanto me emocionou.
O
segundo volume da antologia ‘Tudo Fica Melhor em Musicais’, tem uma versão
“brazuca” de ‘Wicked’. O espetáculo
retrata a vida de Elphaba, a “Bruxa Má do Oeste”, que vê sua pele se tornando
verde de ciúmes e inveja da irmã.
No conto, vemos os acontecimentos pelo ponto de vista de Fernanda, uma
mulher que teve que aprender a conviver sozinha com o vitiligo.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Seu pai ficou
viúvo muito cedo e foi muita informação no momento, já que era marinheiro de
primeira viagem e precisava cuidar de duas meninas.
Enquanto a irmã mais nova crescia bem e saudável, a protagonista atraía
olhares curiosos e até invasivos de quem não entendia o que acontecia com sua
pele.
Mesmo descobrindo o que era e tendo de lidar com a novidade, a mocinha
não suportava ter que aturar as pessoas à sua volta. Por conta disso, criou
milhões de barreiras e evitava todo tipo de convívio.
Foi nesse momento em que descobriu sua válvula de escape, ouvindo várias
e várias vezes as mesmas músicas de ‘Wicked’
e fazendo de Elphaba (ou Elfie) sua melhor amiga, ainda que imaginária.
Apesar de solitária, a paixão influenciou em sua escolha profissional, já que
Fernanda optou por cursar música e passou nos primeiros lugares para a turma de
canto.
No entanto, embora fosse um sonho realizado, não seria fácil morar longe
dos pais e conviver com jovens que só apontavam o dedo para ela e agiam com
mais preconceito ainda.
Apelidada de bruxa, esquisita, desengonçada e o que
mais fosse possível, Fernanda alimenta um mau humor semelhante ao de Elfie.
Lendo os acontecimentos pelo ponto de vista dela somente, não posso
julgar as atitudes que tomou. Era apenas uma mulher que teve que se defender do
mundo com as armas que possuía.
Seu momento de paz era quando estava enfurnada nos livros e nas suas
músicas favoritas, trancada no alojamento.
O que está ameaçado com a chegada de
Cristina, uma bailarina que mais parecia ter saído do filme da Barbie.
O encontro dessas duas não é nada civilizado. Enquanto Fernanda só
queria ficar no conforto da solidão, a dançarina era o completo oposto e
buscava a popularidade. Por conta disso, elas trocam farpas o tempo todo.
"Sempre fiz de tudo para ser a menina exemplar... Mas a vida tem suas pórpias maneiras de oferecer felicidade."
Apesar do pouco espaço, gostei desse clima de briga, pois rendeu uns
momentos cômicos ao longo da leitura. Ainda mais depois que entendi a mensagem do
autor.
Cristina é uma verdadeira patricinha. Cabelo sempre no lugar, maquiagem
bem feita e vive com o celular ligado nas redes sociais. Por onde vai, as pessoas
a cercam como se fossem seguindo sua luz.
Isso irrita Fernanda de uma forma
impressionante, já que busca ser invisível, fazendo de sua doença um escudo
para justificar o mau humor. Assim, é praticamente impossível conviver com
alguém sempre feliz.
O ponto de vista da moça só muda depois de uma festa, quando percebe que
talvez as coisas não sejam como aparentam. Lá ela conhece Pietro, praticamente
um deus de ébano, que não tem problemas em se aproximar.
Fernanda passou muito tempo se escondendo do mundo e construindo uma
fortaleza, achando que ninguém era bom de verdade.
E é um espanto que alguém
queira ser seu amigo (ou até algo mais), sem se importar com o tom de sua pele,
ou mesmo as peculiaridades.
É muito legal acompanhar a jornada de aprendizado da moça, descobrindo
que existem pessoas boas no mundo.
"Pessoas boas e más vão existir em qualquer lugar."
Assim como também sofri vendo como ela
reagiu ao tentar lidar com sentimentos que mal sabia ser capaz de nutrir por
outra pessoa.
No entanto, devo dizer que passei raiva em diversos momentos com a
ladainha da Fernanda de “o mundo me odeia” e “o mundo é cruel”.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Minha vontade
era de entrar no conto e dar uns tapas na cara dessa mulher, mandar ela vestir
logo um cropped e reagir, em vez de
bancar a vítima da sociedade o tempo todo. Felizmente, Cristina e Pietro fazem
isso muito bem, por sinal, ganhando uns pontos durante a leitura.
O desfecho é aceitável e digno de filme “sessão da tarde”. Porém, mesmo
sendo previsível, é aquele final que você torce e fica feliz porque acontece.
Não assisti ao musical para comparar com o conto dessa vez, então não sei se
teve mudanças muito bruscas em relação à obra.
Mas certamente teve licença
poética com algumas reviravoltas, as quais não me lembro de ver nos filmes. O
que posso dizer é que aqui você encontra representatividade do início ao fim,
além de uma trama gostosinha e rápida de se ler.
"Em nosso mundo atual, a felicidade não era recomendada."
Em relação ao livro em si, li a versão digital. Então, posso falar que a
diagramação está muito bonita e a revisão bem feita.
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Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Nunca havia lido nada do
autor e gostei de conhecer sua escrita fluida e trama bem desenvolvida, com
começo, meio e fim definidos, mesmo com menos de 50 páginas.
A capa é objetiva, porém não simples. Traz a Fernanda e a Bruxa Verde de
perfil, como se fossem duas personalidades de uma única pessoa.
O que de fato
parece ser aqui. Em resumo, é uma leitura que recomendo, especialmente se você
curte histórias baseadas em musicais.
Vocês já conheciam alguma obra do autor? Leram algum conto dessa antologia? Me contem aí!
Oi Hanna! Eu nunca li histórias baseadas em musicais e tenho gostado das dicas que você trouxe. Imagino a trajetória da protagonista, não deve ser fácil lidar com algo assim. O musical eu também não conferi, mas gostaria de ver antes de ler a obra. Bjos!! Cida
ResponderExcluirMoonlight Books
Que bom saber disso, Cida, S2. Então fique ligada, que em breve trarei mais alguns musicais por aqui, =)
ExcluirOi, Hanna. Tudo bem? Que bom que curtiu. Li um livro deste autor e gostei da escrita dele. Este aí parece ser muito bom, né? Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Eu gostei bastante, viu? ^^
ExcluirHahhahha
ResponderExcluirAmei essa resenha. Já passei raiva com vários personagens também e da vontade de entrar na história e sacudir a personagem.
Vou ler com certeza.
Beijos.
http://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
Então a gente se entende nesse quesito, haha.
ExcluirOi!
ResponderExcluirJá tinha adorado o conceito de contos inspirados em musicais na outra resenha e nesse já sou mais familiar com a inspiração, os personagens que não vestem um cropped irritam bastante né?
Beijão
https://deiumjeito.blogspot.com/
Que bom que gostou, ^^. Realmente, irritam um bocado, haha.
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